#LeiaMulheres

Lista não-definitiva de escritoras que lemos e adoramos

Verônica Batista
agenciacamelia
7 min readJun 12, 2019

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Está rolando a Copa do Mundo de Futebol Feminino e, desde o primeiro jogo, somos impactadas com comentários que ressaltam a diferença entre o futebol jogado por homens e mulheres — não sendo raros aqueles que desqualificam o futebol delas em comparação com o deles.

Essa dificuldade que temos de assistir, prestigiar e apoiar o trabalho de mulheres não se restringe ao futebol. Quando olhamos para a arte, seja cinema, literatura, música ou qualquer outra expressão artística, vemos o mesmo estranhamento com produções feitas por nós, mulheres. E, de certa forma, isso é até compreensível: a história eurocêntrica e ocidental foi e ainda é contada por homens brancos, e, com isso, não estamos acostumados a ouvir, ver ou discutir narrativas contadas por qualquer outro tipo de pessoa.

Por isso que, aqui na Camélia, apoiamos o movimento #LeiaMulheres, a versão brasileira do #ReadWoman criado em 2014 pela autora britânica Joanna Walsh, e estamos há algum tempo prestigiando autoras em nossas leituras. E já que ler é uma paixão que compartilhamos internamente por aqui, resolvi trazer para o blog os livros que indicamos em nosso Instagram:

Arte: Julia Coppa

Mulheres que correm com os lobos

Um clássico de diversas bolhas feministas, escrito por Clarissa Pinkola Estés. A autora mexicana é psicanalista Junguiana e estudou por 20 anos o comportamento dos lobos e os comparou aos das mulheres, e com isso, observou semelhanças que se referem à dedicação aos filhos, ao companheiro e ao grupo. Porém, esses instintos mais naturais, que ela dá o nome de “Mulher Selvagem”, foram domesticados, sufocando todo o potencial criativo da alma feminina. Nos contos presentes no livro, a autora conta histórias que instigam a mulher a se ligar novamente aos atributos saudáveis e instintivos do arquétipo da Mulher Selvagem.

Arte: Julia Coppa

Outros jeitos de usar a boca

Uma obra sobre dor, amor, ruptura e cura, “Outros jeitos de usar a boca” é o livro de poesias de Rupi Kaur. Visceral e profunda, a poesia de Rupi transborda em nós apresentando todos aqueles machucados que conhecemos bem e, ao mesmo tempo em que faz a leitora ou leitor travar a garganta, estende a mão e mostra, com o mais belo lirismo, como tudo pode passar. Além das poesias, o livro também tem ilustrações da escritora, um acalento para as palavras fortes que ressoam por dias e dias.

Arte: Julia Coppa

Parte eu parte outro

Essa indicação de leitura vem de dentro — Grazi Shimizu, sócia da Camélia, é também poeta e das palavras criou um mundo mais florido. “Parte eu parte outro” é seu livro de estreia e conta com poemas que criam raízes profundas, versos tão potentes que nos fazem olhar para essa fronteira inconstante e indefinida que conectam com aquele outro. É um livro que mostra a importância do saber que o “eu” é feito da junção de tantos “outros” — um aprendizado cada vez mais necessário.

Arte: Julia Coppa

Sem vista para o mar

Também livro de estreia, dessa vez da escritora Carol Rodrigues, a obra é vencedora dos prêmios Jabuti e Clarice Lispector de 2015. É o tipo de livro que alimenta: alimenta a imaginação, com suas paisagens interioranas aquecidas por um agradável sol morno; alimenta a curiosidade, no prazeroso exercício de decifrar sua prosa tão próxima de poesia, com sua cadência rítmica que parece bailar pelas páginas; e alimenta a alma com a única certeza que fica ao terminarmos os vinte e dois contos: logo volto pra te revisitar, livro.

Arte: Julia Coppa

Tetralogia Napolitana (A Amiga Genial, História do Novo Sobrenome, História de Quem Vai e de Quem Fica e História da Menina Perdida)

Elena Ferrante arrebatou a equipe da Camélia, e escolher apenas um de seus livros é tarefa muito difícil. Mas a Tetralogia Napolitana é uma série de quatro livros que conta a história da amizade de Elena Grego e Lila Cerullo. Elena, a mais inteligente da turma, tem sua vida transformada por Lila, uma menina rebelde, filha de um sapateiro que chega à vizinhança pobre de Nápoles na década de 1950. Juntas, elas crescem e sonham com um futuro melhor, diferente da realidade das mulheres ao redor, entristecidas pela pobreza e pela rotina. A história já começa propondo uma profunda reflexão: se tudo desaparecer, a palavra escrita se torna guardiã da realidade, do passado. É a história escrita que materializa a nossa existência. Para nós, foi arrebatador.

