Um dia andando de skate, enquanto a seleção de futebol jogava na Copa da Rússia.
Após ter trabalhado em duas Copas no Mundo e estar no olho do furacão, agora, estou bem distante do futebol. Assim, de longe, escolhi assistir o jogo da seleção brasileira.
Nove da manhã eu já estava em um ónibus, a caminho do centro de São Paulo. Apesar de ser o epicentro das pessoas que vão para as ruas assistir jogos da Copa, ali seria perfeito para deslizar com meu skate pelas ruas desertas do centrão.
Transitando pelo centrão vejo pessoas aglomeradas em frente a bares e restaurantes. Muitos já estavam ali para trabalhar e o jogo foi apenas uma pausa no dia.
O primeiro pico, o Pátio do Colégio estava vazio como se fosse um domingo. Dali descemos até o viaduto da luz, local que vi os primeiros excluídos do jogo da seleção: Os policiais militares.
Enquanto os jogadores da seleção corriam, um grupo de 50 policiais recebia os afazeres do dia. Apesar da seriedade que demanda a profissão, eles não aparentavam felicidade.
Na porta de uma empresa de telemarketing, um grupo fumava. Eles aparentemente também foram excluídos em prol do atendimento telefônico.
O silêncio das ruas desertas se alternava com um grito ou outro que vinha de longe dos prédios. Os ônibus eram quase que os únicos automóveis pelas ruas da cidade. Os motoristas dos coletivos também haviam sido excluídos da festa. Afinal era uma segunda-feira.
Fim do primeiro tempo. Das escadarias do Teatro Municipal, vejo uma multidão subindo do Vale do Anhangabaú. Eles haviam sido dispensados somente para os primeiros 45 minutos de jogo.
Ao chegar no Bairro da Liberdade escuto um grito. De dentro de uma lanchonete um jovem sai aos gritos, em pura euforia. Mesmo sem saber o placar, parecia que ali o Brasil colocava o seu primeiro pé na vitória.
No Viaduto da Liberdade, casais de namorados aproveitavam a calma pra conversar. Nunca vi aquela rua tão calma. Nem em dias de final de semana.
Ao lado da Câmara Municipal, foi o local escolhido para estar nos últimos minutos de jogo. Ali, alguns torcedores aproveitavam a calma do local para aliviar o stress do jogo ao sabor de um cigarro de maconha.
Encostada em um banco de praça, outra excluída do jogo me pergunta se a partida havia terminado. Moradora de rua, esta senhora descansava enquanto o dia não começava.
Logo ali, em uma escada, um homem que trabalhava em um prédio ao lado da Câmara aproveitava para comer sua marmita. As ruas estavam desertas, mas de longe um grito avisou que o Brasil fazia o seu segundo gol.
Poucos minutos depois, outro grito distante avisou do final da partida. Era hora de voltar para casa e começar a semana. Enquanto isso, rapidamente as lojas iam se abrindo. Não era hora de comemorar, era hora de batalhar, afinal, apesar do Brasil ter ganho o jogo, a semana tinha que começar.
Um jogo de futebol na Rússia transformou a rotinha da maior cidade da América. Mas assim como um eclipse, ao voltar a luz, a metrópole voltou a ser metrópole.