O universo dos bares no Rio de Janeiro

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AGÊNCIA MULTIMÍDIA

6 min readApr 14, 2016

É tempo de crise no Brasil. Os ânimos exaltados evidenciam o acirramento das divergências políticas e jogam para escanteio qualquer discussão sobre futebol. As discussões, antes marcadas por bola-na-mão-ou-mão-na-bola, giram em torno de um impedimento nada corriqueiro. Em meio ao oásis de ódio, resta ainda um refúgio. Resta ainda um lugar no qual a última gota, a derradeira, responsável por fazer o copo transbordar, ainda é bem-vinda: o bar. O charme da espuma derramando parece ser imune aos conflituosos momentos da política.

Os botecos, pés-sujos, bares de paulista, de português, cervejarias, pubs, gourmets — seja lá qual denominação atenda ao paladar do leitor — se firmam como espaços dos mais democráticos para se curtir o final de semana. Dos mais baratos aos mais caros, os bares são sempre uma das principais opções para o carioca. Dentro de cada um deles, motivos diferentes atraem os visitantes. Os petiscos, a cerveja barata, a amizade com o garçom, o jogo de sinuca, os hambúrgueres personalizados; cada gênero de bar representa um universo diferente.

Tamanha variedade acaba fazendo da hora de escolha um momento de penúria. Com o intuito de ajudar o leitor a se decidir, promovemos um teste de qualificação dos botecos cariocas. As quatro categorias escolhidas, pés-sujos, bares de paulista, pubs e gourmets, serão dissecadas por ninguém menos do que seus próprios frequentadores.

PÉS SUJOS

Décadas se passam e eles continuam lá, firmes e fortes! Quase não mudam a decoração, cadeiras e mesas de plásticos, caixas registradoras, ladrilhos e aquelas clássicas churrasqueiras que ficam na varanda ou do lado de fora na calçada da rua, assando os grelhados. Esses estabelecimentos encantam e atraem os clientes pela simplicidade. Os fregueses anseiam pelos alimentos baratos, por jogar conversa fora e, obviamente, tomar aquela cerveja gelada. Estamos falando dos bares carinhosamente chamados de “Pés Sujos”.

Esses simpáticos estabelecimentos não se destacam pela beleza de sua infraestrutura ou comida sofisticada, um “pé sujo” que se preze permite que qualquer um que esteja querendo economizar uma graninha consiga beber de verdade. Em um boteco de verdade o que se encontra é cerveja barata e destilados dos mais perigosos que os clientes já ouviram falar. Esses locais são para os fortes!

Ao chegar a um “pé sujo”, não espere sabonetes líquidos, papéis toalha e espelhos para dar uma arrumada do cabelo antes de voltar para mesa. O banheiro, apertado, é extremamente funcional, serve apenas para a necessidade mais básica, urinar. A simplicidade do ambiente dá lugar aos clientes mais fiéis, verdadeiros amigos daqueles que trabalham no local. A relação é tão espontânea que não é raro ver a música ao vivo surgir da combinação de um pandeiro e um cavaquinho de pessoas que nem se conhecem.

Música de Pé-Sujo: https://open.spotify.com/track/2JktCygSJ8t478DLZPvqL3

DICAS: Pavão Azul (Copacabana), Bracarense (Leblon), Bar do Maciel (Engenho de Dentro), Bar do Omar (Santo Cristo), Meia Porta (Tijuca), Bar do Botafogo (Niterói), Bar da Cachaça (Lapa)

Entrevista bar pé-sujo

Pé-sujo em Botafogo

BAR DE PAULISTA

A velha rivalidade entre cariocas e paulistas fica de lado. Os bares de paulista são a opção perfeita para pessoas que não querem gastar muito dinheiro, mas desejam um lugar com mais opções. Alguns clientes, assim como nos pés-sujos, são figurinhas carimbadas no estabelecimento. No entanto, diferentemente do primeiro, dão mais valor aos quitutes do que à bebida.

Frequentadora assídua do Universo da Cerveja, na Tijuca, Flavia Araujo brinca com o número de vezes que já sentou naquele lugar para jogar conversa fora. “Aqui é como se fosse uma segunda casa. O João, garçom, já até trabalhou com meu namorado. Trago sempre meus amigos, comemos uma batata frita com calabresa e cebola, acompanhada de uma cervejinha e ainda rola um preço especial”, afirma a moradora da região da Praça Vanhargem.

