10 filmes e séries que, bem ou mal, retratam mulheres lésbicas

Uma seleção não muito fácil em uma lista não muito definitiva

Agência Camélia
agenciacamelia
7 min readAug 16, 2019

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Agosto é o Mês da Visibilidade Lésbica, data escolhida durante o 1º Seminário Nacional de Lésbicas que aconteceu em 1996. Aqui, a palavra-chave é “visibilidade”, afinal, como podemos lutar ou celebrar algo que não é nem visto? E se por um lado existe o apagamento de mulheres lésbicas até mesmo dentro dos movimentos feministas e LGBTQIA+ (e se você não conhece, esse vídeo maravilhoso da Lorelay Fox explica o que significa cada letrinha), por outro, há uma grande sexualização do relacionamento entre mulheres, e hoje nós queremos olhar sobre como as produções audiovisuais ajudam a combater ou a reiterar essas visões.

Conversamos aqui na Camélia e montamos essa lista juntas, são indicações de pessoas diferentes, com vivências diferentes e percepções muito pessoais sobre as produções. Para nós, essa lista tem filmes e séries que nos mostram a importância de uma data para a visibilidade lésbica, afinal, mulheres protagonistas já são raridade, mulheres lésbicas e protagonistas, então, parecem viver apenas em algumas produções mais alternativas e beeem longe do circuito comercial de filmes e séries.

1- Amores Líquidos, por Rô:
Por falar em produção alternativa, a Hysteria lançou neste ano o curta erótico “Amores Líquidos”, disponível apenas na plataforma da Erika Lust. O filme foi dirigido por Carol Albuquerque e Isadora Vieira, e tem o carnaval como pano de fundo. É um pornô que vem desse movimento que se propõe a produzir conteúdo erótico para mulheres, com respeito e seriedade para quem assiste e para quem produz. Em “Amores Líquidos” os movimentos, as pegadas, os olhares… tudo é bem orgânico. Na minha visão, a maneira como o curta retrata a masturbação feminina é muito poderosa porque traz a liberdade de se tocar com tesão, sem se prender aos tabus ou padrões estéticos que predominam nesse tipo de produção. É um filme corajoso na medida em que responde às mudanças sociais e, de alguma maneira, pode pressionar a indústria pornográfica a se modificar também.

2- As Filhas do Fogo, por Rô:
O road movie pornô argentino foi premiado em nada menos do que Bafici 2018, San Sebastián Film Festival, Festival de Roterdã, Festival do Rio e Festival Mix Brasil 2018. É um filme que quebra os padrões heteronormativos e conta a história de três mulheres que, vivendo um relacionamento poliamoroso, estão em busca de prazer, diversão e novas formas de se relacionar. Aliás, o que eu mais gosto na existência desse filme é o propósito dele existir: segundo a diretora Albertina Carri, ele foi criado porque existe uma falta de representação da subjetividade das mulheres lésbicas, e ela fez um esforço para trazer, dentro de um filme erótico e explícito, tudo que sempre foi invisibilizado e celebrar o nosso prazer. Em entrevista ao portal Hysteria, a diretora definiu o filme como “um gozo libertador”.

3- The L Word, por Rô:
Eu acho que essa série foi um marco importante no universo lésbico e no mundo num geral. Lançada em 2004, acredito que foi a primeira série com histórias de mulheres lésbicas retratadas de forma real, sem reforçar estereótipos negativos e sem as trazer como meras coadjuvantes. Até aquele momento, nem eu e nem ninguém que eu conhecia na época tinha tido contato com mulheres lésbicas adultas, não só na vida real, mas no cinema, TV, revistas, enfim, na mídia como um todo, então eu não conseguia tangibilizar como seria ter uma vida sendo lésbica. The L Word mostrou que que as lésbicas são apenas seres-humanos, pessoas vivendo sua vida como outra qualquer (olha que loucura, rs). Acredito que foi a primeira série (e não sei se existe outra nessa proporção) a ter protagonistas lésbicas e toda a narrativa ser focada nessas mulheres e suas vidas. E agora vai sair uma nova temporada, olhando para as questões mais atuais desse universo, chamada “The L Word: Generation Q”.

