Food Systems — Principais Iniciativas da Região do Porto

Pedro Manuel Simões Fernandes
Aliados Consulting
Published in
9 min readDec 21, 2021
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Conseguir uma alimentação equilibrada, sustentável e sem desperdício é, ainda hoje, um dos maiores desafios dos sistemas alimentares. Segundo a OCDE, um sistema alimentar (“food system”) refere-se a todos os elementos e atividades relacionados com a produção e consumo de alimentos, bem como os seus efeitos a nível económico, saúde e ambiente.

Em todo o mundo, os sistemas alimentares enfrentam um triplo desafio:

  • Assegurar a segurança alimentar e nutrição das populações em crescimento;
  • Apoiar a sobrevivência de milhões de agricultores e outros produtores na cadeia de valor alimentar;
  • Assegurar que estes pontos são respondidos de forma ambientalmente sustentável.

De acordo com o relatório Cities and Circular Economy for Food — Porto, em Portugal, cada pessoa consome menos de 2 kg de alimentos por dia, o que totaliza um consumo anual de 150 mil toneladas de alimentos para todo o Município do Porto. A carne e o peixe representam uma porção elevada da alimentação, sendo o dobro e o triplo, respectivamente, da média mundial anual. Contudo, as tendências de dietas à base de proteína de origem vegetal levaram a que o número de vegetarianos quadruplicasse em apenas uma década. As preocupações com a saúde têm levado também a um aumento do consumo de produtos orgânicos e de produção biológica, acarretando uma diminuição da procura por alimentos processados.

Baseado no mesmo relatório, a população do Município do Porto abastece-se maioritariamente nos supermercados da região. Porém, a existência de mercados de frescos, como o Mercado do Bolhão, atraem um elevado número de consumidores.

Posto isto, reunimos algumas iniciativas do setor alimentar que atuam na zona Norte do país, principalmente na região do Porto e que contribuem ativamente para a melhoria do sistema alimentar da região:

Fruta Feia

https://frutafeia.pt/

A cooperativa Fruta Feia surge da necessidade de inverter tendências de normalização de frutas e legumes que nada têm a ver com questões de segurança e de qualidade alimentar. Este projecto visa combater uma ineficiência de mercado, criando um mercado alternativo para a fruta e hortaliças “feias” que consiga alterar padrões de consumo. Um mercado que gere valor para os agricultores e consumidores e combata tanto o desperdício alimentar como o gasto desnecessário dos recursos utilizados na sua produção.

O principal objectivo da Fruta Feia é reduzir as toneladas de alimentos de qualidade que são devolvidos à terra todos os anos pelos agricultores e com isso evitar também o gasto desnecessário dos recursos usados na sua produção, como a água, as terras cultiváveis, a energia e o tempo de trabalho. Ao alterar padrões de consumo, este projecto pretende que no futuro sejam comercializados de forma igual todos os produtos hortofrutícolas com qualidade, independentemente do tamanho, cor e formato.

Noocity

https://pt.noocity.com/

A Noocity Ecologia Urbana é uma start-up portuguesa, sediada no Porto, focada no desenvolvimento de produtos e serviços inteligentes para a prática da Agricultura Urbana doméstica. Têm como objetivo capacitar os Agricultores Urbanos para cultivar mais e melhores alimentos em qualquer lugar, de uma forma prática, eficiente e ecológica. Acreditam que a Natureza tem um lugar fundamental nas cidades do futuro e no quotidiano das comunidades.

Hortas Urbanas — Lipor

https://www.lipor.pt/pt/sensibilizar/hortas-urbanas/o-projeto-de-hortas-urbanas/

Em 2003, a Lipor lançou o projeto das Hortas Urbanas, com o objetivo de articular a disponibilidade de várias entidades locais numa rede que viabilizasse uma estratégia para a Região do Grande Porto, no domínio da compostagem caseira, na promoção da agricultura biológica e na criação de hortas urbanas.

Com esta iniciativa criou-se espaços verdes dinâmicos e úteis, promovendo a biodiversidade e boas práticas agrícolas. Além disso, melhorou o ambiente em diversas comunidades urbanas locais, através de práticas como a compostagem caseira e agricultura biológica.

