Construir e Identificar Modelos de Negócios Sociais

Pedro Manuel Simões Fernandes
Aliados Consulting
Published in
5 min readJul 9, 2021
Photo by Joel Muniz on Unsplash

tl;dr: Na Aliados Consulting desenvolvemos um relatório com exemplos de 16 modelos de negócio sociais, baseado no artigo da The Dragonfly Collective. Pode aceder ao documento aqui.

O empreendedorismo social e a criação de negócios sociais podem ser bastante desafiantes, especialmente para aqueles que estão a ter um primeiro contacto com a área . De facto, existem milhares de empresas sociais em todo o mundo que geram impactos positivos de maneiras muito diferentes umas das outras.

Cada empreendedor social tem uma missão, uma proposta de valor específica para oferecer e, mais importante do que isso, um modelo de negócio. Porém, nem sempre é fácil entender como é que cada uma das empresas sociais cria, entrega e retém esse valor.

Assim, o que é um modelo de negócio?

Um modelo de negócio é uma estrutura que uma empresa segue como forma a trazer valor para os seus consumidores e clientes. Contudo, há pelo menos três medidas de sucesso para um modelo de negócio: a capacidade de gerar lucros para os seus proprietários; a capacidade de gerar impacto positivo no mundo; a capacidade de atingir o balanço entre lucro e impacto positivo. A primeira abordagem aplica-se aos modelos de empresas convencionais com fins lucrativos; a segunda abordagem aplica-se aos modelos de caridade tradicionais; a terceira abordagem aplica-se ao empreendedorismo social.

Com isto, um modelo de negócio social define-se como uma estrutura que uma empresa social segue de forma a causar impacto positivo à sua volta ao mesmo tempo que consegue manter retornos financeiros positivos. A motivação primária para um empreendedor social passa sempre pela procura da resolução de um problema social, seja através da criação de um negócio ou pelo uso de princípios de mercado, como a venda de produtos ou serviços.

Em 2012, Wolfgang Grassi publicou um estudo, onde identificou 9 modelos de negócio de empresas sociais. A sua análise utilizou uma abordagem dos 3 principais fatores que guiam qualquer negócio social:

  • a missão;
  • o tipo de integração;
  • a população-alvo.

Com esta informação, explorou a forma como estes fatores se intersectam com as principais categorias de negócio (com fins lucrativos, sem fins lucrativos e híbrido), gerando 9 modelos de negócio que podem ser adotados por qualquer empresa social:

  1. Modelo de Apoio ao Empreendedor

Este modelo de negócio social vende serviços de apoio ao negócio diretamente aos empreendedores na sua população-alvo. Este apoio pode ser dado através de serviços de consultoria, formação, microfinanciamento ou apoio técnico. As organizações que pertencem a esta categoria podem incluir organizações de desenvolvimento económico, organizações de serviços de desenvolvimento de negócios e microfinanciadores.

2. Modelo de Intermediário de Mercado

Empresas com este modelo de negócio geralmente ajudam os seus clientes no marketing e venda de produtos e serviços para os clientes, possibilitando acesso a mercados. Por exemplo, uma organização que ajuda pequenos agricultores com necessidades através de estratégias de marketing e que vende as colheitas destes, pertence a esta categoria.

3. Modelo de Emprego

Este modelo de negócio fornece aos seus clientes oportunidades de emprego e de formação. As receitas geradas por estes trabalhos pagam as despesas da empresa social e retornam aos serviços prestados aos necessitados. Muitas organizações de jovens e portadores de deficiências adotam este modelo.

4. Modelo Fee-for-Service

Este modelo de negócio social é um dos mais adotados pelas empresas sociais. Estes negócios cobram diretamente aos consumidores pelo benefício social que prestam através dos seus serviços. Muitos hospitais, escolas, museus e organizações associativas usam este modelo em maior ou menor grau.

5. Modelo de Cliente de Baixos Rendimentos

Os modelos sociais nesta categoria geralmente oferecem diretamente serviços sociais, como no modelo anterior, ao mesmo tempo que se focam em clientes com baixos rendimentos. Hospitais e programas de saúde que oferecem serviços de cuidados de saúde a pacientes com baixos rendimentos, normalmente adotam este modelo.

6. Modelo Cooperativo

Esta é a categoria mais reconhecida de negócios sociais. A cooperativa é normalmente uma organização associativa com base em taxas que fornece serviços aos membros de um grupo que compartilham uma necessidade ou um objetivo comum. A cooperativa pertence e é dirigida pelos seus membros, que fazem a gestão e recebem os benefícios do seu sucesso. Dois dos tipos mais conhecidos de cooperativas incluem cooperativas de crédito e empresas pertencentes a funcionários.

7. Modelo de Ligação ao Mercado

Negócios sociais que atuam como intermediários para os seus clientes, normalmente adotam este modelo. Estas empresas focam-se na construção de relações e na conexão dos seus clientes com os mercados específicos para os seus produtos e serviços. Contudo, ao contrário dos negócios que adotam o Modelo de Intermediário de Mercado, estes negócios não comercializam ou vendem os produtos dos seus clientes por eles. Muitas associações comerciais adotam este modelo de ligação.

8. Modelo de Subsidiação de Serviços

Este tipo de negócio social financia programas sociais pela venda de produtos e serviços no mercado. Subsidiação de serviços é um dos modelos sociais mais comuns que praticamente qualquer empresa social pode adotar. Ao contrário do Modelo de Apoio Organizacional, os negócios sociais de subsídios de serviços integram o seu negócio interno com os programas sociais externos. Por exemplo, uma empresa de advocacia pode usar a receita gerada pela prática regular de advocacia do seu escritório para financiar um programa social que fornece esses mesmos serviços de forma gratuita para os mais necessitados. A empresa pode executar o programa nos seus próprios escritórios e fornecer os seus próprios serviços de advocacia gratuitamente.

9. Modelo de Apoio Organizacional

Esta categoria de negócios sociais, da mesma maneira que os pertencentes aos Modelo de Subsidiação de Serviços, vende produtos ou serviços para financiar programas sociais. Porém, os programas sociais que estes financiam são parte de uma organização-mãe separada. Ou seja, um negócio social de apoio organizacional angaria fundos para uma empresa-mãe sem fins lucrativos que, em retorno, gere programas sociais que o negócio social quer apoiar.

Ainda que a maioria dos negócios sociais se enquadre naturalmente numa destas 9 categorias, há sempre espaço para novos e combinados modelos que possam vir a surgir.

Se o negócio social que está a tentar construir não se enquadra em nenhum destes modelos, poderá fazer sentido explorar outros modelos diferentes. Para isso, desenvolvemos um documento de apoio com exemplos de 16 modelos de negócio sociais, baseado no artigo da The Dragonfly Collective.

Pode aceder ao documento aqui.

Assim, o panorama do empreendedorismo social é claramente muito vasto, havendo oportunidade de construção de negócios inovadores e diferenciados que não necessitam de se cingir a apenas um modelo de negócio. A combinação de vários modelos proporciona uma maior e mais interessante capacidade de gerar impacto e de responder aos desafios sociais presentes na sociedade dos dias de hoje.

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Pedro Manuel Simões Fernandes
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