Sobre decadência e fim de ciclo
Estamos no segundo quarto do ano astrológico, um ano de grandes transições — em março, escrevi um texto explicando que 2020 é o ano de encerramento de duas grandes eras astrológicas, a maior delas de 360 anos, chamada “dawr”. Estamos deixando uma era que começou em 1660, regida por Saturno em Virgem, marcada pela ânsia materialista, mercantil, produtivista. Nesse longo período, gerações aprenderam a enxergar a natureza como “recursos”, a extrair a última gota de tudo que está à nossa volta. No pensamento colonizador, não há espaço para preservação, muito menos pra temperança — virtude de Saturno, que em Virgem está peregrino, sem força. “Mais é sempre melhor”.
Há algo de reconhecível na crise econômica, social, política e ambiental atual: no fundo, muitos de nós sabemos as razões que nos trouxeram até aqui. Não atiro culpa sobre o individual, porque grandes mudanças só podem ser operadas no coletivo, mas é preciso reconhecer a responsabilidade de algumas decisões que podemos, sim, tomar. As escolhas que sabemos, sim, que podemos melhorar. Se o “apocalipse” chegou em 2020 e nenhum hábito de consumo foi reconsiderado, me pergunto o que mais precisa ocorrer para motivar qualquer iniciativa. Me pergunto se temos alguma coesão coletiva para impedir futuras catástrofes. Não sou eu que digo — ao ritmo que estamos, sim, elas virão. “As pessoas tem problemas urgentes”; é claro que não é dessas pessoas que estou falando. O mundo hoje, em colapso, é consequência de 360 anos de exploração desenfreada, especialmente dos mais vulneráveis. Quase tudo que passou pelas nossas mãos têm origens e fins duvidosos. Essa provocação, longe de uma repreensão, é um convite para revisar o significado da materialidade que existe à sua volta. Abrir mão do que definha o corpo e a alma é reverenciar a própria vida.