ECONOMIA DE IMPACTO, UMA OPORTUNIDADE PARA AS EMPRESAS?

Tiago André Ferreira
Aliados Consulting
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4 min readMar 8, 2019

Será que as preocupações sociais e ambientes poderão ser fatores chave da estratégia das empresas, e com isso elas verem reforçado o seu potencial de sucesso?

Vivemos num mundo que enfrenta grandes desafios, sintetizados, em 2015, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, dos quais são exemplo o combate à pobreza, ou às alterações climáticas. Sendo esta uma agenda liderada pelos países, e discutida no âmbito das Nações Unidas, é no entanto claro que a solução destes desafios depende em grande medida do envolvimento ativo do setor empresarial.

A natureza das empresas é a da criação de valor, na medida em que o seu sucesso comercial depende da satisfação dos seus clientes, mas é também a da apropriação de valor associada ao regime capitalista em vigor em grande parte do mundo, que até então, com todos os seus defeitos e limitações, é ainda o regime melhor sucedido na criação e distribuição de riqueza.

Assim, a maioria das empresas apenas serão agentes ativos na agenda da transformação e progresso da sociedade, na medida em que isso interesse aos seus clientes, que isso aumente o seu potencial de apropriação de valor, ou que isso tenha um significado para os seus responsáveis.

Existem vários argumentos que fundamentam que a conciliação entre lucro e propósito, ou que a adoção de práticas sociais e ambientais mais responsáveis, poderão ser uma boa oportunidade para as empresas:

- Oportunidade de mercado: Os consumidores crescentemente exigem produtos mais responsáveis, o que está a deixar de ser um nicho de mercado, para se tornar num segmento muito relevante. Mesmo no mercado B2B, as empresas no final da cadeia de valor preferem fornecedores com uma filosofia responsável. Exemplo desta oportunidade é o mercado da alimentação biológica, que está em crescimento acelerado, e que não sendo ainda a maior cota de mercado, é no entanto o segmento com menor concorrência, sendo simultaneamente melhor para o ambiente e para a saúde pública.

- Potencial de preço superior: O mesmo segmento de mercado acima descrito está disponível para pagar mais por um produto ou serviço mais responsável. No mercado do calçado a Toms Shoes celebrizou o modelo buy one give one, no qual por cada par de sapatos adquiridos um cliente sabe que está a oferecer um par de sapatos a outra pessoa com carência económica. A portuguesa Zouri propõe aos consumidores calçado que incorpora plástico retirado dos oceanos. Em ambos os casos o preço do produto é acima do standard de mercado do produto, permitindo a sustentabilidade do impacto social e ambiental gerado.

- Menor custo de aquisição de clientes: Os clientes que exigem este tipo de empresas mais sustentáveis estão disponíveis para investir mais tempo a procurar este tipo de fornecedor, o que diminui o custo de aquisição de clientes.

- Ganhos de reputação: Este tipo de empresas beneficiam de uma imprensa favorável, interessada em contar histórias positivas de produtos e serviços melhores para a sociedade. A adoção de práticas sustentáveis nos negócios é uma oportunidade de reforço positivo da marca.

- Retenção do talento e motivação de equipas: Vários estudos sobre os millennials colocam o propósito da sua atividade profissional como um dos elementos centrais da sua satisfação com o emprego. Empresas que transitam para práticas mais sustentáveis, ou que assumem o propósito na sua missão conseguem ter equipas mais motivadas e comprometidas.

- Desafio indutor de inovação: Os desafios são um dos principais fatores de indução da inovação. De forma a manter a competitividade em simultâneo com uma relação mais positiva com a sociedade, as empresas têm novos desafios que as estimulam ao desenvolvimento e à criação de novos e melhores produtos, ou processos produtivos, que muitas vezes se transformam em vantagens competitivas, e em processos economizadores de custos. A Sonae no âmbito do seu projeto “Transformar-te”, partindo do mote da redução de desperdícios alimentares e do seu custo associado, desenvolveu um conjunto de novos procedimentos para dar valor ao desperdício, e também vários novos produtos, como é o caso do Panana, um pão produzido a partir do que seria desperdício de banana.

- Oportunidades exclusivas: Existem hoje instrumentos de apoio ao negócio que são exclusivos de projetos com propósito, e que este tipo de empresas pode beneficiar. Por exemplo, em Portugal foi recentemente lançado o Fundo de Inovação Social, promovido pelo Portugal Inovação Social e que pretende facilitar o financiamento deste tipo de projetos, que tanto podem partir de entidades da chamada economia social, como de pequenas e médias empresas.

- Preparação para o futuro: Muitas das práticas sustentáveis sociais e ambientais serão transversalizadas por alteração da lei. Nesse momento, aquelas empresas que tenham sido pioneiras nessa transição serão as mais bem preparadas e, tendencialmente, as mais bem sucedidas.

- Atratividade para investidores: Hoje, para muitos investidores os valores e a cultura das empresas são critério importante na tomada de decisões de investimento. Empresas que tenham um envolvimento ativo no progresso da sociedade são empresas melhor cotadas para investidores.

Seja pela criação de novos negócios com o propósito presente na missão da empresa, seja pela adoção de práticas mais sustentáveis, social e ambientalmente, no processo produtivo, as empresas têm neste caminho uma oportunidade de desenvolvimento que se pode constituir numa decisão estratégica de elevado sucesso, numa economia que, crescentemente, recompensará as empresas pela sua ligação às preocupações de longo prazo da sociedade.

Transitar para uma Economia de Impacto positivo, é um desafio para os líderes empresariais do futuro.

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Tiago André Ferreira
Aliados Consulting

I’am an impact strategist, interested on subjects as entrepreneurship, social innovation, and local economic development.