Forming, storming, norming…Porque saber a fase do seu time importa?

Débora Petry
Insight
Published in
5 min readFeb 27, 2018

Pesquisas sobre trabalho em times não são algo recente. Um dos trabalhos mais famosos foi publicado em 1965 pelo psicólogo Bruce Tuckman. Foi proposto um modelo sobre crescimento e desenvolvimento de times que é utilizado até hoje. O autor defende que nenhum time performa bem no seu início — vai levar algum tempo até que o time deixe de ser um grupo de estranhos trabalhando juntos e se transforme em um grupo com objetivos em comum.

O autor descreve o seu trabalho desta maneira:

“The collection contained 50 articles, many of which were psychoanalytic studies of therapy or T-groups. The task of organizing and integrating them was challenging. (…) I began to look for a developmental sequence that would fit the findings of a majority of the studies. I hit on four stages going from (1) orientation/testing/dependence, to (2) conflict, to (3) group cohesion, to (4) functional role-relatedness. For these I coined the terms: ‘forming,’ ‘storming,’ ‘norming,’ and ‘performing’”.

O artigo original, “Developmental sequence in small groups”, propõe os seguintes 4 estágios:

Forming: Nesse estágio, os membros do time estão conhecendo uns aos outros e também o trabalho a ser feito. As pessoas agem de forma positiva, polida e respeitosa uns com os outros, refletindo um desejo de ser aceito pelo grupo. Existe uma busca ativa por informações sobre o trabalho e sobre os colegas. Alguns podem se sentir ansiosos, outros engajados. Líderes são vitais nesta fase; é necessário oferecer direcionamento e ajudar cada uma das pessoas a encontrar o seu espaço no grupo.

Storming: Nesta fase, as pessoas começam a compartilhar os seus pensamentos e sentimentos. Daí vem o nome desta fase — é muito comum haver conflitos, o que pode acabar causando ansiedade e frustração. A atuação é mais individualista do que coletiva. As lideranças podem ser questionadas. Além disso, as pessoas podem ser sentir estressadas por não ter com quem dividir suas angústias, já que amizades ainda não foram firmadas, e elas ainda não tem um processo bem definido para servir como guia. Apesar de ser uma fase necessária para todos os times, é nesta fase que observamos o maior número de falhas.

Norming: Esta é uma fase mais pacífica, na qual as pessoas começam a ver os pontos fortes umas das outras e aumentar a confiança. Trabalham como um grupo e se comprometem com o objetivo comum. Papéis e responsabilidades estão claros. Infelizmente, é comum termos times oscilando entre as fases de Storming e Norming.

Performing: Este é um estágio de alta produtividade; o ambiente é o melhor possível, sem conflitos e o processo está bem estabelecido. Líderes podem focar na carreira das pessoas ao invés de ajustes de processo e resolução de conflitos. É muito bom fazer parte de um time neste estágio; pessoas entrando e saindo não afetam a produtividade. Infelizmente, nem todos os times atingem esta fase.

Adjourning: Em 1977, Tuckman e Mary Ann Jensen adicionaram mais esta fase a seu modelo. É o momento de encerramento do time, onde as pessoas são desalocadas e movidas para outros times. Pode haver sensação de tristeza pelo afastamento de colegas e amigos, assim como pela perda da rotina em algumas pessoas. Além disso, as pessoas estão ansiosas para saber o que o seu próximo papel lhes reserva. Usualmente existe um reconhecimento pelo trabalho que o time executou.

Bom, esta é a teoria. Mas, como aplicá-la? Como isso pode me ajudar no meu trabalho em um time ágil?

Eu recomendo o seguinte:

1. A busca pela fase

Primeiro, reflita sobre qual a fase em que o seu time se encontra nesse momento. Anote todos os fatores que levam você a essa conclusão.

Pergunte-se: O time está parado na mesma fase há muito tempo?

O time tem mostrado instabilidade — muitas idas e vindas entre 2 fases?

O time apresenta uma boa autoconsciência sobre ele mesmo? A fase que eles pensam que estão é a mesma percepção que pessoas externas tem?

Estas respostas vão fornecer as bases do plano de ação necessário. Cada time é um time; evite pensamentos que podem levar ao erro, como “este time já tem 2 anos, deve estar em Storming”. Tempo não é determinante aqui. Leve em consideração o histórico do time; as pessoas; o ambiente da empresa.

2. A hora da mão na massa

Promova um brainstorming no seu time. Apresente esse vídeo, explique as fases, deixe clara a importância. Isso pode ser facilmente convertido numa técnica de retrospectiva:

  • Crie placas com as 4 fases de Tuckman e uma breve descrição de cada uma;
  • Cole as 4 placas em um quadro e peça ao seu time para pensar em que fase eles acham que o time está, e porque. Este motivo deve ser colado na placa correspondente à fase.
  • Vá passando fase por fase e lendo os post its que se encontram nela, caso haja algum.
  • Na fase que tiver mais post-its (=motivos), promova uma discussão para que o time chegue a uma unanimidade sobre se essa é a fase atual do time. Apresente os seus motivos e conclusões, também.
  • Por fim, peça à eles para pensar em itens de ação para fazer o time caminhar em direção a próxima fase. Anote os itens, não esquecendo de adicionar owners e datas de conclusão para cada um deles.

Tenha a certeza de que os itens de ação seja cumpridos. Se necessário, ajude os donos dos itens de ação a fazer acontecer. Com isso, o seu time estará trocando de fase muito mais rápido do que seria a velocidade esperada. Depois de alguns meses, quando houver mudanças visíveis, promova uma nova avaliação. Você vai perceber que isso melhora também a motivação do seu time! Não há time que não goste de saber que está avançando e quais são as próximas etapas em seu crescimento.

--

--

Débora Petry
Insight

Agile and product management enthusiast. Loves to travel and hopes to own a thousand cats someday.