Arte: Julia Coppa

Mate-me quando quiser

O livro de Anita Deak, “Mate-me quando quiser”, é dessas histórias que nos levam longe. No caso em específico, para Barcelona, numa história tão envolvente que é quase impossível prever o desfecho. A história começa com um postal: “Caro Soares, fico satisfeita que já tenha recebido todo o dinheiro. Em anexo, estão sua passagem para Barcelona e a minha fotografia. Abaixo, o endereço do hotel em que ficarei hospedada. Mate-me quando quiser, ou melhor, no dia que lhe convier dentro dos próximos quatro meses.” É um livro sobre a fragilidade da vida, sobre escolhas, sobre imprevisibilidade. É um livro que nos permite uma viagem no espaço — mais precisamente, nesse espaço entre o eu e o mundo.

Arte: Julia Coppa

De amor tenho vivido

Hilda Hilst é mesmo única na história da literatura brasileira. Foi homenageada na edição 2018 da Flip, é poeta, ficcionista e cronista, Hilda se dedicou a vários estilos da escrita com o mesmo grau de excelência. A poesia além da poesia e a inventividade são características marcantes em sua obra e vida. Sua escrita é profunda, uma busca incansável por Deus, segundo ela. Sexo, fragilidade dos laços, tabus, devoção e entrega. Sua personalidade, rotulada como excêntrica e polêmica, é na verdade o reflexo do olhar de uma mulher dedicada, questionadora, frustrada por não ser compreendida. Nunca se considerou esposa, dizia ter tido muitos namorados, falava de amor como quem conhece toda a pureza do sentimento, nunca foi mãe, mas em cada palavra escrita foi mulher. A vontade urgente de ser lida retratada em cada frase forte construída “Me fizeram de pedra, quando eu queria ser feita de amor”. “De amor tenho vivido” reúne 50 poemas de Hilda Hilst, com cores, formas e desenhos de Ana Gravito Prata.

Arte: Julia Coppa

Não está mais aqui quem falou

O livro de Noemi Jaffe reúne 40 crônicas, contos e poesias que nos falam sobre linguagem, literatura, ficção e realidade. Um exercício linguístico que nos chama para a conversa e começa com um pequeno conto-crônica-poesia-oração: “Tudo está nas palavras, inclusive eu e você”. É uma obra que se apresenta para nós de supetão com uma brevidade profunda que nos tira do aqui-agora na mesma velocidade que nos traz de volta. Mas é importante ressaltar: escolher um único livro de Noemi para destacar é um tarefa pra lá de difícil. Vale a pena ler a obra completa!

Arte: Julia Coppa

Um corpo negro

Lubi Prates é poeta, escritora e tradutora, autora do livro “um corpo negro”, contemplado pelo PROAC com bolsa de criação e publicação de poesia. Se dedica principalmente à ações que combatem a invisibilidade de mulheres e negros. Sócia-fundadora e editora da Nosotros Editorial, e editora da revista literária Parênteses, Lubi Prates cumpre seu dever de dar voz ao corpo negro, que ocupa o nosso país, historicamente construído por negros e negras, calados pela opressão, cuidada como cristal por quem aqui dissemina a cultura do ódio entre as raças, entre as classes, entre as religiões, desde o descobrimento. “Meu corpo é meu lugar de fala. E eu falo com meus cabelos e meus olhos. E meu nariz. Meu corpo é meu lugar de fala. E eu falo com minha raça”, é o que diz a mulher negra, que se descobriu. E Lubi, ao ocupar esse lugar, não é apenas uma mulher negra: é voz para milhares de pessoas também.

Essas são algumas de nossas dicas, mas a lista de escritoras que lemos e adoramos é muito muito muito grande, aos poucos vamos compartilhar outras indicações por aqui. Mas não deixe de procurar pela hashtag #LeiaMulheres no Instagram e Twitter para encontrar outras dicas de livros fodas de escritoras clássicas e contemporâneas.

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