Os espaços foram idealizados para reduzir a produção de resíduos e implementar práticas que melhorem a qualidade dos solos, através da disponibilização gratuita de talhões em hortas urbanas, dando a oportunidade ao cidadão e às famílias de produzir alimentos frescos, saborosos e autênticos, respeitando os ciclos de vida naturais e, ainda, de valorizar localmente os seus biorresíduos.

Portugal Foods

https://www.portugalfoods.org/

A PortugalFoods é uma associação formada em 2008 por empresas, entidades do sistema científico e tecnológico nacional e entidades regionais e nacionais que representam os vários subsetores que compõem o setor agroalimentar português. A associação tem como objetivo final a produção e partilha de conhecimento como suporte à inovação e à competitividade.

É a marca umbrella do Setor Agroalimentar Português promovida pelo Pólo de Competitividade e Tecnologia Agroalimentar. Enquanto líder do Portuguese Agrofood Cluster, é reconhecida por toda a fileira, Ministério da Economia, Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, e Ministério do Planeamento e Infraestruturas como sendo o principal interlocutor e dinamizador do Agroalimentar português.

A PortugalFoods tem como missão reforçar a competitividade das empresas do setor agroalimentar através do aumento do seu índice tecnológico, promovendo a produção, transferência, aplicação e valorização do conhecimento orientado para a inovação, bem como promover a internacionalização das empresas do setor através da sua capacitação para a internacionalização e através da identificação e captação de oportunidades de negócio.

AMAP — Associação pela Manutenção da Agricultura de Proximidade

https://amap.movingcause.org/

O conceito de Associações para a Manutenção da Agricultura Proximidade, conhecido por AMAP, surgiu durante os anos 60 no Japão. Em Portugal a primeira iniciativa de promoção e disseminação do conceito AMAP surge em 2003 com projecto Re.Ci.Pro.Co, e, mais tarde os PROVE, que acabaram por não ter os resultados esperados como rede nacional. A AMAP apresenta-se assim como um modelo sócio-económico alternativo ao modelo convencional de distribuição de alimentos e já comprovou a sua viabilidade com milhares de AMAP’s em funcionamento em todo o mundo. Esta é uma alternativa concreta, desenvolvida pelas comunidades, servindo produtores e consumidores.

Os objectivos mais gerais passam por manter e desenvolver a agricultura local de forma económica e socialmente viável, sendo sustentável, justa, de baixo impacto ambiental, criando emprego, ligações pessoais e dinâmicas de coesão no território; promover uma atitude responsável dos cidadãos para com os alimentos; apoiar a economia local, justa e solidária; promover a cidadania; promover modelos de economia solidária; contribuir para a segurança e soberania alimentar.

Bio Em Casa

https://www.bioemcasa.com/

A Bio Em Casa dá a possibilidade a todos os clientes de receberem um cabaz de produtos frescos em casa. Colhem, montam e entregam à porta dos consumidores sem que estes se tenham preocupar com nada. A missão é levar, a cada vez mais famílias, alimentos biológicos saudáveis e com alma provenientes de um modo de agricultura sustentável.

Os principais fatores de diferenciação passam pela produção e comercialização de alimentos certificados provenientes de agricultura biológica; entregas alargadas em vários concelhos do norte do país; os vegetais são colhidos, no máximo, dois dias antes da entrega e tendo sempre como preferência produtos sazonais e de produção local/nacional; cada cabaz é único por clientes, sem requerimento de subscrição de serviço.

Horta da Partilha

https://hortadapartilha.wordpress.com/

A Horta da Partilha está localizada nos terrenos de uma antiga quinta agrícola, privada, com mais de 15 anos de pousio. Inserida num terreno com uma área total de cerca de 3.500 metros quadrados, o tipo de agricultura praticado nesta horta comunitária não é exclusivo: à luz dos princípios da permacultura, combinam diferentes técnicas agrícolas, que vão desde a agricultura natural à biointensiva.

Na Horta da Partilha não é permitido o uso de agrotóxicos, Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e outras práticas que se entendam como agressivas para o ecossistema existente.

