corpo: eu vim pro mundo pra desmontar

algo deu errado
algo deu errado
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2 min readAug 2, 2018

O futuro já acontece e reimaginamos o corpo humano. As transformações reinventam o que é a carne, o que é ser. Tudo se extrapola, nossos vãos órgãos em movimento invocam a brincadeira, o riso e a reflexão. Corremos para chegar ao fim do dia como a palavra que resiste à renovação de cada uma de nossas células.

Foto de Inês Nin

quatro apontamentos sobre a deriva da foto de alguém para correr comigo em suas lembranças
Viviane Nogueira

uma previsão de enquadre
(atividade de alto impacto)
-
uma visão panorâmica
indefinidos os bpm de
frequência cardíaca ideal
-
um alerta às suas pernas flácidas
e aos seus joelhos frouxos
-
um aviso breve do desejo
sobre a corrida
cada centímetro seu
contra aquele corpo lento

Cesare Rodrigues

Quando o corpo de Usain Bolt alcança sua velocidade máxima
parece bater no chão tão forte quanto um velociraptor
calçando sapatilhas numa pista de poliuretano.
Suas passadas largas, que se sucedem sem respiração,
denunciam como 10 segundos podem parecer três séculos,
mas a forma como ele sorri
ao passar pela linha de chegada tão antes dos outros
traduz claramente a certeza de que
se um velociraptor de sapatilhas os perseguisse
alcançaria algum outro antes dele.

Victor Gaspari

propósito
Carol Sanches

eu vim pro mundo
pra desmontar
saber o que tem dentro
sentir se cheira
notar o engasgo das curvas
[meu deleite é a parte
que me assombra]

nada existe
sem que antes
se misture
comigo; empilho:
experiência
não acuso intestino alheio
entorno o caldo
como de costume
dou nó no ponto

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algo deu errado
algo deu errado

poesia inesperada | poemas dos participantes do Curso Livre de Preparação do Escritor (Clipe) da Casa das Rosas, 2018