Como ter um professor de inglês nos ensinou mais do que um idioma

Debora Vilarinhos
aisdigital
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6 min readJul 17, 2020

Como Aristóteles disse em sua obra Política, a palavra (ou o discurso, já que a tradução do termo grego logos pode ser um pouco confusa) é o que distingue seres humanos de animais, visto que é o que nos permite estabelecer o que é bom ou ruim, justo ou injusto.

Esse julgamento moral, compreendido e expressado pela comunicação verbal e não verbal, é o que dá sentido a famílias, cidades e sociedades. Tal argumento nos mostra que a comunicação é o laço de qualquer relação, seja ela pessoal ou profissional.

Há alguns anos, a AIS tem tido o privilégio de trabalhar com clientes internacionais e, ao longo dos últimos meses, essa demanda tem aumentado. Isso significa ter mais projetos, reuniões, e-mails e apresentações em inglês, o que nos levou a investir nas nossas habilidades na língua e contratar um professor para integrar nosso time.

A ideia inicial era fornecer aulas e apoiar a equipe por meio testes de nivelamento, metas de evolução e dicas periódicas do idioma. Como essa tem sido uma jornada de muitos aprendizados para nós, como empresa, decidimos compartilhá-la aqui.

Nosso professor de inglês com um nome italiano

O Pietro foi inicialmente contratado para ajudar líderes a atingirem níveis satisfatórios de inglês. Isso aconteceria por meio da aplicação de testes de nivelamento, aulas regulares, artigos internos semanais com dicas de inglês e suporte diário à equipe em demandas de trabalho.

Há uma média de 8 aulas por semana, divididas por nível de proficiência e horário. Inicialmente, oferecemos apenas para cargos de liderança, por acreditar que a linha de frente com o cliente é a mais visível e sensível na operação. Além disso, a gerência da empresa (CTO, VP e outros) possuem aulas individuais, de acordo com suas disponibilidades.

Tendo em vista que o objetivo da evolução do inglês no nosso time é seu crescimento profissional, disponibilizar as aulas durante o expediente foi uma das premissas iniciais para garantir que esses encontros funcionariam. Então sim, nós estamos permitindo que as pessoas “gastem” seu horário de trabalho investindo em suas habilidades.

Essa configuração de horários tem sido fundamental para ver o engajamento dos nossos alunos (aprender de graça e ainda sem precisar de um tempinho extra? Bom, quem não ficaria animado com isso?). Esse é, porém, um processo de aprendizado não só para a equipe, mas também para o professor. Quando um cliente diz que precisa de uma reunião ou entrega urgente, isso se torna prioridade.

Recentemente, com o enfrentamento do COVID-19, Pietro teve que redesenhar suas aulas. Mantê-las via videoconferência exige mais organização, gerenciamento de tempo e planejamento. É um desafio para todos, mas desafio e evolução são as palavras-chave aqui na AIS.

Ensinar não é só sobre dar aulas

Assim que as aulas e testes começaram percebemos juntamente com o feedback do Pietro que isso não seria o suficiente. Isto é, para que o aprendizado da equipe seja efetivo, era preciso ter uma via de mão dupla: não é possível ensinar uma habilidade se o estudante não a considera aplicável ou relevante.

Mas como fazer com que pessoas que não se sentem à vontade para falar inglês começarem a praticá-lo? Enfatizando que a comunicação nunca é perfeita (e esperar por isso pode impedir que ela aconteça) e tentando desfazer o que nosso sistema de educação fez conosco e mostrar que está tudo bem em errar.

Ninguém espera levantar 100 kg na primeira, segunda ou décima vez que vai para a academia. Com inglês ou qualquer outro idioma acontece o mesmo.

A mudança cultural

Quando fazemos com que algo que deveria ser natural pareça complicado demais, as pessoas podem se sentir inseguras. Permitir que erros aconteçam é a única forma de corrigi-los. E, sendo sincera, o inglês é muito mais natural para muitos de nós do que imaginamos.

Estamos todos ligados na Netflix, sabendo que o “Joey doesn’t share food!” ou que o Darth Vader é o father do Luke. O ponto é que nem todo mundo está ciente do quão familiarizado está com o inglês. E é por isso que no final de 2019, muito antes da pandemia, começamos a iniciativa English Friendly, ação em que imprimimos plaquinhas e entregamos para toda a equipe, com as palavras “English Friendly” escritas.

A ideia era que todos se sentissem à vontade em praticar a língua. Bastava colocar a plaquinha acima do seu monitor para sinalizar que aquele era o dia de falar inglês.

Mas adivinha só: assim que alguns começaram a colocar as plaquinhas, quase todos queriam fazer também. E acredite ou não, rapidamente as pessoas começaram a abordar uns aos outros em inglês. Inicialmente como uma brincadeira, até que começou a ser mais natural.

Além disso, alguns líderes de chapter ou projeto (nós usamos o framework ágil, saiba mais aqui) implementaram reuniões do time em inglês. Uma vez por semana, a reunião diária dessas chapters ou projetos é feita em inglês. Nesse momento, todos devem falar em inglês suas tarefas no trabalho.

Aqueles com menor expertise na língua são encorajados a escrever seu discurso com antecedência — recorrendo ao Google Tradutor ou recebendo ajuda de seus colegas — para lê-lo durante a reunião.

De um ponto de vista bem pessoal, eu diria que o impacto do Pietro ocorreu não só pelo seu esforço e pela qualidade de seu trabalho, mas também pelo fato de ele ser um cara gente boa.

As tendências de recrutamento têm mostrado que a soft skill é mais difícil de ser encontrada ou desenvolvida que a hard skill, enquanto a primeira reflete mais no dia-a-dia de trabalho do que a segunda. E visto que aprender um idioma tem tudo a ver com comunicação, como isso poderia funcionar bem se a pessoa que vai ensiná-lo é desagradável ou desinteressante?

Mesmo trabalhando só, sem um departamento específico para ele, o Pietro foi rapidamente considerado como membro do time AIS, em vez de só um anexo ou apêndice da empresa.

Antes do isolamento social, Pietro tinha o costume de sentar no meio de todos. Sociável e naturalmente extrovertido, ele se interessa por praticamente qualquer assunto que você abordar ou qualquer filme que a galera estiver comentando no trabalho, e ainda dá seus pitacos em inglês.

Sua presença física no escritório, no início desse processo, foi fundamental para a mudança cultural e comportamental que a AIS passou em relação ao inglês.

Todos a bordo!

Nos últimos 10 meses, desde que o Pietro entrou no time, acredito que a mudança mais importante na equipe foi a confiança. Ao longo desse período, fechamos mais contratos internacionais, agendamos mais reuniões e calls com estrangeiros. Tudo isso tem nos dado a oportunidade de praticar mais a língua e, de onde eu vejo, a parte mais divertida de tudo isso é ver a equipe se sentindo mais confortável com o idioma.

Depois de algumas experiências falando inglês (mesmo quando não é ainda tão bom assim), perceber que um cliente grande conseguiu entender perfeitamente o que você quis dizer dá a confiança que todos nós precisamos para continuar melhorando.

Pode ser um pouco cedo demais para dizer que alcançamos essa missão e que talvez estejamos só começando. Mas acredito que demos o primeiro e mais importante passo: o de colocar todos a bordo e ver que só conseguimos decolar juntos.

Você já passou por algum desafio de praticar outro idioma na empresa que trabalha? Compartilhe suas experiências comigo nos comentários abaixo!

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Debora Vilarinhos
aisdigital

Engenheira de Produção por (quase) formação que resolveu se aventurar como UX Designer na AIS Digital.