Aplicação da Economia Circular — práticas de sucesso em diversos setores

Pedro Manuel Simões Fernandes
Aliados Consulting
Published in
6 min readJan 29, 2021
Photo by Bas Emmen on Unsplash

Transversal a todos os setores da economia, a problemática da geração de resíduos ou da falta de eficiência na utilização de recursos nos processos das empresas, cria um problema de sustentabilidade que apenas pode ser colmatado com a introdução de Princípios da Economia Circular.

A Circularidade é um processo contínuo dentro das empresas, que deve ser pensado não no final do ciclo de vida do produto, mas sim no início, com o objetivo de criar ciclos de vida fechados. Este sistema deve passar por uma análise transversal, abrangendo a otimização do design dos produtos, a produção e distribuição, a sua utilização e/ou reutilização, a sua reparação e, finalmente, a reciclagem. Esta ampla abordagem torna possível aumentar a eficiência do uso de recursos e retirar o maior valor económico possível destes.

O Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC) define 3 princípios de Economia Circular:

  • Conceber produtos, serviços e modelos de negócio que previnam a produção de resíduos e poluição do sistema natural;
  • Manter produtos e materiais em utilização, no seu valor económico e utilidade mais elevados, pelo máximo tempo possível;
  • Fomentar a regeneração dos recursos materiais utilizados e dos sistemas naturais subjacentes.

De forma a ser possível entender como aplicar estes princípios nos processos, identificámos algumas práticas de Economia Circular, capazes de responder a alguns dos desafios:

ZOURI

https://www.zouri-shoes.com/Home/About

A ZOURI é uma marca de calçado eco-vegan que utiliza plástico recolhido na costa marítima portuguesa, bem como materiais sustentáveis e ecológicos na sua produção. Esta ideia surge da necessidade de limpar o oceano e as praias, reutilizando os materiais recolhidos.

Vários tipos de plástico, como garrafas ou restos de redes de pesca, que se podem encontrar nas praias, são recolhidos e utilizados pela marca para produzir calçado, sendo que nestes produtos não entra qualquer matéria-prima animal. Utilizam materiais naturais que vão desde a cortiça à borracha ou compostos feitos de folhas de ananás. O plástico recolhido é utilizado nas solas do calçado, sendo que cada par utiliza cerca de uma dezena de garrafas de plástico retiradas do litoral do país. Na embalagem do calçado, consta ainda a referência à praia de onde o plástico foi recolhido.

Teemil

Circular Fashion — Teemil

A Teemil é uma empresa de vestuário que atua com o objetivo de reduzir a criação de desperdício em todas as fases da cadeia de valor. Desde a sua produção responsável de algodão, a marca afirma-se com um conceito muito para além do slow fashion. Um dos seus principais produtos é a tecnologia de impressão em tempo real, sendo que apenas estampam e fabricam as peças de roupa que realmente são compradas e estas são preparadas logo após o ato de compra por parte do cliente.

Com a identificação de que menos de 1% do material utilizado para produzir vestuário é reciclado em novas peças, a Teemil desenvolveu um processo de produção circular que transforma T-shirts velhas em novas, regenerando os sistemas naturais. Esta abordagem vê o setor têxtil como um sistema conectado, e aplica princípios de design circulares e novas tecnologias.

As T-shirts da marca podem ser devolvidas quando o consumidor se quiser desfazer delas, sendo utilizadas para a concepção de novos produtos. O resultado final passa por uma nova T-shirt, reciclada, ligeiramente mais pesada, mas com uma maior durabilidade e cuja marca ainda não encontrou limites à quantidade de vezes que estes produtos podem ser reproduzidos.

DB Export

A DB Export é uma empresa de produção de cerveja da Nova Zelândia, que lançou um projeto denominado Beer Bottle Sand. Este projeto visa incentivar a reciclagem de garrafas de cerveja, transformando-as em areia que pode ser utilizada em diversos setores.

As garrafas vazias têm dois caminhos possíveis neste processo. Os consumidores podem dirigir-se a uma máquina específica e depositar as suas garrafas vazias, onde vêem, em tempo real, as garrafas a ser trituradas e transformadas em areia. Alternativamente estas garrafas podem ser enviadas para a reciclagem, onde são triadas, sendo que parte delas segue para a manufatura do vidro e a outra parte segue para o processo de trituração. A criação de areia a partir do vidro reduz a dependência de areia das praias e pode ser utilizada por empresas de construção, estradas, cimento, entre outras.

The Greatest Candle in The World

The Greatest Candle in The World

A O2W — Oil2Wax é uma empresa que desenvolveu a marca The Greatest Candle in The World aplicando uma tecnologia inovadora que, utilizando os desperdícios de óleo e azeite alimentar ou cosméticos, cria velas decorativas ecológicas e aromatizadas. As velas são feitas com resíduos e não com recursos naturais, não adicionando carbono ao ambiente. Comercializam ainda kits DIY, incentivando a criação doméstica de velas ecológicas e personalizadas. Estes produtos vêm colmatar o problema da poluição de água provocada pelos azeites e óleos alimentares, dando uma nova vida aos resíduos.

Replenish

http://www.myreplenish.com/

A maior parte dos produtos de limpeza que são adquiridos consistem em 90% água e menos de 10% de ingredientes ativos, sendo estes produtos embalados em garrafas de plástico de uso único. Desta forma, a Replenish 3.0, uma plataforma universal de packaging, desenvolveu uma garrafa reutilizável que permite agregar uma recarga de produto concentrado à embalagem. Este sistema pode ser usado em diversos produtos, desde limpeza a bebidas. Este packaging permite que o concentrado entre diretamente da recarga para um copo de medição que está dentro da garrafa reutilizável, apenas sendo necessário adicionar água. A Replenish vende os seus próprios produtos mas também trabalha com outras marcas de forma a incorporar este sistema.

Os resultados desta abordagem refletem-se num menor consumo energético, menor geração de resíduos de plástico e menos emissões de dióxido de carbono em cerca de 80–90% quando comparado com as garrafas de uso único, tornando desnecessário o transporte de “água” a longas distâncias, diminuindo os seus custos.

Fruitmotor

https://hollandcircularhotspot.nl/case/de-fruitmotor-circular-fruit-cultivation/

A Fruitmotor é uma marca holandesa que trabalha com agricultores locais, acrescentando valor ao excedente de frutas produzidas por estes, pagando-lhes um preço justo pelos produtos, permitindo que os produtores consigam investir nas suas produções em pomares sustentáveis. Por outro lado, os agricultores têm um compromisso de investir em cercas de flores e canteiros, que atraem insetos, aumentando a biodiversidade.

A empresa compra o excedente de maçãs aos produtos locais, produtos estes que devido a não corresponderem a determinados padrões estéticos, não podem ser comercializados. Assim, com estas maçãs, a Fruitmotor produz cidra de maçã com e sem álcool, dando uma nova vida a produtos que, de outra forma, seriam desperdiçados. Em 2017, este processo permitiu transformar um total de 20 toneladas de excedente de fruta.

Posto isto, é evidente que todos os setores podem e devem comprometer-se com os princípios da Economia Circular, seja na redução do desperdício incontornável que produzem, seja na concepção de novos produtos. É importante acompanhar aquilo que o mercado tem vindo a realizar neste sentido e os esforços que têm sido feitos. A Economia Circular é um compromisso para todos, que deve começar nas empresas.

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Pedro Manuel Simões Fernandes
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