A gente precisava conversar
Depois de tanto tempo, ainda sinto sua falta, sua energia, as lembranças nossas que carregamos, e tudo o mais. Hoje me entendo, hoje te entendo, hoje entendo nós entre esses nós.
Como foi seu último ano? Porque o meu foi bem aleatório, sabe quando tudo muda muito? Então, tudo mudou. Primeiro o ambiente, me mudar de cidade e conhecer novas pessoas foi muito bom, porém junto disso retornei àqueles velhos hábitos, lembra deles? Aquela pior parte de mim? Pois bem, eles mesmos. De certa forma isso foi bom, fez eu ser forçado a me reavaliar a níveis absurdos de introspecção, o que também foi doloroso. Mas nem tudo foi negativo, haja vista que conheci o local que trabalho e a família incrível que tenho lá. Também tive minha primeira fratura, e advinha? Quebrei o pé, agora me tornei um pouquinho igual a você? Bom, isso contribuiu pras minhas reavaliações. E tudo isso foi na segunda metade do ano. Ainda não te contei, mas tenho uma orientadora, tenho uma pesquisa em andamento e inclusive to metido com uns projetos grandes, mas isso é papo pra mais tarde. Foi um tempo de revirada, uma verdadeira revolução, e no meio disso tudo, você.
Fazendo umas reavaliações percebi o quanto eu fui ruim pra você, quando na verdade eu deveria ter sido um ponto de paz, de fuga. De certa forma te sufoquei, fui eu quem fez você se afastar, mas isso não retira os seus métodos que me repeliram de você. Muita coisa dói. No entanto sinto que elas não nada perto da saudade que tenho de você, do seu cheiro, da sua presença, da sua voz. Eu te amo. Ta aí uma coisa que eu não falaria para qualquer pessoa, pelo menos não no sentido que me pesa o peito quando falo pra você, ou de você. Essa dor, esse incômodo, me trazem um cheiro de frio que só nossas lembranças têm, e quando sinto ela, me sinto em casa, com você.
Como está sendo em São Paulo? Está começando a conquistar seu mundo? Por acaso está melhor quanto ao término? Quando soube me preocupei com você, mas aparentemente aquela pessoa também não era o suficiente para te salvar da sua inundação mental. Acho que ninguém é, mas eu pelo menos adiava e percebia. Queria ir pra aí e esbarrar com você. Talvez eu conseguisse, mas como seria? Eu iria fingir que não te vi? Eu iria acenar pra você enquanto me despedia dos meus anfitriões? Você ia fingir que não me viu e sairia pelo outro lado? Ou iria correr como aquele dia que me deixou pra subir sozinho até em casa e todos riram de mim? Essas lembranças agridoce fermentadas me doem, são buracos que mantenho no peito, e quando você vem à mente, os mesmos buracos de carne ardem com o ar frio que elas têm. Sinto falta do pouco que tinha de você.
Lembro de quando te mandava inúmeras mensagens desesperado porque você não me respondia, achando que tinha desistido de mim, eu sei que tinha. Eu sei que quando sumia você estava falando com outros, eu sei de tudo, não é paranoia, eu realmente vi, na minha frente. Confesso que eu era um pé no saco quando queria, mas de certa forma eu era muito jovem e muito apaixonado, adolescentes têm a tendência de se tornarem insuportáveis à níveis alarmantes. E aos poucos eu fui me fazendo te perder. Nesses momentos me lembro quando as coisas melhoraram um pouco entre nós e estávamos conversando sobre a vista do meu quarto na casa que havia me mudado, lembro que rimos do alcance dela, lembro que você quis saber onde eu morava, lembro de um eu te apontando para o sobrado de tijolo à vista e apontando pra janela do meu quarto, ainda que estivesse sol, eu sentia o cheiro do frio, o cheiro do meu amor por você.
Esse ano meu aniversário será mais solitário mais uma vez, todos de certa forma foram, mas nesse eu não irei sair, eu acho. Está tudo tão corrido. Não te contei, mas seu aniversário me dói duas vezes agora, pois é nele que perdi minha avó, aquela que eu sempre te falei que era uma mãe pra mim. A outra continua bem. Esse ano talvez façam algo pra mim onde trabalho, talvez, ainda não sei. Tem tempo até lá. Lembra de quando reservei mesas o suficiente para todos da sala no meu aniversário, você já não estudava com a gente, mas mesmo assim você foi quando te chamaram? E depois corremos apertando campainhas e desligando disjuntores. Aquele dia eu me senti sortudo, porque quem eu amava se fez meu presente e os outros me ajudaram a tê-lo. Quantas saudades disso tudo.
A vida agora não tem muito dessas aventuras amorosas, ou peripécias. É um eterno ciclo de fazer coisas que cansam mais e mais. Não há descanso, só um adiantamento com juros de tudo. De repente sentar e conversar com você, seja num café, seja num bar, na rua, ou sei lá, seria uma forma de mudar isso. Eu ver seus olhos mais maduros e você ver os meus, que devem estar parecendo ainda mais os olhos de ressaca dolorosos que você conheceu. Seus olhos de maré e meus olhos de ressaca. Eles seriam uma ótima dupla. Olhos que atravessaram o mar temeroso rumo ao novo mundo. Esses seríamos nós caso esse papo ocorresse. Sinto sua falta, sinto saudades, sinto carinho. Precisava de você aqui. Mas tudo bem, ainda tenho um caminho à seguir, e nele consigo ir sozinho, mas se fosse com você, rumo ao seu destino também, assim juntinhos, aposto que iríamos bem.
Te amo.