Famosos por seus petiscos, esses bares não são tão preocupados quanto necessário com a limpeza. Os banheiros são mais limpos do que a maioria dos pés sujos, mas não chegam a se tornar ambientes dos mais agradáveis. A tarefa, por vezes, se torna um pouco mais fácil quando rola uma música ao vivo. Nove em cada dez músicos dos botecos de paulista só tocam MPB. Dizem as más línguas que eles também são capazes de estragar qualquer conversa.

DICAS: Sonho Lindo (Laranjeiras), Universo da Cerveja (Tijuca), Bar do Adão (Grajaú), Durangos (Botafogo), Big Point (Niterói), Geraldinos (Niterói), Escadinha (Tijuca)

Música de Bar de Paulista: https://open.spotify.com/track/02a8cGumnKuEPgoCzmalJp

Sonho lindo

BARES GOURMET

Metade bar, metade restaurante. Este é o conceito dos Gastrobares (também conhecidos como Bares Gourmet). Com o objetivo de unir a alta gastronomia, representada por seus pratos bem elaborados e ingredientes selecionados, à descontração mais informal e sem frescuras dos botecos, os gastrobares tem conquistado muitos clientes. Fatalmente, até pela logística, a interação entre clientes e funcionários ficaram mais distantes, diferentemente dos simpáticos “pés sujos”. Porém, os dois estabelecimentos carregam diferentes ideias. No caso ds bares gourmet, é possível ver uma dedicação maior tanto nos conceitos de higiene quanto nos pratos que estão a disposição dos clientes.

A presença de um chef de cozinha é o principal diferencial deste conceito, com relação aos outros bares. O chef é responsável pela criação de cardápios bem elaborados e variados, que podem ser encontrados em restaurantes finos. Porém, com a particularidade de serem servidos de uma maneira mais simples, podendo ser apreciados em um balcão e compartilhados com os amigos.

Uma porção de bolinhos de risotto, polvo com vinagrete de maracujá, ou ainda queijo camembert de cabra coberto por crosta de macadâmia e mel trufado, são exemplos de iguarias servidas neste tipo de estabelecimento. Essa é uma alternativa criativa para atrair um público que não está disposto a pagar os altos preços dos restaurantes de alta gastronomia, e não se sente muito à vontade em ambientes formais, mas gosta de saborear pratos bem elaborados. Usam-se técnicas de alta gastronomia, mas mantendo o “preço de bar’”

DICAS: Belmonte (Lapa), Boteco da Garrafa (Copacabana), Salve Simpatia (Niterói), Armazém 331 (Copacabana), Barsete Gourmet (Copacabana), Hora Extra Bar Gourmet (Vila Valqueire)

Música de Bar Gourmet: https://open.spotify.com/album/5JTyMJSVD4MslpnHBc6HHU

Ambiente musical de um bar Gourmet

Bar Spicy

PUB

Chegamos ao ambiente mais atraente da viajem. Pubs são bares inspirados no modelo irlandês e quase sempre tem ambientes extremamente estilizados. O modelo tradicional trazido da Europa sofre algumas modificações em terras tupiniquins, mas continua muito atraente. Normalmente frequentado por jovens, esses estabelecimentos trazem uma combinação perfeita entre o gosto refinado das cervejas mais caras e diferenciadas com a típica comida de lanchonetes americanas e australianas, como o Outback.

A iluminação baixa e o verde, marca irlandesa, são convidativos. Além da bebida e comida encontramos frequentemente mesas de sinuca e jogos de dardo. A noite nunca se resume ao conjunto mesa-cadeira. Ao fundo, quase sempre podemos escutar um Rock no rádio, música ao vivo não é a especialidade, mas também pode acontecer. Red Hot, Oasis e REM são algumas das bandas que sempre marcam presença nos alto falantes. Durante a semana isso vem acompanhado de doses duplas de cerveja, happy-hour e preços um pouco mais barato. Mas não se engane, os pubs são bem caros. Você não achou que o banheiro limpinho sairia de graça, né?

DICAS: Shenanigan’s (Ipanema), Lord Jim (Ipanema), Pub Escondido (Copacabana), BemDito (Niterói), Cafofo Pub (Tijuca), Big Bem (Botafogo)

Música de PUB: https://open.spotify.com/track/5qqabIl2vWzo9ApSC317sa

Shenanigan’s