Então depois de tudo e de tanto…

Alexandre V. Andrade
Alegrias e Alergias
4 min readAug 19, 2019

Eu soltei.

Tive praticamente três semanas para me reerguer, me reencontrar, e fiz isso em questão de uma ou duas semanas. Mas esse não é o começo da história. Essa história começa comigo achando que falhei, que não fui tudo o que me era pedido, ou que me era esperado. Contudo, eu era, e esse foi um papel que consegui manter graças às pessoas maravilhosas que me cercam em cada grupo em que estou inserido.

Descobri que havia me perdido, e como de costume, voltei atrás da única coisa que representava o máximo da minha realização, você, o cheiro de frio que me assombra. Você era a única coisa intocável, e usei isso para me reerguer. Revisitou toda nossa história, e chegou um ponto em que percebi que ela não fazia tanto parte de quem eu era, quanto eu imaginava. Então parti em uma busca por mim, cada pedaço quebrado do meu coração, do meu amor próprio, de todas as coisas que me faziam ser perdidamente apaixonado por quem eu era.

Dessa forma, comecei a ir atrás das minhas memórias, revisitando lugares, reencontrando pessoas, vivendo momentos que tocavam diretamente no meu peito, no meu esterno. E lá estava eu. Todas as dores, todos os amores, cores e sabores. Estava tudo lá. Mas nas entrelinhas, tinha você. Eu te fiz parte de uma coisa maior, que acompanhou minha trajetória até meu presente momento. Eu ainda, de alguma forma, precisava de você, eu tinha que te ter no centro do meu universo, você era o desejo último. Era você o fim da linha de toda essa parte da minha vida.

Então cá estou. Depois de pensar demais, sofrer demais, precisar demais, resolvi ir até a única pessoa que colocaria tudo em seu devido lugar. A única pessoa capaz de me desafogar de forma mágica, a única pessoa que soube desbravar cada caminho de quem eu sou. E assim foi feito. Após algumas horas de conversa essa pessoa se abriu para mim (confesso que me senti abraçado de uma forma que você só se sente assim, quando alguém muito querido que se foi, volta em seus sonhos e te abraça), essa pessoa me contou suas histórias, cavou assim dentro de mim um túnel direto entre o meu coração e o seu (não o “seu” seu, o “seu” dela) e de lá abriu-se um portal que me levou à velha encruzilhada em que me vi anos antes.

Eu tinha duas opções, te procurar, por um ponto final, ou um ponto e vírgula. Ou eu teria que deixar tudo isso ir. Mas como todo o bom teimoso, resolvi abrir uma terceira opção disso tudo, te coloquei em um depósito numa poupança que só poderia abrir daqui anos. Bem, eu não podia cancelar essa poupança, então deixei para outra pessoa receber o dinheiro em meu nome. Espero que vocês se amem, tanto quanto te amei, e você pode ter cogitado me amar, antes de se soltar dessa corda presa nesse peso gigante que seria nossa luta.

Além disso essa pessoa me inundou com um novo sonho, um novo horizonte, algo que iria despertar em mim tudo isso em que estou me emaranhando agora. Eu tive a perspectiva de uma aventura, uma aventura que dependeria de mim, apenas de mim e do meu esforço, meu trabalho. E esse é o meu sonho perpétuo, até que se realize, esse é o ponto de chegada de todas minhas realizações. E é simples, é uma viagem. Agora eu vejo, é disso que sou feito. Te amar foi uma aventura, todos altos e baixos, todos os riscos para quem eu sou, porque eu havia me jogado nisso, me empenhado tanto, mas tanto. E agora estou aqui. Hoje, após te ver em fotos e vídeos, eu tive a vontade espontânea de falar em voz alto, ainda que eu estivesse sozinho, “Que bom que está feliz”, sorri, abaixei o celular, sorri, “Acabou”, foi isso. Aqui acabou, não tem mais essa dor, essa angústia, e essa inundação de memórias prateadas de tardes em que pensava em você, em nós. Acabou. Você não é mais meu cheiro de frio.

Agora você é alguém que amei verdadeiramente, mas se foi. E eu te deixo ir. Por favor, vá, logo alguém vai chegar, alguém tão bom pra você, que você vai se perguntar onde essa pessoa esteve em toda sua vida. Muito provavelmente nunca mais nos veremos, e está tudo bem. Você se foi. Meu cheiro de frio agora é em alguma cidade a muito mais de mil quilômetros daqui. Um lugar em que eu não me inseri na cultura previamente, um lugar onde será eu e eu. Um lugar que eu vou caber, e então retornar para meu fim de jogo aqui. Meu fim de jogo é um espaço, e não um espaço em que você terá que estar presente. É somente um espaço que em que eu conquistarei com meu esforço.

Eu poderia dizer, “Como eu me deixei perder tanto tempo nisto, por quê?”, mas não. Eu não perdi tempo. Eu cresci, e te agradeço por isso, assim como sou grato a cada desventura que passei, pois todos os caminhos me guiaram até este exato ponto nesse turbilhão temporal. A partir daqui sou eu e somente eu. Claro, não deixo de pensar que depois de tudo isso eu larguei também essa corda. Mas é que minhas mãos já estavam calejadas e começando a sangrar. Isso não é o certo. Tem um motivo pro corpo ter esse sistema de autodefesa chamado dor. E nós já estava me fazendo sangrar e doer demais. É por isso, que depois de tudo e tanto, eu soltei.

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