Entre a Eternidade e a Agonia
O torcedor convive com a ameaça do fim do ser humano e é preciso que algum grito se estabeleça para o seu jogador manter-se imortal como a um santo.
Eu não sei se estou escrevendo fragmentos ou continuações dos meus textos, que mais parecem uma tentativa débil de fotografar os sentimentos dos torcedores.
Perdoe se, caso alguém chegar a ler os textos anteriores e não souberem por onde começar, em um determinado momento.
Talvez esteja com alguma ânsia amarga e exacerbada pelos comportamentos de cada torcida e, por isso, assalta-me ao peito essa vontade de escrever sobre as angústias de quem participa do jogo.
Considerando que não se exclui de ninguém sua participação: técnico, jogador e torcedor. Sim, o sofrimento, seja de alegria pela vitória que temos o conhecimento de que nem sempre estará em nossa companhia ou de tristeza quando nos depararmos com a sua limitação, pertence a todos nós.
Porém, reside, exclusivamente ao torcedor essa tarefa árdua de compreender tão exato sentimento. Tão cuidadoso e, por vezes, dolorosamente amável com o seu ente divino.
O técnico, em contrapartida, não consegue distinguir tais emoções porque é escravo da modernidade, se colocando como um intermediário de alguma revolução tática. É um pobre coitado que não sabe assimilar que ser eterno é mais importante.
O técnico é um ser verborrágico por natureza, enquanto o jogador é o único capaz de ser infindável.
Em meio a esse triangulo conflituoso, o torcedor ainda é o que melhor entende tão intenso destino e tenta aplicar um fim na trágica e eminente extinção do seu craque.
A todo momento, o torcedor convive com a ameaça do fim do ser humano e é preciso que algum grito se estabeleça para o seu jogador manter-se imortal como a um santo.
O que existe, porém, entre a relação torcedor, jogador e técnico é o choque violento que o atleta escolhe viver, deixando de lado a anestesia do admirador nas arquibancadas e do modernista à beira do campo.
Talvez, entre o nosso romantismo de transformar o gênio do gramado em uma espécie divina, há o desejo do mesmo de ser humanizado para atingir a eternidade.
Revelando, assim, um caráter de escolha quando muda, rapidamente, de direção com a bola nos pés, e não que algum poder celestial tenha o feito capaz, afastando-o de qualquer responsabilidade.