O custo ambiental do Dia dos Namorados

Quando as datas comemorativas podem acabar custando caro demais. Baseada na matéria do Vox

Verônica Batista
agenciacamelia
4 min readMay 31, 2019

--

O quanto você reflete sobre as pegadas ambientais do seu consumo — de todo o seu consumo? Para o Valentine’s Day, o “Dia dos Namorados” do hemisfério norte, o portal Vox fez uma matéria sobre a produção e envio de flores, o presente mais popular e consumido na data, que nos inspirou para produzir esse texto aqui, uma adaptação+tradução livre+nossa visão sobre o assunto.

Em janeiro, a estimativa do setor era de que consumidores norte-americanos iriam gastar aproximadamente U$2 bilhões em flores, principalmente rosas, no Valentine’s Day. Para se ter uma ideia, apenas em Holambra, a “cidade das flores” no interior do Estado de São Paulo, no Dia dos Namorados de 2018 foram vendidos mais de 2 milhões de unidades.

A grande questão é que as flores consumidas nos Estados Unidos são plantadas aqui na América Latina, principalmente na Colômbia e Equador. Uma das explicações para essa exportação é o clima tropical dos países latinos, uma vez que estarmos em pleno verão em fevereiro, favorecendo o crescimento das plantas por aqui a tempo do Dia dos Namorados no hemisfério norte.

Mas essa não é a única explicação: a mão de obra por aqui é muito mais barata, além da indústria de floricultura ter sido amplamente beneficiada por um acordo com o governo estadunidense que buscava, originalmente, dar a esses países alternativas viáveis à produção de coca, planta utilizada para fazer cocaína.

Aviões de rosas

Entendendo esse contexto, podemos ir para a questão da sustentabilidade: como fazer com que essas plantas cheguem ao destino, causando o menor impacto ambiental possível e preservando as flores? Amy Stewart, repórter investigativa e autora do livro “Flower Confidential”, contou que elas são enviadas, majoritariamente, em aviões de passageiros. Aproximadamente 30 aviões fazem o trajeto Colômbia ou Equador para Miami todos os dias durante as 3 semanas que antecedem o Valentine’s Day, totalizando 15 mil toneladas de flores entregues em um mês.

Esses voos têm importantes consequências para o restante do planeta. Nos Estados Unidos, o transporte é o principal emissor de gases do efeito estufa, representando 28% das emissões totais do país, segundo a Environmental Protection Agency. O aumento da demanda por transporte aéreo no país, tanto para passageiros quanto para carga, colaborou para aumentar as emissões de gases ano passado, após anos de declínio.

Claro, a demanda pelas rosas não é a única culpada pela crise, mas o transporte necessário para atravessar flores pelo oceano cria uma rastro ambiental desproporcional: o International Council on Clean Transportation (Conselho Internacional de Transporte Limpo) estimou que as três semanas de voos consome em média 114 milhões de litros de combustível, emitindo cerca de 360 mil toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.

Esvaziamos símbolos de seus significados e transformamos simbologias em produtos

Uma vez em Miami, as flores precisam ainda ser despachadas para todo o país em caminhões refrigerados, que consomem ainda mais combustível do que os regulares. No entanto, isso não significa que o impacto seria melhor caso as flores fossem plantadas nos Estados Unidos. Como dissemos anteriormente, no hemisfério norte os primeiros meses do ano são inverno, época não muito favorável para o plantio. Se quiserem continuar dando rosas de presente no Valentine’s Day, os agricultores estadunidenses precisam criar estufas climaticamente planejadas, utilizando aquecedores e iluminação artificial por dias a fio. É difícil determinar se o cultivo das rosas no inverno superam os danos do transporte.

Mas por que amamos as rosas?

Toda essa grande interferência ambiental para plantar e transportar rosas tem origem cultural: para a Antiguidade, a rosa é símbolo de Afrodite e Vênus, as deusas do amor; e para o cristianismo, é um símbolo de Maria, a mulher que representa pureza e santidade. A grande questão é que, atualmente, esvaziamos símbolos de seus significados e transformamos simbologias em produtos que podem ser vendidos em massa.

Isso fica ainda mais evidente quando vemos uma pesquisa da Proteste que, entre os dias 25 e 31 de maio de 2019, visitou estabelecimentos comerciais do Rio de Janeiro e encontrou diferenças de até 200% no valor de buquê de rosas entre os estabelecimentos, sendo que a maioria deles afirmou que o preço do produto pode aumentar ainda mais para o Dia dos Namorados.

A data é também uma excelente oportunidade de questionar o nosso consumo, entender o que nos leva a tomar certas atitudes e, cada vez mais, procurar saber os custos sociais e ambientais dos produtos que consumimos e dos hábitos que perpetuamos. Demonstrar o amor através de simbologias é algo muito poderoso — e isso não precisa estar necessariamente vinculado a um consumismo irrefletido.

Para expandir o assunto:

● O episódio 197 do podcast Mamilos, Mudanças climáticas na sua vida, para entender um pouco mais sobre o impacto ambiental de ações políticas.

● A série documental Nosso Planeta, disponível na Netflix, que traz imagens poderosíssimas sobre as consequências das mudanças climáticas.

--

--