Sol e a seca do sertão chamado Brasil.

Agui Melo
Aguinaldo Melo
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2 min readMar 8, 2017
Desempregados caminham em busca de uma oportunidade em zona industrial de São Paulo

Sob um sol escaldante, Marisa caminha pelo acostamento em uma avenida esburacada e sem calçadas na divisa entre São Bernardo e Diadema.

Ao entrar em uma loja de conveniência em um posto de gasolina sorri e pergunta: “Posso deixar um currículo? “

A atendente do posto, sem pensar muito responde: “O dono não costuma contratar mulheres como frentista, mas ele possuí muitos outros negócios”.

Marisa outra vez sorri. A chapinha em seus cabelos, feita naquela manhã, mostra a importância daquela busca. Nos seus olhos vejo um olhar de humildade, como se naquele papel estivesse escrito muito mais que suas qualificações profissionais. Mas a esperança de dias melhores.

Ao sair do posto, Marisa continua sua peregrinação pelos acostamentos esburacados de Diadema. Logo acima, na portaria de uma empresa, Joana desce do carro do marido carregando uma pasta. Na porta da empresa pergunta se pode deixar o currículo. De forma ríspida, o segurança da empresa lhe orienta a acessar o site da empresa. Neste caso, Joana sequer pode deixar o seu pedido de socorro.

Esta cena acontece há exatos dez meses do governo de Michel Temer, em uma terça-feira que a FGV (Fundação Getúlio Vargas) anuncia que o país atinge sua pior recessão desde 1947.

A queda do PIB (Produto Interno Bruno) em 2016 foi 3.6%, o índice vem marca a sequência de dois anos negros na economia do Brasil, em 2015, a queda foi de 3.8%.

Assim como Joana e Marisa, muitos outros perambulavam por aquela estrada em busca de emprego. Não existe teoria econômica ou sociológica que me faça entender o fato de um cidadão querer ser produtivo, querer pagar impostos, ser útil ao seu país e simplesmente não poder.

Voltando para 2015, um dia antes da presidente Dilma fazer as malas, o então futuro Ministro da Fazenda Henrique Meireles dizia que tão logo Temer assumisse a presidência, ele já começaria a arrumar a casa e que o país voltaria a crescer.

Experiente , Meireles sabia que o país precisava daquela injeção que otimismo, mas me pergunto: O que deu errado? O que faltou para o experiente economista que já havia sido ministro do governo Lula e presidente mundial do Bank Boston consertar a nossa tão estimada economia?

Enquanto a casa está em frangalhos, Marisa e Joana, ao lado de mais de 10 milhões de brasileiros, continuam a peregrinação em busca de uma fonte de renda para nutrir suas famílias.

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