MIXTAPE ØØ2 — FBC

Experiência, insistência e qualidade

Emanuel Leite
Além das Linhas
5 min readJun 30, 2019

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Instagram: @pineapplepnpl

“Você já ouviu o disco do FBC?

O disco em questão é o ‘S.C.A.’ — Sexo, Cocaína e Assassinatos — e a marca registrada do álbum é que seu maior divulgador é o próprio FBC.

Cinco anos depois de lançar C.A.O.S., S.C.A é o segundo disco do rapper, que despontou no cenário nacional devido suas atuações no Duelo de MC’s, principal batalha de rap de Belo Horizonte. Hoje, FBC vive um momento de notoriedade e quem gosta dos sons do Fabrício só tem a agradecer.

Recentemente, Fabrício lançou três clipes do seu novo álbum, que, além de consolidar sua figura dentre os novos nomes do rap brasileiro, exemplifica por si só a recente força dos artistas provenientes de Minas Gerais.

A primeira faixa do disco, Frank & Tikão, foi uma das que ganhou produção audiovisual, feita pelo pessoal da PineappleStormTV. Para fazer jus a letra da música, FBC aparece em seu clipe como se estivesse no filme Poderoso Chefão, só que ao invés de Marlon Brando, é Fabrício que incorpora Vito Corleone, se tornando ‘o Padrinho’ da máfia.

Instagram: @pineapplepnpl

Em uma clara figura de poder e riqueza, ao lado de sua mulher Michele, FBC se caracteriza perfeitamente como os versos da faixa aparentam ser: um pobre que ascendeu na vida e não quer mais ser tratado com desdém por aqueles que se julgam superiores a ele.

Nunca mais vão me chamar de pobre
Nunca mais vão me chamar de sujo (Nunca mais)
Nunca mais vão me chamar de feio (Nunca mais)
Nunca mais vão me chamar de mal-vestido

Inquietos podem mudar de opinião, conformados nunca

Há bastante tempo que escuto S.C.A e penso em escrever sobre. Muitos o tratam como uma piada, um simples meme, contudo, S.C.A realmente é um bom álbum. Um trabalho acima da média e nada desgastante, justamente o necessário para alavancar a carreira de um talentoso MC como FBC.

Antes de fazer uma leve abordagem sobre o CD, preciso dar uma sugestão de leitura. O texto produzido pelo Tiago Vinicius da SONÂNTICA faz um excelente debate sobre as nuances presentes no trabalho do rapper mineiro. Leiam!

Todas as dez faixas do disco possuem muitas semelhanças entre si. O enredo do disco se baseia no discurso de ascensão social através dos frutos da música. Por exemplo, na faixa ‘Não Duvide’, FBC faz seu ouvinte refletir sobre o preço de seu sucesso e os desejos que tem para o seu futuro.

Quanto custa atingir o topo sem perder a alma?
Ao tingir de sangue essa escada, diga quanto custa
Quanto custa?
Eu tive fome, eu tive sede, eu tive sono, mano
Eu não dormi, eu tive força, eu tinha um sonho, mano
Dar pros meus filhos tudo aquilo que eu não tive
Bike, games, não, mano, é um pai presente

Ao falar da violência e das truculências da polícia, FBC reserva três sons para causar esse impacto social, trazendo a pauta à tona em um disco de trap, contrário do que costuma acontecer dentro da cena do rap, quando utilizam o boombap para propagar o efeito da mensagem.

Todos esses sons possuem relatos que criticam as ações da polícia. Quando falo sobre pelo menos três, me refiro as músicas:

17 Anos (e um 38)

Ao falar de armas e maioridade
Num país sem norte, só polaridades
Fato: todo pobre já vai nascer preso
E pra ser morto não existe idade
E pra esses jovens militantes, estudantes
Elegendo militares aos milhares
Querem intervenção sem noção
Imagine o que são idiotas se armarem com
17 anos e um 38, 17 anos e um 38

Poder, Pt. 2

Não fale, não falhe
Os fracos morrem primeiro
[…]
Nem parecia tão difícil a fita
Um cofre, cinco manos, um vigia, é
Cinco tiros e minha boca se encheu de sangue

[…]
Pessoas gritam a todo tempo, eu devo estar sonhando
Alguns debocham, já foi tarde, deve ser comigo
O giroflex me deixou com sede
Daqui vendo esses flashes lembrei seu sorriso
Eu era o seu gênio da lâmpada, eu tinha ideias pro futuro
Imaturo, seus desejos quis realizar
E o que eu consegui com isso?
Foi te dar outra data triste no calendário que te faz chorar
Ouvi você dizer da viatura
Vou ter saudade de te ver na rua

Contradições

Enquadro da cena, essa cena é um quadro
Assassinos em série, eleitores de Bolsonaro
Eu aprendi a não fumar na rua ou sozinho na quadra
Mastigando beck por conta de uma planta
Ou de um conto de fada levando tapas na cara
De dez canas pilantras protegidos pela farda
A SS do Estado, máquina de matar favelado, preto, pobre

Você deve conhecer alguém que tá preso ou já é finado
Vários que eram ou não do corre

Versos originalidade e eles só versão

Instagram: @dvtribo

A forte ascensão de FBC na cena do rap brasileiro representa o crescimento de mais um nome da DV Tribo no mercado. Com Djonga praticamente firmado como um dos maiores nomes recentes do rap, fica evidente o legado deixado pelo grupo no atual cenário, que se encontra em pausa desde abril do ano passado.

Com um espaço cada vez maior no mercado para Coyote e Clara Lima, a dupla de MC’s Hot e Oreia foram os últimos do DV a impactar no mainstream do gênero, com a música ‘Eu Vou’, com participação de Djonga, mas os dois são o foco de outro texto.

Não tem mais como negar a qualidade da cena de Minas Gerais, que vai muito além dos integrantes do DV. Os mineiros cada vez mais se expandem dentro do rap e tudo indica que 2019 é o ano da colheita de FBC e todos os outros membros do seu antigo grupo. De fato, Fabrício parece ter sido certeiro em sua previsão dentro do refrão da faixa ‘Frank & Tikão’, agora não tem mais como segurar o Padrinho.

Eu tenho um plano: eu vou ficar rico!
Eu tenho um sonho e esse ano ele me deixa rico
Deixar a família bem, emprego pros amigo
Deixar a família bem, emprego pros amigo

Caso você queria opinar ou sugerir um tema, só mandar na caixa de respostas que fica aqui em abaixo, é isto, até a próxima MIXTAPE!

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Emanuel Leite
Além das Linhas

Jornalista | Moderador de conteúdo | Redator | Analista de mídias digitais