MIXTAPE ØØ1 — Matheus Coringa

Excentricidade, versatilidade e visibilidade

Emanuel Leite
Além das Linhas
5 min readJun 16, 2019

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Fiquei mais de um mês afastado aqui do Medium, sendo meu último trabalho, o pequeno post acerca da faixa ‘Vírus’ de MV Bill. Desde o momento em que comecei a produzir textos semanalmente nessa plataforma, eu tinha a certeza que esse período sabático chegaria, independente do tamanho que ele tivesse.

Não que eu tenha parado de escrever, é algo que faço com bastante vontade e gosto de desenvolver novos estilos para minha escrita. Um exemplo desse meu apreço é justamente este texto que você está lendo. Se pararmos para verificar, nunca falei tão diretamente com o meu público, pois, visava apenas atingir uma boa qualidade de escrita, aguardando ansiosamente a recepção de alguns leitores, para saber as opiniões referentes ao texto.

Atingir o grande público continua a ser uma das minhas maiores metas dentro do Medium, tendo em vista a repercussão do texto sobre o Orochi, que ainda me garante centenas de visualizações mensais, o que continuo achando sensacional.

Enfim, esse desabafo é consequência de uma das lições que aprendi ouvindo e conhecendo o rapper Matheus Coringa, tema desse meu novo projeto aqui no Medium, o MIXTAPE, onde escreverei sobre alguns artistas da cena musical. Vamos logo começar isso!

Estude mais o hip hop, esquece um pouco do hype

Coringa não é uma figura nova nos meus textos. No texto em que abordo a pausa na carreira do rapper Sant, conversei com o Matheus e pedi sua opinião sobre o assunto, por se tratar de um dos MC’s com bastante notoriedade no underground brasileiro. Aliás, independente do Sant voltar ou não, vale muito a pena conferir esse texto.

Confesso que conheci os sons do Matheus através da tão criticada faixa Jack Napier, uma das primeiras músicas lançadas através do projeto Perfil da PineappleStormTV. Apesar da repercussão negativa, o som ‘sujo’ de Coringa me conquistou e mantive os olhos em suas produções, mesmo longe de ser um ouvinte fiel, como ele costuma chamar seus fãs.

A track contém alguns versos que foram considerados polêmicos na época do lançamento, até porque a Pineapple acabava de roubar a atenção da cena com os dois primeiros Poetas no Topo, e o novo público do rap, fruto do momento Pós-Sulícidio, não estava adaptado ao estilo musical de Coringa.

O som não bateu um milhão de visualizações, porém, a tentativa de dar seu recado ao mainstream não falhou e Matheus conquistou a raiva dos novos guardinhas do rap. Seu estilo irreverente e sujo, citado pelo próprio na música, incomodou o público ouvinte e serviu como resposta aos haters do MC, anteriores ou posteriores ao lançamento do perfil.

Falsos me odeiam à la Mister M
Mas como pode? Se eu agito o game
Uns boas rimas outros bons memes
E quem se fode é tu, sua mina nem geme
Isso deprime, conselho
Banho de Listerine (4x)

Eu sou um temporal, não sei dosar minha dose

Nascido na Bahia, criado em Manaus e vivido no Rio de Janeiro, Matheus traz diversas culturas em toda sua vivência. Talvez essa seja uma das causas da sua versatilidade musical. Coringa possui diversos sons que se alternam entre boombap, trap e lo-fi, o que é considerado o padrão para um artista envolvido no cenário do rap.

Entretanto, recentemente o rapper encarou um belo desafio para sua carreira: gravar uma lovesong junto de 1LUM3 — cantora que ganhou destaque nacional ao participar da canção Me Desculpa Jay-Z no último disco de Baco Exu do Blues. A música de Coringa e 1LUM3, Parfum De La Nuit, mostrou que a versatilidade do MC vai além das produções dentro do rap, deixando uma possibilidade aberta para o futuro, apesar de não parecer muito provável.

Coringa também possui uma característica marcante em seu trabalho: a facilidade de produzir com diversos artistas de diferentes regiões. Através de uma breve pesquisa no Youtube e excluindo canções da ODKill, é possível encontrar produções com: rappers do Nordeste (Baco Exu do Blues e Davzera); rappers do Norte (João Alquímico e Victor Xamã); os mineiros da DV Tribo (Clara Lima, FBC e Hot e Oreia); rappers do Sul(GÁBE e Rodrigo Zin).

Este pluralismo cultural que Coringa absorve a cada som com participações só fortifica seu trabalho solo com as diversas referências nas músicas, além de ajudar a promover as produções de seus amigos dentro do rap.

Guiando a geração sabendo o poder de um lírico

Ok, você já percebeu que gosto bastante do trabalho do Coringa. Entretanto, uma das coisas que eu mais aprecio no trabalho dele é seu zelo com seus discos. Em 2016, se dedicou ao máximo e lançou o álbum audiovisual Nictofilia, com uma produção visual pioneira para a época. Infelizmente, o vídeo foi derrubado e não é mais possível conferir a produção no canal do MC.

Após conseguir a repercussão com a track Jack Napier, Coringa se concentrou em produzir o seu mais novo álbum, a Mixtape Sujoground Vol. 1. O disco possuía novamente o instrumental produzido pelo próprio MC, novamente mostrando sua dedicação, ao produzir seus próprios beats.

A visibilidade do rapper após 2017 só aumentou e após passar um ano em branco, em relação a álbuns, Coringa aposta em uma produção audiovisual com o beatmaker mexicano Gordo Jazz, responsável pelo instrumental em seu som Atemporal. A previsão de lançamento do disco é para o meio deste ano e promete ser mais um belíssimo trabalho audiovisual, com a produção visual do fiel diretor de Coringa, Eduardo da Matta.

Enquanto isso, o importante é deixar o Coringa trabalhar, como o próprio avisa em seu primeiro sucesso Ilógico I.

Quem mandou abrir as portões do inferno?
Matheus era um apóstolo, o coringa tá usando terno!

[…]Foda-se eu vim do esgoto!
Não vim pra te curar!
Se torrar minha paciencia hoje eu vou te exorcizar!

Caso você queria opinar ou sugerir um tema, só mandar na caixa de respostas que fica aqui em abaixo, é isto, até a próxima MIXTAPE!

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Emanuel Leite
Além das Linhas

Jornalista | Moderador de conteúdo | Redator | Analista de mídias digitais