Modo Aleatório.

Alexandre V. Andrade
Alegrias e Alergias
3 min readFeb 16, 2018

Uma coisa que aprendi na virada de ano e nas suas primeiras três semanas, você não tem escolha do desenrolar das coisas.

Lembro de começar o ano com expectativas definidas sobre como seria o ano. Primeiro, acordar e me exercitar, em seguida ir trabalhar e estudar muito, depois ir estudar mais, em seguida continuar estudando e a noite dormir. Fins de semana? Estudar. Carnaval? Não vai festar, tem matéria atrasada e provas de vestibulares passados, vai estudar, rapaz! Feriado? Onde você pensa que vai com a família e/ou amigos? Você vai é estudar. Isso porque me prendi a um sonho no qual eu somente alcançaria quando minha saúde mental chegasse depois do limite, o que já experimentei não ser tão bom alcançar. Mas o que todo esse parágrafo tem sobre aleatoriedade? Sinceramente? Nada. O que aconteceu depois, então? Exatamente.

Preso em uma maré de não começar a trabalhar, uma vez que o espaço em que eu estaria estava em reforma e a chuva não ajudava, comecei a pensar em como o ano que eu havia planejado seria tão… Vazio. Eu simplesmente não estava sentindo o que viria, sabe? E o que estava acontecendo era o que acredito ser um aviso. A chuva muda a paisagem, e muita chuva, depois que passa, traz todo um reavivamento, as cores parecem deixar de se esconder, as plantas ficam saudáveis, o brilho do sol parece novo e ainda mais quente. Quando a anomalia das chuvas passou, deu que finalmente eu tivesse uma nova esperança de mudar minha vida. E no final abracei esta oportunidade. Todo o planejamento? Desceu com a enxurrada. Passei em uma universidade a qual fez eu descartar o meu sonho suicida.

Com a mudança repentina disse adeus ao emprego que mal havia começado, dei adeus à mais um ano de cursinho, e enterrei meus planos a curto prazo. Também voltei a deixar meu coração em paz, me auto-nutrindo com meu amor despejante. Hoje tenho um destino, no entanto não estou focado no que farei quando estiver finalmente estabelecido. Ao invés de me afundar em esperanças, estou aproveitando meus últimos dias dentro do matagal no qual fui colocado. E aqui estou finalizando as pontas soltas que deixei.

Quando vim parar aqui, estava ciente que mais uma vez minha vida começaria do zero, já mudei de escola e cidade o suficiente para saber o que fazer e o que não fazer, e vindo para cá estabeleci uma série de regras para ter um pouco de paz. Uma delas foi ser tolerante, gentil. Infelizmente eu estava pronto para adentrar um matagal com inúmeros ninhos de serpentes, os quais pouco a pouco fui provando que minha visão dessa cidade estava certa. Por dois anos me sujeitei a usar do meu jogo de cintura para escapar de situações desagradáveis que me impunham. Desde perguntas capciosas em situações em que eu buscava apenas relaxar da rotina, até um almoço onde sabia que seria encurralado no abraço de uma serpente extremamente venenosa, pior, eu estaria em seu reino. Onde isso se encaixa com a aleatoriedade?

Alguns dias atrás, após uma publicação minha vir a ser farejada por uma das serpentes, e eu acabar encurralado em mais uma situação onde eu deveria ter cuidado para escapar sem ter que encarar a Espada de Dâmocles, senti que não adiantava correr mais, e que não deveria mais usar máscaras, afinal sempre existiu essa tensão, sempre era eu o atacado, decidi que suportaria a iminência da espada. Decidi que já era hora de acabar com os joguinhos. E em uma atitude totalmente comandada pela situação que se fez presente, contra ataquei. A melhor parte? A espada está presa por uma corrente grossa, bem forjada. O que eu achei que seria uma retaliação interessante, acabou por ser um texto adolescente cheio de palavras que eram para ser insultos, o que no final me rendeu muitas risadas junto com meus amigos e até mesmo uma queda moral ainda mais acentuada naquele ninho. E um tiro não poderia ter saído melhor pela culatra caso fosse planejado, afinal, nessa cidadezinha a moral que se constrói é tudo, mas a que se auto-destrói é ainda mais tentadora ao resto de víboras e abutres que vivem por aqui.

Mais situações aleatórias estão por vir, amanhã pode ser que eu tenha mais um gostinho dessa briguinha besta, quando voltar para um fim de semana qualquer, e ainda na minha vida fora desse meio. Decidi que a vida sem planos complicados e regras de detenção da minha personalidade e postura é muito mais gostosa. E é assim que minha vida começa. Uma situação inusitada de cada vez, uma reação de quebra de cada vez. Um passo de cada vez.

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