Os principais objetivos deste projeto compreendem cultivar, preservar e regenerar; resgatar alimentos tradicionais; desenvolver o conceito original de agricultura de transição combinando diferentes técnicas agrícolas (biointensiva, biodinâmica, regenerativa, biológica, natural, etc); expressar o potencial produtivo de baldios urbanos; criar um espaço de demonstração e experimentação à luz dos princípios da permacultura; desenvolver actividades pedagógicas sobre permacultura; potenciar a viabilidade económica de um projecto de transição agroecológica; promover a partilha de conhecimentos entre diferentes projectos de agricultura urbana; influenciar a criação de políticas públicas para a agricultura urbana.

Prove

http://www.prove.com.pt/www/index.php

O PROVE — Promover e Vender é uma metodologia que pretende contribuir para o escoamento de produtos locais, fomentando as relações de proximidade entre quem produz e quem consome, estabelecendo circuitos curtos de comercialização entre pequenos produtores agrícolas e consumidores, com recurso às TIC.

A metodologia foi concebida, desenvolvida e inicialmente disseminada com o apoio da Iniciativa Comunitária (IC) Equal. Ao longo de 5 anos, a IC Equal permitiu criar uma abordagem metodológica inovadora, que potencia a economia de proximidade mais solidária e equilibrada, que estimula o empreendedorismo em meio rural e a autonomia dos produtores agrícolas.

Os cabazes PROVE são preparados para o consumidor urbano, especificamente famílias, que fazem uma refeição por dia em casa. São compostos exclusivamente por produtos da época, produzidos localmente. É imprescindível que todos os produtos que fazem parte do cabaz sejam produzidos com técnicas amigas do ambiente, respeitando as boas práticas agrícolas.

O consumidor tem a possibilidade de experimentar um conjunto de produtos variados, através da aquisição de cabazes de frutas e legumes selecionados e de elevada qualidade.

ReFood

https://re-food.org/

A REFOOD tem como missão resgatar alimentos, alimentar as pessoas e incluir toda a comunidade local, cocriando uma sociedade mais sustentável, justa e solidária.

O Movimento REFOOD é independente, sustentável, 100% voluntário, democrático, orientado por cidadãos e organizado em comunidades locais. Dedica-se à recuperação de comida em boas condições e à alimentação de pessoas necessitadas através da inclusão da comunidade local. Em Portugal, a REFOOD encontra-se juridicamente constituída como associação sem fins lucrativos tendo também o estatuto de IPSS.

O Movimento REFOOD opera localmente na e para a comunidade, trabalhando sem remuneração, suportando unicamente os custos e investimentos que servem a sua missão.

Em cada país, o Movimento REFOOD atua convidando todos os membros da comunidade local a participarem na sua economia circular e solidária — respeitando sempre a capacidade e disponibilidade de cada um. Defendem o meio ambiente e os mais necessitados porque cada refeição resgatada representa um ato de prevenção do desperdício e cada refeição entregue significa um ato de reaproveitamento e um gesto de solidariedade.

Equal Food

https://www.equalfood.co/

A Equal Food oferece uma solução sustentável, saudável e conveniente aos clientes: um cabaz semanal de produtos frescos e imperfeitos dos agricultores regionais entregues diretamente à porta de casa.

Trabalham de forma a minimizar o desperdício, ao pagarem um preço justo aos agricultores, assim como a todas as outras pessoas envolvidas no sistema. Ao mesmo tempo, procuram constantemente maneiras de minimizar a pegada de carbono no transporte, minimizar a quantidade de plástico usada para embalar e mostrar o quão valiosas as frutas e os vegetais imperfeitos podem ser.

Os cabazes de frutas e legumes contêm muitas frutas, vegetais e produtos especiais (abacates, frutos vermelhos, cogumelos e ovos). A Fruta cabaz contém 10 kg de frutos imperfeitos e excedentes de agricultores regionais diretamente para a casa dos clientes. Todos os produtos são regionais e sazonais. Isto significa que a disponibilidade de frutas e legumes específicos, pode variar ao longo do ano.

Para além destas, que outras iniciativas conhece e que contribuem para a melhoria do sistema alimentar da região do Porto? Partilhe connosco os seus conhecimentos.

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Pedro Manuel Simões Fernandes
Aliados Consulting

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