Videoclipes: em busca da produção audiovisual possível

Rudinei Picinini
Albergue
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4 min readDec 11, 2021
Foto de Igor Justo | Arte Rudinei Picinini

Todo mundo sabe da importância dos videoclipes para a construção da imagem de uma banda, para reafirmação de conceitos de um trabalho ou para criação de vínculos maiores com o público. Para o bem ou para o mal, desde o estouro da MTV no começo dos anos 80, a relação da música com produções audiovisuais ficou cada vez mais estreita.

É de praxe ver em qualquer estratégia de lançamento de um single, por exemplo, a pretensão imediata em produzir um videoclipe para aquela faixa. Até quando falamos de um disco, as escolhidas “músicas de trabalho” podem ser definidas como aquelas que obrigatoriamente ganhariam um videoclipe para a sua divulgação.

Mesmo que a MTV tenha morrido no Brasil e que nem todos os videoclipes passassem lá de fato, as redes sociais também se mostraram propensas para a adoção do formato. O Youtube virou um dos principais canais para selos e gravadores mostrarem o seu catálogo de forma abrangente, centralizando várias produções em um perfil que é acessado pelos usuários por um mecanismo de busca por palavra-chave.

Talvez uma das perguntas que você se faça é: as pessoas ainda gostam e param para assistir videoclipes?

Há um mês atrás, vi um pequeno trecho de uma entrevista que a cantora pop brasileira Marina Sena deu a um influenciador, onde ela era indagada se sua faixa, “Por Supuesto”, teria um videoclipe, já que canção havia estourado em redes sociais como o Tik Tok. Ela afirmou que sim e, de fato, o videoclipe da canção “Por Supuesto” foi lançado há duas semanas atrás, contabilizando até o momento um milhão e meio de visualizações.

Claro que a ideia aqui não é pegar um estudo de caso do pop e ser generalista com outros gêneros, no entanto, acredito que o nosso fascínio pelas histórias, pela ideia de construção de novas narrativas a partir de algum que é puramente emocional, como é a música, nos leva ainda a consumir videoclipes.

Por isso, eu tenho pensado muito nos últimos tempos no audiovisual possível, já que sabemos que hardcore, por exemplo, não é o gênero mais autossustentável economicamente. Assim, é compreensível que as próprias bandas busquem aprender e a produzir os seus próprios materiais.

Antes de mais nada, já adianto aqui que este não é um post contra o seu amigo do audiovisual. Pelo contrário, se você conseguir estabelecer uma parceria acessível, se você tem algum edital ou meio de financiamento para produzir algum produto audiovisual, não pense duas vezes, fortaleça essa galera também. Assim você não corre risco de investir tempo em uma coisa que pode ficar ruim, algo que é comum, quando não temos conhecimento ou suporte profissional.

Além disso, as ideias que venho trazer aqui ainda podem ser caras de acordo com a execução, contudo, por outro lado, também podem se tornar mais acessíveis para uma produção com o seu parça do audiovisual.

A primeira ideia que trago, foi executada junto com a minha banda, a Borduna, para a faixa “Fuga”. O videoclipe nesse caso é uma grande colcha de retalhos de gravações feitas durante uma minitour e outras situações da banda. O vídeo que também teve algumas poucas captações complementares feitas pela Leiane Cristine e pelo Gustavo Anceski, ilustrações Gustavo Anceski e, claro, um grande trabalho de edição da Leiane Cristine, é uma proposta bastante comum em videoclipes.

O videoclipe de “Fuga” é um grande mosaico, um compilado de materiais muitas vezes caseiros, que diminuem o trabalho e o custo de captação ao máximo, já que são coisas que foram produzidas ao longo do tempo pela própria banda. A parte difícil é a edição, fazer tudo isso ter sentido conjuntamente, na maioria das vezes, vai depender sim de um trabalho muito profissional, como o que nós precisamos. Em alguns casos, pode ser até mais caro, dependendo da complexidade da edição. Há sempre o risco.

A segunda ideia, que ainda não executei em nenhum projeto, mas que me chama a atenção, é a ideia do plano único ou plano sequência. Tenho visto muitos exemplos de bandas que estão adotando esse tipo de produção. Ele é bastante minimalista em relação às necessidades, mas se engana quem acha que é fácil, pois a ideia precisa compensar a falta de edição que o vídeo terá.

Claro que a proposta pode ser mais visual e conceitual, mas é interessante que o vídeo seja pensado como forma de reforçar questões estéticas e visuais que se relacionem com a banda ou com o trabalho em evidência. O primeiro exemplo que trago é o pacato, mas bonito videoclipe de “El Magnetismo” da banda argentina El Mató A Un Policía Motorizado.

O segundo exemplo que trago é de 2021, dos ingleses do Idles, para a faixa “The Beachland Ballroom”. Claro que aí há uma produção de luz bastante profissional, mas o clipe se resume em um plano muito fechado no rosto do vocalista Joe Talbot, algo que chega a ser incomodativo (entendo que faz parte da proposta). Há também uma pequena luz de lanterna que fica perambulando pelo rosto de Talbot durante o vídeo, enquanto ele canta a faixa.

O último exemplo que trago é da Frida, uma banda aqui do Rio Grande do Sul que infelizmente não está mais em atividade, mas que recomendo fortemente o álbum homônimo de estreia deles. A faixa “Quando o Amor Acaba”, que conta com esse clipe sensacional, começa em um plano fechado e revela algo imprevisível na paisagem a partir da ampliação deste plano.

Por fim, a ideia desse post não é mostrar que descobri a fórmula de fazer produções audiovisuais baratas e boas. A ideia aqui é provocar a exploração de possibilidades que sejam mais criativas do que caras, que estejam dentro das nossas limitações técnicas e econômicas, pois o que não falta por aí é videoclipe caro, vazio e sem sentido.

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Rudinei Picinini
Albergue

Publicitário | Inbound Marketing na Dinâmica Conteúdo | Mestrando de Turismo e Hospitalidade UCS | Colaborador no selo Alforge Records e do Divisa Home Studio.