Relatos de São Gonçalo: O perigo que não para de crescer

Yasmin Pires
AGÊNCIA MULTIMÍDIA
5 min readJun 16, 2016

“Eu estava voltando de Niterói por volta de 23:30 da noite, no ônibus Trindade, via BR. Na altura do Shopping de São Gonçalo, um dos assaltantes, que eram dois, levantou e rendeu o motorista com uma faca. De onde eu estava, deu para ver que ele o segurava pela camisa”.

Essa é só mais uma história relacionada a assaltos protagonizada por um morador de São Gonçalo nas últimas semanas, que estão cada vez se tornando mais comuns.

IGREJA MATRIZ DE SÃO GONÇALO DO AMARANTE

A vítima desta vez foi Amanda, uma jovem estudante de História na UFF, que estava voltando da faculdade, como faz todos os dias. A estudante conta que durante o assalto o motorista não cedeu às ameaças constantes do bandido para que parasse o ônibus, e enquanto isso os passageiros eram assaltados de trás para frente. “ A resistência do motorista, obviamente, não foi bem recebida pelo cara, que intensificou as ameaças e me deixou em pânico”, conta a jovem, que presenciou um final inesperado na situação. “ O fator surpresa em meio a isso tudo foi a presença de uma viatura da PM no local, que interceptou o ônibus. Os policias entraram e prenderam os assaltantes. Fomos obrigados a descer e pegar outro carro para Trindade”, finaliza Amanda, que teve a sorte do assalto não ter sido bem sucedido, porém deixando um rastro de medo nela e em todos os outros passageiros que estavam presentes.

Casos de assaltos na cidade de São Gonçalo têm sido frequentes. Pelo menos é a impressão dos moradores que sofreram com assaltos ou ouviram falar de crimes que aconteceram com seus amigos, familiares, ou perto de suas residências. É o caso do professor Raphael Frazão, que não sofreu nenhum atentado nos últimos tempos, porém ficou sabendo de dois casos com conhecidos recorrentes no mesmo dia.

“Um dos casos foi na Zé Garoto, em frente a Igreja Católica Matriz de São Gonçalo, na entrada para uma rua que sai na Brasilândia. Um amigo meu estava no carro com a namorada e a família dela. Eles pararam no sinal para entrar nessa rua, e quando eles perceberam o carro da frente estava sendo assaltado. Eles tentaram dar ré e seguir por outra direção, mas acabaram não conseguindo. Os bandidos escaparam, e logo depois apareceu a polícia”.

Segundo Raphael, eles comunicaram o ocorrido, mas a polícia disse que naquele momento não podia fazer nada pois tinham acabado de prender um outro ladrão de carros na mesma hora. “Eles estavam com o cara preso no carro, com a arma dele e tudo mais. Em menos de cinco minutos antes eles tinham acabado de prender um cara. Isso tudo por volta das oito, nove horas da noite”, completa o professor. Raphael relata ainda que no mesmo dia ficou sabendo de outro caso de assalto, um pouco mais cedo, por volta das sete horas, em frente ao Mauá. “Uma amiga minha passava de ônibus na hora do crime. Ela não entrou em detalhes, mas relatou que estava confuso e que houve tiros”.

Os casos de assalto em São Gonçalo têm sido cada vez mais recorrentes, e mais inesperados também, como foi o caso da Cíntia.

“Eu estava saindo de casa em um sábado, por volta de quatro horas da tarde. A rua que eu moro estava vazia, e tinha um carro estacionado, mas ali sempre tem carros estacionados, então não maldei. Quando passei ao lado dele, o motorista saiu e veio para cima de mim gritando “Vem aqui, vem aqui!”. Eu tentei fugir, ele agarrou minha bolsa e gritou “Solta, vagabunda!”, eu soltei, ele entrou no carro e foi embora”, relata a jovem.

O assaltante levou todos os seus documentos, seus óculos de sol e de grau, celular e um pouco de dinheiro. Cíntia ainda ficou com uma marca roxa no braço por causa da forma que o homem puxou a bolsa dela. Agora, a jovem, que mora no Mutondo, sempre olha bem a rua antes de sair de casa, para ver se está movimentada, e evita ir a academia durante a noite, para não voltar sozinha no escuro. Além de ter sido assaltada, Cíntia acredita que a violência em São Gonçalo tem aumentado bastante.

“Com certeza no meu bairro a violência aumentou muito de uns tempos pra cá. Antigamente minha rua era bem tranquila, mas agora se escuta casos de assalto quase sempre. Uma amiga, a vizinha dela e a tia, todas moradoras do Mutondo, foram assaltadas. Já soube também de umas três pessoas que tiveram seus carros roubados chegando ou saindo de casa, fora os tiroteios que escutamos toda semana”.

No Mutuá, também tem sido mais frequente a ocorrência de assaltos. Em um fim de semana, um bar foi assaltado por dois motoqueiros. Meia hora depois, aconteceu outro caso, nas mesmas proximidades, em que uma criança de um ano acabou sendo morta. O caso acabou repercutindo na mídia. Uma moradora da região afirma que o bairro também tem sofrido muito mais com assaltos nos últimos meses. “Esses dias mesmo eu presenciei uma abordagem na dezoito do forte. O sujeito dentro de um carro foi tirado pelos policiais civis, revistado e detido”.

Amanda também afirma ter a impressão de que a violência em São Gonçalo está a cada dia pior. “A violência tem aumentado muito. Só na minha rua, Aracaju, na Trindade, quase que diariamente sabemos de algum assalto. Uma grande parte é feita em motos. Eu mesma fui assaltada, só que no final de 2014, no portão de casa, por um motoqueiro.” Segundo a estudante a situação está a cada dia mais complicada, e não importa que você esteja localizado perto da polícia. “As coisas tem piorado muito. As pessoas reclamam que mesmo morando ao lado do sétimo batalhão, os assaltos são constantes”.

Para escrever esta matéria foram recolhidos depoimentos através do Facebook. Não foi difícil encontrar diversas pessoas com histórias recentes para contar. A situação em São Gonçalo parece realmente estar crítica. Inclusive eu, que escrevi a reportagem, fui assaltada recentemente. Era quatro e meia da tarde, dois bandidos entraram no ônibus 515, em frente ao Carrefour, no trajeto para Niterói. Quando o ônibus passava pela Contorno, um deles sacou a arma e então eles nos renderam. Um assaltou a metade de trás e o outro a da frente. Eu estava atrás. O assaltante sentou do meu lado enquanto eu procurava meu celular na bolsa. Ficou me apressando. O homem que estava armado, que assaltou a parte da frente do ônibus, estava muito nervoso, e não roubou apenas celulares, mas também cordões, alianças e outros objetos. Havia ainda uma criança no automóvel.

O detalhe é que na mesma semana que eu fui assaltada, meu pai também foi assaltado. Duas pessoas assaltadas em situações diferentes, que moram na mesma casa, em apenas uma semana. Realmente, a impressão é de que a estatística de crimes está crescendo.

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Yasmin Pires
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Página portfólio. Recém-formada em Comunicação Social na FACHA, apaixonada por cultura, entretenimento e tudo que faça o seu coração bater mais forte.