Celebrar o Nordeste e atacar o sistema? Gigante no Mic mostra como em seu novo som

Emanuel Leite
Além das Linhas
Published in
3 min readApr 19, 2019
Foto: @gigantenomic

Lançado no dia 12 de abril, Andarilho Cangaceiro é o mais novo som do rapper goiano Gigante no Mic. Para completar a equipe presente na música, o integrante do Atentado Napalm chamou o MC baiano João Bazilio e o cantor de folk Philipo Hebrom. Essa parceria foi responsável por um dos bons trabalhos feitos nesse começo de 2019.

Apesar de ter sido gravada no fim do ano passado, só agora a música foi lançada junto ao seu videoclipe. Com uma excelente produção audiovisual, créditos ao Said no Beat e ao pessoal do Lado Sujo da Frequência, o som celebra, através dos versos, a cultura nordestina e o destino que os filhos do Nordeste enfrentam no Brasil atual.

Responsável por apontar os signos e cultos nordestinos, João Bazilio não falha em seu trabalho. Exercendo seu local de fala, o baiano é um dos pontos chaves da produção. Além de estar trajado de cangaceiro, Bazilio demonstra tamanha facilidade ao rimar sobre a cultura de onde nasceu.

Foto: @gigantenomic

Antes de começar a falar sobre a parte do dono da música, preciso comentar a participação de Phillipo Hebrom. Acostumado a cantar folk, gênero musical mais melódico e acústico, o músico exerce bem seu papel dentro refrão (versos abaixo), ao saudar a fé das centenas de peregrinos nordestinos pelo Brasil.

O andarilho cangueiro pelo sertão
Na frente o O andarilho cangueiro pelo sertão
Na frente o seu padroeiro, na bainho o facão
Homem da cidade grande, instinto de Lampião
Peregrino Nordestino
Não conta com a sorte!
Mas conta com a fé!seu padroeiro, na bainho o facão
Homem da cidade grande, instinto de Lampião
Peregrino Nordestino
Não conta com a sorte!
Mas conta com a fé!

Desenhando essa mensagem que eterniza minha loucura

Exatamente por reverenciar o Nordeste e seu povo, Gigante no Mic consegue esbanjar todo seu conhecimento sobre a história do Brasil — o músico foi professor de história durante quatro anos de sua vida — e novamente imprime questões da política atual dentro de seu som.

Citando nomes de históricos nordestinos (Lampião, Maria Bonita, Antônio Conselheiro, Frei Caneca e José Lourenço) conhecidos por irem contra ao sistema de suas respectivas épocas, o rapper consegue trazer o tema da revolta para os dias atuais.

Comparando as trajetórias dos rebeldes acima com a história de Lula, Gigante atribui ao fato da história guardar lugares apenas para os revolucionários e não para quem os condena.

Foto: @gigantenomic

O músico deixa bem claro nos versos a seguir, que quer abordar o conflito entre o ex-presidente do Brasil, Lula e o atual Ministro da Justiça, Sérgio Moro, responsável pela prisão de Lula.

Quem condenou José Lourenço? Quem condenou Maria Bonita?
Quem condenou Lampião? Quem condenou Conselheiro?
Quem condenou Frei Caneca? Quem condenou?
Quem são os juízes comparados aos rebeldes que fazem a história?
Quem será Sérgio Moro daqui há cem anos comparado a Luis Inácio Lula da Silva? NORDESTE VIVE!

Sendo assim, o rapper conseguiu escrever um som reverenciando suas raízes — natural de Goiás, sua mãe é nordestina — e põe o dedo na ferida sobre o legado histórico entre dois grandes ícones da história recente do país. Só o futuro conseguirá responder o questionamento do MC.

--

--

Emanuel Leite
Além das Linhas

Jornalista | Moderador de conteúdo | Redator | Analista de mídias digitais