O encontro de gerações

Emanuel Leite
Além das Linhas
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3 min readMar 18, 2019
Da esquerda para direita: Rincon Sapiência (33), Mano Brown (48), Emicida (33) e Criolo (43)

Um encontro de diferentes artistas foi registrado nos bastidores de um show da turnê “Boca de Lobo” do rapper paulistano Criolo. Nesse registro, pudemos notar que, além do dono do show, estavam presentes dois grandes nomes consagrados no cenário do rap brasileiro, Mano Brown do grupo Racionais MC’s e o cantor Emicida. No canto esquerdo da imagem, também há a presença do rapper Rincon Sapiência, que nos últimos anos vive a melhor fase de sua carreira, após sacudir a cena com seu último álbum “Galanga Livre“.

No entanto, foi um comentário, sobre Rincon, na publicação feita no Instagram oficial de Mano Brown, que me deu razões mais que suficientes para escrever esse texto.

Esse tal de Rincon não merece subir no mesmo palco que esses três monstros.

Para entender esses meus motivos, é preciso que voltemos alguns anos.

Um trabalho a longo prazo

Rincon Sapiência em “Linhas de Soco”

Rincon Sapiência, vulgo Manicongo, certo?

Um dos versos mais marcante da carreira de Danilo Albert Ambrosio, o Rincon Sapiência. O rapper original de São Paulo começou a trabalhar com o rap durante os anos 2000 com diversos trabalhos em grupos de rap da capital paulista e participou de projetos de fortes nomes do cenário paulista como Emicida, Rashid e Projota, assim possuía o necessário para seguir o caminho destes outros músicos e alavancar sua carreira no começo da década atual. Contudo, parafraseando o poeta de sete faces, Carlos Drummond de Andrade, havia uma pedra no meio do caminho de Rincon.

Essa pedra possuía o nome de Rick Bonadio, famoso produtor musical com bastante sucesso na década passada. A aproximação entre Rick e Rincon começou quando o rapper lançou o single “Elegância” em 2010, atraindo os olhares de Bonadio para seu trabalho. Após assinarem o contrato para trabalharem juntos no selo musical de Rick, Rincon chegou a participar de um disco da banda de rock NX Zero, também afiliada a Midas Music, enquanto trabalhava na gravação de seu álbum de estreia.

Contudo, foram tantas divergências entre o rapper e o produtor, que o projeto do CD de Rincon sob o selo de Midas Music nunca saiu do papel, com Rincon saindo da produtora, ocorrido este relatado pelo rapper fortalezense Don L na música “Fazia Sentido” de seu álbum“Roteiro Pra Aïnouz, Vol. 3".

Antes do Rincon ter um hit, e receber uma geladeira Rick

Boia Fria, Galanga Livre e os louros

Foto comemorativa de um ano de seu álbum Galanga Livre, lançado em de 2016

A saída de Rincon de um importante selo musical poderia ter sido um tiro no pé de sua longa caminhada, entretanto, ao encontrar a Boia Fria Produções, o músico, felizmente, renasceu das cinzas como uma fênix, ao lançar o EP “SP Gueto BR” (2014) com a ajuda de sua nova produtora.

No entanto, foi o lançamento dos singles “Linhas de Soco” (2014) e principalmente “Ponta de Lança” (2016) que o Manicongo conseguiu recuperar seu prestígio na cena musical, em um momento único do cenário, onde novos nomes como Baco Exu do Blues, BK e Djonga repercutiam nacionalmente com seus projetos e renovavam a cena do rap brasileiro, trazendo a nova geração para o centro das atenções dos fãs do gênero.

Nesse mesmo período, Rincon Sapiência lançava seu tão sonhado álbum “Galanga Livre”, um sucesso tanto musical como comercial, firmando seu nome entre esses novos artistas do cenário. Apesar disso, Rincon tem de ser encarado como um músico que transita entre as duas gerações e respeitado por isso. Então, na próxima vez que você ver um comentário menosprezando o trabalho e a trajetória do Manicongo, sempre se lembre do prelúdio da música “Ponta de Lança”. Waaaw!

Salve
Ok
Rincon Sapiência, conhecido também como Manicongo, certo?
Quando alguém fala que eu não sou um MC acima da média, eu falo:
(Ahn? Ahn? Ahn? Ahn?)
Eu não entendo nada, pai

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Emanuel Leite
Além das Linhas

Jornalista | Moderador de conteúdo | Redator | Analista de mídias digitais