4- Carol, por Ju:
Eu nem sei como descrever direito, é meu filme preferido dentro dessa temática. Foi a primeira vez que vi essa inversão da história romântica, como se o que a gente sempre assiste nas telas entre homem e mulher pudesse ser finalmente traduzindo para uma relação entre duas mulheres. Mas é melhor e mais real, obviamente. As personagens são complexas e profundas. Além de todo o clima e fotografia do cinema, o sotaque de Cate Blanchett é a cereja do bolo.

5- Fora de série, por Ju:
Um filme mais recente, retrata na verdade a relação de duas amigas que estão para se formar no colegial, sendo uma delas lésbica. Pode não ser a principal temática do filme, porém é interessante a abordagem que mostra uma realidade confusa de uma menina que se descobriu recentemente e ainda não sabe como lidar com as situações românticas envolvendo outras mulheres. A outra amiga, nessa hora, serve como um pano de fundo divertido que incentiva e tenta ajudar a amiga com dicas, tornando ainda mais palpável essa inexperiência que muitos de nós vivenciamos quando estamos explorando nossa sexualidade.

6- Marcela & Elisa, por Ju:
Baseado em uma história real e produzido pela Netflix, o filme retrata com delicadeza os desafios de um relacionamento inaceitável entre duas mulheres espanholas. Foi o primeiro casamento lésbico da história oficializado pela igreja católica — Elisa finge ser um homem e casa com Marcela. As duas estendem a mentira por um tempo até a verdade vir à tona e elas terem que fugir para proteger seu amor. É inacreditável que a história tenha sido real mesmo, não é à toa que virou filme. Além das cenas muito delicadas do amor entre elas, a fotografia, toda em preto e branco, é linda.

7- Desobediência, por Ni:
Gosto desse filme porque ele tem duas mulheres protagonistas que se relacionam ainda jovens num contexto conservador judaico. Essas mulheres se reencontram num velório e precisam encarar sentimentos antigos e já adormecidos, como um bom drama lésbico poderia ser. Apesar de uma realidade muito distante para mim, o filme emociona e mexe com coraçõezinhos (mexeu com o meu).

8- Crônicas de São Francisco, por Ni:
Gosto de como a temática da sexualidade é abordada de forma natural. A série apresenta a temática LGBTQIA+ da cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, abordando muitos dos grupos existentes. Gostei de assistir uma produção que flutua nesses cenários sem focar na aceitação da sexualidade ou em explicar como funciona, mas pensando em abordar as nuances que existem dentro de relacionamentos, sejam eles amorosos, familiares, etc.

9- One day at a time, por Verô:
Essa série que está na Netflix conta a história de uma família cubana vivendo nos Estados Unidos, uma dramédia que aborda de tudo um pouco: imigrantes, alcoolismo, depressão, machismo e LGBTQIA+fobia. Uma das personagens é uma adolescente que está descobrindo sua sexualidade, e para quem, como eu, não teve essa vivência, a série pode ser um ponto de contato com a realidade não só da mulher lésbica, mas da jornada de descoberta da sexualidade que impacta o indivíduo e sua família. Eu assisto com um lencinho ao lado porque o chororô corre solto.

10- Friends, por Verô:
Não posso deixar de fora o casal Carol e Susan, que protagonizaram o primeiro casamento lésbico da TV norte-americana, em 1996. Bem, e se levarmos em consideração o contexto, foi um passo muito importante para a visibilidade lésbica, mesmo com todas as problemáticas envolvidas na representação das personagens (o que, aliás, se estende a praticamente todos os personagens ao rever a série nos dias de hoje, né?).

E para quem é de São Paulo, a nossa dica final é o CineDAS — Visibilidade Lésbica, onde toda terça-feira está rolando uma sessão de cinema com a temática sapatão. Aqui você encontra o evento e todas as informações.

Para expandir o assunto:

  • Nin Magazine, uma revista impressa de arte erótica;
  • Revista Brejeiras, uma publicação feita por e para lésbicas;
  • Pantynova, uma marca de produtos eróticos para que mulheres se sintam seguras, confortáveis e representadas.

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Feita por mulheres que acreditam na importância das conexões e na comunicação com afeto, que gere valor para marcas, contextos e pessoas.