O Império do Hamburger

Aldeia Global
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3 min readNov 24, 2014

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No início de 2003 o cineasta norte-americano Morgan Spurlock passou 30 dias se alimentando exclusivamente no McDonald’s. Ele fazia três refeições diárias e ao longo do período viu sua saúde, considerada até então exemplar por um corpo de médicos, se depreciar num ritmo inacreditável. O processo todo foi filmado e transformado no premiado documentário Super Size Me. Ao terminar de vê-lo, é impossível não se questionar. Se essa comida faz tão mal e isso é de conhecimento geral, como o McDonald’s consegue alimentar 68 milhões de pessoas no mundo, mais gente que a população da França, por dia?

Trailer do filme Super Sizeme

Criado em 1940 pelos irmãos Richard e Maurice, o McDonald’s surgiu como uma churrascaria. Oito anos depois de inaugurado veio a reformulação que selaria seu destino: o foco em hambúrgueres. Exemplo maior da chamada fast food, ou seja, comida rápida, a celeridade (e a pressão dos investidores por lucro) aparentemente traz de carona uma baixa considerável na qualidade nutricional da comida vendida ali.

Mas isso fica em segundo plano se considerarmos o intrigante desempenho comercial do McDonald’s. Ele é um fenômeno, um exemplo de corporação multinacional bem sucedida. É uma das maiores cadeias de restaurantes do mundo e, pasme, a maior distribuidora de brinquedos do planeta. No Brasil são mais de 1100 pontos de vendas (entre restaurantes, quiosques e McCafés) em 22 estados e no Distrito Federal atendendo mais de 1,5 milhão de clientes diariamente. O McDonald’s é um dos maiores empregadores do país: são mais de 34 mil funcionários.

Em outro documentário, Muito Além do Peso da cineasta brasileira Estela Renner, a onipresença do McDonald’s é explorada e apontada como culpada pela atual geração de crianças obesas. No filme, Ann Cooper, diretora do School Food Project, relaciona a dominação da comida industrializada à situação da indústria dos EUA ao final da II Guerra Mundial. Antes, as pessoas eram acostumadas a preparar o próprio alimento. A tecnologia desenvolvida para o conflito precisou, no tempo de paz, de uma vazão comercial, então dessa necessidade surgiram as geladeiras, as máquinas da agricultura e, claro, os alimentos industrializados.

Trailer do filme Muito Além do Peso

Por contarem com uma logística exemplar e serem mais duráveis que o alimento fresco, a comida processada prosperou nos EUA e foi exportada com sucesso para todos os cantos do mundo. Isso explica porque mesmo no interior do Brasil, imersos na natureza, é mais fácil conseguir um pacote de bolacha recheada do que um pé de alface. Existem muitos interesses por trás da indústria alimentícia e, claro, elas são muito boas no que fazem — não exatamente preparar comida, mas vendê-la — e aperfeiçoam essa arte constantemente.

Ambos os documentários, Super Size Me e Muito Além do Peso, são chamados à realidade. É mais rápido, prático e barato passar no drive-through do que preparar uma refeição. O ponto de reflexão é como um alimento claramente mais elaborado do que a comida in natura pode ser mais fácil e mais barato de se obter. E isso para ficar no superficial. O mais importante e o que fica em jogo nessa relação, a nossa saúde, é o mais importante a se considerar, mas talvez seja assunto para outra matéria.

Escrito por Rodrigo Ghedin

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