Japoneses surpreendendo no skate olímpico
Tenho certeza que você esperava medalhas de ouro japonesas no caratê, judô… Tudo menos no skate.
O esporte que estreou nos jogos de Tóquio teve um domínio impressionante dos skatistas japoneses. Foram três ouros, no street feminino e masculino, e no park feminino.
Apesar de poucos associarem o Japão ao skate, o país carrega uma história com mais de 40 anos de admiração e de skatistas anônimos que dedicaram sua vida ao esporte.
Nas periferias das grandes cidades japonesas, skatistas cultivaram a cultura do esporte que nasceu na Califórnia, muito pela influência cultural dos norte-americanos. Esta geração criou a base para termos esta explosão de medalhas em Tóquio.
Os japoneses são conhecidos pela perfeição nas suas manobras, isso se dá muito devido ao clima japonês e aos skatistas serem obrigados a passarem parte do ano andando em pistas cobertas, repedindo os movimentos centenas de vezes em um número limitado de obstáculos.
Mas houve também um investimento pesado do comitê olímpico japonês. Desde 2017, legiões de japoneses viajaram para competições internacionais em todo o mundo. Os dez skatistas inscritos em Tóquio são apenas uma fração do potencial do país.
Hoje, além de uma forte cultura do esporte, podemos dizer que o Japão possuí alguns dos melhores competidores de skate do mundo. A quantidade de medalhas em Tóquio é uma prova deste trabalho que apenas está começando.
Vídeo: A história do skate no Japão
O epicentro do skate continua sendo nos Estados Unidos.
Hoje 80% dos medalhistas em Tóquio moram no sul da Califórnia. Brasileiros, japoneses, finlandeses, entre outros vivem no estado norte-americano, local onde estão instalados a maioria das empresas fabricantes de pecas de skate. É importante dizer que além do skate de competição, existe uma multidão de skatistas que investe em carreiras alternativas, muitos desses skatistas são tão bons quando os medalhistas em Tóquio, mas apenas seguiram um outro caminho. Impossível em outros esportes Olímpicos.
Um brasileiro já foi ouro e prata no Japão
Na década de 90, Sidney Arakaki foi o primeiro skatista brasileiro a competir profissionalmente no Japão. Filho de japoneses, Sidney se mudou para o país no boom econômico da década de 90, apaixonado por skate, Sidney rapidamente se inseriu na cena local, vencendo competições e conquistando patrocinadores internacionais.
“Na época as competições japonesas já seguiram a tradição organizada do país,” explicou Arakaki. O skatista não consegue explicar exatamente os fatores que levaram a uma evolução tão rápida do Japão, mas aponta um caminho: O snowboard — Esporte de neve com prancha tem muitas similaridades com o skate e alguns japoneses como medalhistas Olímpicos de inverno. A influência Ayumu Hirano, duas vezes medalha de prata em Olimpíadas na cultura do país é impressionante.
Sidney atuou como tradutor da seleção japonesa durante o mundial de bowl de São Paulo, em 2019, e viu de perto a determinação e a disciplina das skatistas japonesas. Muito antes dos jogos de Tóquio era nítido que as japonesas seriam protagonistas no bowl.
Vídeo: O que podemos esperar dos japoneses para as próximas Olimpíadas
Um novo capítulo na história do skate
As Olimpíadas mostraram um novo skate para o mundo e para nós skatistas. Vejo o skate após Tóquio seguindo múltiplos caminhos. O skate competitivo será cada vez mais especializado, com toda uma estrutura por trás dele. Neste skate veremos cada vez mais caras novas. Certamente ele fará como que o esporte evolua. Se o Brasil quiser se manter no pódio do esporte, ele terá que investir e acreditar. O modelo japonês é prova viva disso.
