Black Alien chutando a porta com “Abaixo de Zero: Hello Hell”

O retorno do Gustavo que a gente gosta e sentiu falta para um caralho!

Steffi de Castro
Ainda escuto álbuns
3 min readOct 29, 2019

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Decidi escrever sobre um álbum bem recente, mas que já entrou na minha lista de “álbuns favoritos” (são vários e muito diversos). Só pra ressaltar, eu tenho alguns critérios para definir, sob a minha perspectiva, claro, o que eu considero um “bom” álbum ou mesmo favoritar algum:

  • Colocar no repeat e não enjoar
  • Gostar mais de uma música, de preferência gostar de mais músicas além do single (nem precisa gostar do que é chamado hoje de “single”)
  • O fim de uma música leva imediatamente à próxima de maneira perfeita!
  • Sabe quando tu escuta um dia inteiro um álbum, tanto que tu aprende naturalmente as letras e quando uma termina tu já sabe até o tempo de início de outra?
  • Sentir vontade de ir atrás do que cada música está querendo dizer;
  • Pegar o “ritmo” da coisa.

Abaixo de Zero: Hello Hell é um álbum que passou por tudo isso ileso. Com título e subtítulo, o retorno de Black Alien é, pra mim, um dos melhores lançamentos de 2019 até agora!

Abro o aplicativo do spotify no meu celular e na barra de pesquisa já era comum aparecer o Gustavo, Babylon By Gus volumes 1 e 2 (que têm, de um para outro, mais de 10 anos de diferença), álbuns pelos quais já sou apaixonada há tempos. Ouvir Black Alien pra mim sempre foi regra, apesar do sumiço que ele teve, PÁ, de repente um álbum novo! Black Alien lançou, desse álbum, só um single de prévia “Que nem o meu cachorro”, diga-se de passagem, bem no dia do meu aniversário (14/03), o que entendi como um sinal!

Consigo ouvir o dia inteiro sem parar, sem enjoar e sem nunca me chocar com um verso ou outro que passara despercebido por mim.

Gosto muito da voz do Black Alien, da sua dicção (desculpem minha frescura, mas AMO entender sem dificuldades o que as pessoas estão falando/cantando), os beats não são “100% inovadores”, mas Papato é Papato, um dos nomes mais influentes no hip hop no momento atual e responsável por fazer as músicas grudarem. É um álbum novo com cara de clássico e o que é clássico não morre nem fica ruim. O quarentão chegou muito de boas de volta.

Sem dúvida, umas das minhas favoritas é “Vai Baby”, acho até que ela é o verdadeiro single do disco (tanto que é a única com clipe), mas é “Que nem o meu cachorro” e “Take Ten” as músicas que dizem a motivação desse trabalho, são elas que mostra quem é o Gustavo de agora.

Daqui há alguns anos espero ainda ver Gustavo aparecendo com um novo trabalho incrível e tenho certeza que mesmo assim vou achar Abaixo de Zero: Hello Hell uma preciosidade, pois tudo o que está envolvido nesse universo do hip hop e da música como um todo está aqui.

Black Alien fala sobre a dependência química e sobre o quanto o uso atrapalhou sua produtividade e criatividade (Aniversário de Sobriedade, Carta Pra Amy, Take Ten) critica ferozmente a onda de rappers jovens que “chegam de mala” no movimento, ressalta sua experiência, afinal, com mais de 40 anos, é um dos rappers brasileiros com mais tempo na cena (Que Nem O Meu Cachorro, Jamais Serão) e, óbvio, sempre tem um espacinho pra falar de sexo e amor com que todo mundo gosta (Vai Baby, Au Revoir).

Abaixo de Zero: Hello Hell não é um lançamento qualquer. É um retorno de quem passou por poucas e boas devido às drogas, dificuldade de se recolocar criativamente na produção, perda de amizades, enfim, um momento conturbado. A gente tá vendo o retorno de um cara que tá se curando, se transformando, reconhecendo sua história, buscando as coisas em paz, buscando ficar em paz. Isso é incrível.

“O cochilo da tarde é o meu xodó do momento”. E é isso.

Todas as músicas são grudentas. E grudam de um jeito bom.

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