Aplicação da Economia Circular — práticas de sucesso em diversos setores II

Pedro Manuel Simões Fernandes
Aliados Consulting
Published in
6 min readFeb 25, 2021
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A introdução dos Princípios da Economia Circular no contexto empresarial, é uma das formas mais eficientes de atingir a Sustentabilidade, aumentando a eficiência e reduzindo o desperdício e a geração de resíduos.

Como evidenciado no artigo anterior, já existem diversas empresas que são capazes de dar resposta a estes desafios e aplicar esta estratégia nos seus processos. Desta forma, evidenciamos aqui mais algumas práticas de sucesso em diferentes setores:

Fairphone

Fairphone

A Fairphone é uma empresa holandesa criada com o objetivo de disponibilizar telemóveis mais “justos”. Os telemóveis da marca são produzidos tendo em consideração o seu elevado desempenho, bem como a sua durabilidade, compreendendo um design modular e peças sobresselentes, capazes de tornar mais fácil a reparação e a personalização dos equipamentos.

A durabilidade dos telemóveis da marca e a capacidade de substituição de peças, permitindo o reparo de apenas partes, em vez da substituição inteira do equipamento, permite reduzir a pegada ecológica e aumentar o tempo de vida do produto. Assim, ao serem capazes de utilizar a máxima capacidade dos consumíveis eletrónicos, vão ao encontro da economia circular pelo encorajamento da reutilização, reparação e reciclagem de peças, reduzindo a criação de lixo eletrónico. Para além disto, a empresa tem em consideração as condições sustentáveis de extração de matérias-primas, tentando sempre incorporar o máximo de material reciclado.

ByFusion

ByFusion — ByBlocks

A ByFusion desenvolveu um novo processo de reciclagem e reutilização de plásticos. Este processo passa pelo upcycling eficiente dos desperdícios de plástico, utilizando um método de fabrico não tóxico e de baixas emissões, criando um novo material denominado de ByBlock. Este material utiliza um processo de superaquecimento e moldagem de blocos que podem ser usados em construção.

O ByBlock é produzido para ser utilizado em projetos de infraestruturas e construções, sendo altamente customizável, amigo do ambiente, e tem um elevado potencial de isolamento térmico e acústico, garantindo cerca de menos 41% de emissões de gases de efeito de estufa, quando comparado com outros materiais convencionais. Tem ainda a vantagem de que não ganha fissuras quando comparado com o cimento convencional. Uma das aplicações mais interessantes deste material tem sido na construção de muros de contenção na costa da Nova Zelândia e na Califórnia, pois é capaz de resistir à degradação e à exposição ambiental.

Jospak

https://jospak.com/

As embalagens para alimentos são, normalmente, feitas inteiramente a partir de plásticos, sendo que na Europa, este tipo de embalamento representa uma grande parte dos resíduos gerados. A reciclagem destes produtos não é fácil, uma vez que, na maioria das vezes, contém diversas camadas de plástico, dificultando a sua triagem.

Desta forma, a Jospak desenvolveu um tipo de embalamento de alimentos que contém até menos 85% de plástico quando comparado com um embalamento convencional. Estas embalagens consistem numa bandeja feita de cartão ou cartão ondulado, fabricado a partir de matérias-primas naturais e ainda uma película de plástico de forma a selar hermeticamente o produto. Esta embalagem é fácil de reciclar, uma vez que os dois componentes podem ser facilmente separados e reciclados de acordo com o seu tipo de resíduo.

Li-Cycle

A Li-Cycle desenvolveu uma forma inovadora e totalmente circular para a cadeia de abastecimento das baterias de lítio, num contexto em que a eletrificação é tão necessária para o combate às alterações climáticas. Tradicionalmente, a reciclagem de baterias de lítio envolve processos focados no níquel e no cobalto, deixando de parte outros materiais que não são recuperados. Esta empresa procurou demonstrar que os materiais secundários de uma bateria usada, podem ser usados para desenvolvimento de baterias novas de uma forma económica e sustentável.

