Um tanto quanto roxo

Nati Cabelleira
Agadê - Histórias Diferentes

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No meu espaço de trabalho sou minoria, sou uma entre alguns sexo opostos. Mas pensa em ser a maioria em momentos de argumentos relacionados a organização, não pela maioria concordar, mas por ainda perceberem que a minha percepção direcionada a limpeza é considerável, afinal, é a “mulher que entende”. Não me entenda mal, essa frase não é verbalizada, mas já estamos tão habituados a essas correlações de gênero que não percebemos no nosso dia a dia.

Pode ser tranquilo observar essas questões dentro de uma empresa ou em qualquer meio social, entretanto pelo olhar das feministas Beauvoirianas seria ainda uma construção, embora hoje, das relações de poder. Percebemos então que é tão enraizado esse modus operandi quanto.

A pouco vi um comercial na internet de uma marca de absorventes onde algumas pessoas estavam frente a uma câmera, entre estas mulheres, meninos e homens, para fazer movimentos e ações “como uma mulher”. Quando foram pedidos para correr, a corrida foi em trotes leves com os braços soltos e mãos na “posição da etiqueta a mesa”. Quando foram pedidos para arremessar como uma garota, o arremesso foi leve, sem vontade e pensando nas unhas. Enfim, a premissa da “fraqueza e frescura” da e na mulher foi o resultado em todas as ações, efeito esse nos meninos, homens e sim, nas próprias mulheres.

Do mesmo modo foi pedido a meninas de 8 a 11 anos para cumprirem os mesmos movimentos, essas realizaram as tarefas com força, determinação e senso de oportunidade de mostrar tudo o que podem e querem alcançar.

Este comercial nos mostra não só o sentimento de mudança ao longo da idade adulta, mas resultados de concepções do ser mulher falhos, que derivam para o nível pejorativo e ofensivo.

A questão que contemplei foi do como e onde, mesmo com as militâncias feministas e as lutas pelos direitos e ideias de igualdade, falhou? Ou não falhou, mas o sentimento de passos de formiga com reumatismo está presente quando olhei esse comercial.

Jorge Forbes, psicanalista paulista, costuma dizer que nos dias atuais estamos sem bula, pois perdemos o senso de direção e precauções, ou na minha opinião, nos enchemos delas, e por isso estratégias feministas falhas. A reflexão para o assunto não necessariamente teria de ser discutido apenas entre mulheres, pois nós entendemos e compreendemos o que se passa. Quem não entende é o homem, o qual nos constituímos ao seu lado para estar a mesma altura, dispostas até a fazer xixi em pé e coçar o órgão(?) (que seria interessante, desde que fosse opção atribuído ao seu desejo, e não uma ação vinda do pensamento construído de “cortaram meu falo”, mas sou igual a você) para reivindicar a aceitação sem nem ao menos nos aceitar.

Penso que o caminho é extremamente longo, e que a semente da igualdade foi o intuito equivocado. Pois na luta pelo alcance das opções e possibilidade do universo dos homens, quase quisemos/tivemos que ser “igual” a eles para conquistar e esquecemos que o desejo é que esteja em cima do salto ou com botinas, com batom ou sem batom, em casa ou no trabalho, as escolhas sejam em sua totalidade e sem amarras de peso em uma ou outra.

Link comercial: https://www.youtube.com/watch?v=mOdALoB7Q-0

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