O CAMINHO ATRIBULADO DAS CIDADES PARA A SUSTENTABILIDADE

Pedro Manuel Simões Fernandes
Aliados Consulting
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3 min readFeb 27, 2020
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A urbanização é uma tendência em crescimento em todo o mundo. Estimativas indicam que as cidades consomem 75% dos recursos naturais mundiais, produzem metade dos resíduos do planeta e geram 60 a 80% das emissões de gases de efeito de estufa. O forte crescimento económico tem levado à migração das populações das zonas rurais para as zonas urbanas, prevendo-se que em 2050, cerca de 70% da população mundial viva em cidades.

Em 2015, as Nações Unidas, juntamente com os seus estados-membros, adotaram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030. Um desses mesmos objetivos assenta na criação de cidades e comunidades sustentáveis, tendo em conta as vertentes económica, social e ambiental.

Esta sustentabilidade a ser alcançada pelas cidades acarreta desafios. A WWF aponta os cinco principais desafios: a pegada ecológica, os serviços de ecossistema e biodiversidade, a necessidade de investimento, o bem-estar social e a liderança e cooperação.

A pegada ecológica das cidades é elevada, sendo que as emissões de gases de efeito de estufa representam cerca de metade desse valor, considerando os setores da energia, transportes e indústria. Em 2013, a pegada ecológica mundial indicava que seriam necessários 1,5 planetas para satisfazer as necessidades dos seres humanos, existindo hoje o objetivo de reduzir esse mesmo valor de forma a que em 2050 a pegada corresponda à capacidade assimilativa do planeta.

Na maior parte das cidades, há grandes conflitos entre o desenvolvimento e a conservação, pois o forte crescimento das populações leva à necessidade de expansão das mesmas, surgindo desafios com a ocupação antrópica de determinados ecossistemas ou falta de ordenamento de território. Hoje, mais de 90% das cidades em todo o mundo encontram-se em zonas costeiras, estando mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas como a subida do nível médio das águas do mar, ou provocando a perda de habitats bem como a poluição dos lençóis de água, colocando em risco as populações.

Todos estes fatores de sustentabilidade exigem investimentos, obrigando as próprias cidades a trabalhar em conjunto com os mercados financeiros, pois alguns dos seus ajustes passam por diversos setores, nomeadamente o setor energético. Assim, o setor público deve ser o pioneiro na compra e uso de produtos e serviços ecológicos, seja energia, alimentação ou construção de infraestruturas.

No entanto, a vertente do bem-estar social é o principal desafio para as cidades, pois necessitam de responder às necessidades dos cidadãos. Desta forma, torna-se fundamental a educação das comunidades para novos estilos de vida ou incentivar a práticas sustentáveis, nunca comprometendo as suas necessidades. Isto vai de encontro ao desafio da liderança e cooperação, visto que é impossível ser sustentável sem conseguir visualizar a influência dos meios urbanos no ambiente ao redor deles. As cidades não são ecossistemas isolados, e como tal, a cooperação de organizações e governos locais com o encorajamento à inovação, são os passos mais importantes, uma vez que apenas esses podem fornecer condições apropriadas e estruturas de suporte.

Hoje em dia, grandes cidades como Nova Iorque, já enfrentam grande parte destes desafios, tendo já tomado medidas preventivas e de resposta à necessidade de um caminho sustentável. O Resilient Neighborhoods é um programa implementado em Nova Iorque que apresenta medidas estruturais para proteção da cidade, desenvolvido à luz de questões como a ocupação do território ou perigo de inundações em caso de catástrofe ou consequência das alterações climáticas. As medidas programadas, juntam a sociedade civil para a identificação de situações de perigo e dão a oportunidade das comunidades poderem tomar medidas para proteger as suas casas de catástrofes, sem que as restrições de construção impeçam essas medidas. Esta iniciativa torna-se, portanto, num exemplo na gestão dos riscos pela incorporação dos cidadãos nas soluções e pela antecipação de outros desafios que possam surgir.

Assim, o caminho das cidades em direção à sustentabilidade exige um trabalho conjunto dos governos e setor privado, mas principalmente da sociedade civil e cidadãos, de forma a ser possível deixar um planeta melhor para as gerações futuras.

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Pedro Manuel Simões Fernandes
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