Vamos falar sobre vaginas?

Isabela Alves
Além da capa
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3 min readAug 12, 2020

Buceta, xoxota, vulva, perseguida, xereca e outras palavras. Porque elas são marginalizadas e consideradas proibidas, quando deveriam ser sinônimo de liberdade?

Em ‘Monólogos da Vagina’, a escritora estadunidense Eve Ensler conta histórias de diversas mulheres através da sua relação com a sua parte íntima.

“Eu estava preocupada com as vaginas. Preocupada com o que a gente pensa das vaginas, e mais preocupada ainda com o que a gente não pensa. Então, resolvi falar com mulheres a respeito do assunto. Essas conversas viraram os monólogos da vagina. Falei com mais de duzentas mulheres: mulheres mais velhas, mais novas, casadas, solteiras, lésbicas, professoras universitárias, atrizes, executivas, profissionais do sexo, mulheres afro-americanas, hispânicas, asiáticas, caucasianas, judias. De início, elas ficavam meio relutantes, um pouco tímidas. Mas, quando começavam a falar, aí não paravam mais” — trecho do livro.

A ideia de criar o livro surgiu porque, apesar de ter crescido em um lar feminista, falar sobre esse assunto era proibido na casa de Eva. A autora, então, reuniu diversas entrevistas e também apresenta o contexto histórico para entender o motivo de tamanho tabu.

Ela descobriu que questões sobre o corpo feminino são pauta desde a primeira infância: as meninas crescem ouvindo “fecha as pernas” e outras frases que fazem com que elas tenham vergonha dos seus corpos.

Indo um pouco mais longe, a igreja e a religião, que é predominantemente dominada por homens, diz a anos que as mulheres nasceram do pecado. No fim das contas, toda essa construção social acaba afetando a vida emocional e física de várias mulheres. É algo tão enraizado, que elas nem param para refletir o porquê.

A verdade é que muitas mulheres não conhecem o próprio corpo. Uma pesquisa lançada em 2018 apontou que as mulheres heterossexuais são o grupo que chega menos vezes ao orgasmo: somente 65% das vezes que mantêm relações. Em contrapartida, no primeiro lugar estão os homens heterossexuais (95%).

O tabu é tão grande que isso se refletiu até nas pesquisas científicas: enquanto o ápice do prazer entre os homens é estudado desde meados de 1930, o orgasmo feminino só começou a ser estudado em 2011.

O silêncio sobre o corpo feminino também se reproduz na violência contra esses corpos, e esta é uma situação que atinge mulheres em todo o mundo: Em 2018, o Brasil bateu o recorde de estupros e a maioria das vítimas foram meninas de até 13 anos. Na Índia, 1 em cada 5 meninas deixa de ir a escola por conta da menstruação. Ainda, até 2030, 68 milhões de mulheres e meninas poderão sofrer mutilação genital no mundo.

É por isso que a obra de Eve Ensler é tão corajosa e importante. Ler essas histórias humanizadas é fundamental para entendermos mais sobre nós mesmas e a opressão que cerca o corpo feminino. Com esse livro, damos risada, mas também choramos diante de tanta vulnerabilidade. A lição que fica é que conhecer o próprio corpo e falar sobre vaginas é uma das maiores formas de empoderamento.

‘Os Monólogos da Vagina’ foi adaptado para o teatro e também ganhou uma versão para televisão pela rede HBO.

Assista a palestra TED com a escritora Eva Ensler.

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Isabela Alves
Além da capa

Jornalista apaixonada por literatura, cinema e novas experiências. Instagram: @__isaaalves