Refúgio em busca de dignidade

Agui Melo
Aguinaldo Melo

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Ninguém sai de seu lar, do conforto, da estabilidade por conveniência. Sair de da sua terra natal é como amputar um pedaço de si.

Em agosto de 2018 uma massa de venezuelanos fugiu de sua terra natal em busca de um novo lar, de uma terra segura. No episódio, aquele povo não fugia do horror da guerra, mas da dor da fome, da miséria.

A fronteira entre Brasil e Venezuela, mais especificamente a pequena cidade de Pacaraima era um dos pontos nefrálgicos desta migração em massa. A cidade que no passado vivia do turismo, agora vivia da desgraça, do desespero.

Para quem vinha de Boa Vista, a capital do estado em direção a fronteira via centenas de pessoas arrastando pequenas malas de viagem. O trajeto de 180 quilômetros entre as duas cidades era desprovido de locais para beber, comer ou dormir. A esperança para aquelas pessoas estava no fim daquela estrada interminável. I

Em Pacaraima a tensão era possível ser sentida no ar. Os venezuelanos se amontoavam em frente de prédios abandonados, caminhavam pelas ruas da cidade, sem destino.

As ruas eram silenciosas, ao mesmo tempo a energia do desespero de quem não tinha mais lar estava nos olhos de cada venezuelano daquele lugar.

Ao entardecer a sensação era de insegurança. Sob o teto da rodoviária da cidade as pessoas dormiam amontoadas entre malas, ali estava a sua história, todos os seus bens, o que restou de seu passado. Nas esquinas da região central algumas mulheres tentavam ganhar algum dinheiro se prostituindo. Toda aquela energia, o desespero, a desolação formavam um quadro doloroso e difícil de se entender.

Na época, as organizações humanitárias se desdobravam para aliviar esta dor. Os abrigos eram a tentativa de dar uma noção de lar naquela terra devastada. Ali era possível comer, beber, tomar banho. Mas não eram suficientes para todos.

Ao retornar de Pacaraima para São Paulo com centenas de fotografias e vídeos, procurei uma dezena de jornais para oferecer aquela história. Aquilo era aterrorizador e merecia ser mostrado para outras pessoas, mas naquele momento havia uma eleição, uma grave polarização ideológica. Não havia interesse de mostrar pessoas morrendo de fome, vivendo em uma situação desesperadora, mesmo que isso estivesse acontecendo dentro do território brasileiro.

Ninguém foge do país por uma simples conveniência. Os refugiados merecem respeito e uma acolhida decente. Digna da nossa humanidade.

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