A luz que nos faz respirar

Agui Melo
Aguinaldo Melo
Published in
3 min readDec 20, 2015
A luz nasceu para não ser notada. (Rodion Kutsaev —Stocksnapio).

Após uma longa semana e uma longa sexta-feira de trabalho, chego em casa pensando o que iria fazer para desligar a cabeça durante o final de semana. O calor prometia um sábado e domingo de muito sol.

Saio do carro com a cabeça distraída. Aperto o botão do elevador e escuto um som estranho, era o interfone, me chamando para dar a má noticia.

A Tati Melo pegou o interfone e atendeu. Nosso porteiro e anjo da guarda, Justino havia ligado para dar a notícia para ela. De forma confusa eu ouvia as respostas da Tati e imaginava: Pegou fogo no apartamento… Será que fomos roubados?

O elevador chegou, a Tati desligou o interfone e disse: “Nossa luz foi cortada”.

Não reagi direito à aquela informação. Não sabia se sentia raiva ou sentia desgosto.

Naquele momento queria encontrar um culpado, mas o culpado era nós mesmos e o sistema do banco que se esqueceu de debitar automaticamente as contas.

Entrei em casa meio atordoado, como se tivesse com falta de ar. Fui direto para o quarto em direção a uma lanterna. Queria achar as contas de luz, mas não sabia muito bem onde elas estavam.

Olho para a tela do celular e me sinto aliviado por a bateria estar aos 80%. — Ufa! Posso ligar para a companhia de energia.

Após receber o prazo de 24 horas para o religamento, começo uma maratona para garantir que os alimentos da geladeira não se estragassem. Sabia que à partir daquele momento eu deveria manter a geladeira fechada e rezar, pois haviam se passado quase 8 horas, e eu teria mais 24 pela frente.

A luz no fim do túnel — Rodin Kutsae(stocksnapio.)

O computador e as baterias externas mantiveram o celular funcionando. Mas sabia que ele era para ser usado o estritamente necessário. A casa fazia um silêncio único.

Naquele sábado eu abri um livro, coisa que não fazia há muito tempo. Naquele sábado deitei na rede e deixei minha mente relaxar e curtir o silêncio. Algo que eu não lembro a última vez que eu fiz em minha casa.

Algumas horas depois, um apito me avisou que a luz estava de volta. Imediatamente, o ventilador começou rodar e silêncio havia partido.

Eletricidade não é como oxigênio. Mas hoje, o nosso fogão não acende se não estiver ligado na tomada, nosso chuveiro não sai água se não houver energia, nosso telefone não fala.

As minhas 24 horas serviram para lembrar do real valor da eletricidade. Serviram também para me lembrar que existe muito mais na vida do que ficar olhando para uma tela azul.

Amanhã, mesmo com eletricidade, abrirei novamente um livro. Afinal ficar 24 horas sem luz ressaltou o que de importante temos na vida.

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