A Li-Cycle usa a tecnologia patenteada Hub and Spoke de forma a recuperar entre 80 a 100% dos materiais dentro de uma bateria. No final de 2020, era estimada a capacidade de processar 7500 toneladas de baterias de lítio por ano. Os produtos recuperados, tornam-se materiais para a cadeia de abastecimento de baterias. Quando os materiais não são de qualidade suficiente, são encontrados outros caminhos de circularidade como fabricação de aço, placas de gesso ou pavimentos de plástico.

Esta abordagem vem alterar o paradigma acerca da recuperação e reciclagem de materiais provenientes de baterias, evidenciando um caminho sustentável para a utilização de carros elétricos não criando resíduos provenientes do armazenamento de energia. Este processo cria zero resíduos e, uma tonelada de produção de baterias circulares, emite menos 74% de gases de efeito de estufa quando comparado com os processos convencionais.

Rype Office

Rype Office — Sustainable and Affordable Office Furniture

A Rype Office é uma empresa de remanufatura e design de mobiliário britânica, que trabalha no combate às 300 toneladas de mobiliário de escritório que vão diariamente para aterro no Reino Unido. Apesar de desvalorizado, este tipo de resíduo apresenta um problema ambiental significativo. Investigações demonstram que durante cerca de 40 anos de vida de um edifício comercial, o mobiliário representa uma grande parte das suas emissões de gases de efeito de estufa, contabilizando cerca de 30% do total da pegada de carbono do edifício. Isto deve-se principalmente ao facto da procura de compra de mobiliário novo e descarte para aterro no final do seu ciclo de vida.

Desta forma, a Rype Office oferece aos seus clientes mobiliário com uma reduzida pegada ambiental a um preço de menos de metade, quando comparado com um produto novo. A empresa utiliza a mobília usada do stock dos seus clientes e de outras doações de empresas. O design integra itens remanufaturados juntamente com mobiliário criado a partir de materiais desperdiçados. Todos os produtos vendidos estão associados a uma oferta de devolução, de forma a que possa ser devolvida e remanufaturada quando já não for útil.

Estes materiais, ainda com valor, quando vão para aterro, não só ocupam espaço, como poluem os ecossistemas, representando perda de valor e de oportunidade para a prevenção da extração de matérias-primas da natureza. A remanufatura de uma peça de mobiliário de escritório representa uma redução de 80% da pegada ambiental quando comparado com um produto novo.

Magnomer

Magnomer — Design2Recycle

Atualmente, apenas 6 por cento das garrafas de plástico são recicladas em novas garrafas. Os elementos de design do embalamento impedem a reciclagem quando não podem ser separados das garrafas de plástico que estão associados. Estes componentes, podem resultar na impossibilidade de processamento da garrafa ou resultar num plástico reciclado de baixa qualidade. Com isto, as marcas necessitam de procurar soluções compatíveis com as cadeias de abastecimento existentes.

Assim, a solução encontrada pela Magnomer, a Design2Recycle, usa uma tinta magnética que elimina um obstáculo crucial na reciclagem de embalagens de plástico. Como parte do processo industrial de reciclagem, as embalagens são moídas em pequenos flocos que são posteriormente derretidos para processamento futuro. Sem a tinta magnética, os rótulos convencionais podem causar flocos de plástico com impurezas, tornando a reciclagem mais difícil e menos eficiente.

Com a tinta magnética da Magnomer, os rótulos podem ser removidos utilizando ímans, separando apenas os flocos de plástico puros. Esta tecnologia da marca pode ser aplicada em diversos tipos de resinas e de embalamento, sendo facilmente incorporada em processos de impressão já existentes. A Design2Recycle contribui para fechar o ciclo dos plásticos, providenciando às marcas a capacidade de aumentarem a sua taxa de reciclagem e oferecendo aos consumidores produtos mais sustentáveis.

De acordo com as práticas já existentes nas empresas que aplicam os princípios da Economia Circular, é possível identificar a capacidade de adaptar e criar novos modelos de negócio, aptos a dar resposta aos desafios para a sustentabilidade dos dias de hoje. Todos os setores têm a capacidade de desenvolver soluções circulares, acompanhando os processos que o mercado tem vindo a desenvolver. Essa adaptação é feita nas empresas, mas o seu impacto é global.

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Pedro Manuel Simões Fernandes
Aliados Consulting

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