“O melhor século de sempre” a circular…
Vasco Sousa, Partner da Aliados, no Fórum Mundial de Economia Circular
Aterrei em Helsínquia pela manhã e logo após sair do avião sou acolhido por vários cartazes com o compromisso da cidade com alguns dos objetivos do desenvolvimento sustentável, na qual este se destacou:
“Turn waste into new materials and products”
Como um dos 2 mil convidados de todo o mundo, para 3 dias de Fórum Mundial de Economia Circular, abre-se o sorriso de um licenciado em Relações Internacionais por sentir pela primeira vez a adrenalina de estar a contribuir, a partir de Portugal para o mundo, para um propósito maior.
A abertura do evento apelou a todos os sentidos com espetáculo visual, sonoro e olfatativo que afirmou o que vem, com elementos da natureza assente na água, nas árvores…e no fogo! Partilham-nos que temos representantes dos 5 continentes, de mais de 90 países. Impera o global.
Depois do primeiro painel com os principais atores internacionais, desde ONU ao Banco Mundial acontece o grande momento de todo o Fórum, em que jovens de todo o mundo com idades entre 10 e 14, “invadem” e ocupam todo um palco para um “pitch” de 3 jovens de cada continente, sobre a prática atual, com a qual já não aceitam viver. O tema do uso do transporte público foi o que mais desafiaram os decisores a mudar.
91% foi o número/percentual mais repetido em diferentes intervenções. 91% dos fluxos no mundo não são circulares. Preferimos dizer que 9% do mundo já está a transitar para uma abordagem mais circular, apesar da tendência ser negativa.
Um dos principais paradoxos que se sentiu ao longo do Fórum é que, mesmo perante a unanimidade e urgência da emergência climática, o crescimento da incidência de desastres naturais, a perda galopante da biodiversidade, o aumento em 65% na extração de recursos do planeta e da emissão de gases efeito estufa, continuamos a assistir a um reforço do proteccionismo, a uma impossibilidade do multilateralismo, à ausência de decisões políticas de fundo, falta de casos em escala e de líderes públicos ou privados que inspirem este inicio de caminho da solução. Como diz um sábio amigo, ainda não há massa crítica nem fermento crítico.
Paul Poolman (Unilever), IKEA, a Fundação Ellen MacArthur e a União Europeia pareceram-nos ser os faróis desta transição. A medição (“taking cost into account” como referiu o responsável da ONU), as compras públicas e fazer do desperdício alimentar um novo movimento global “consumer demand or refusable” (porque ninguém se quer sentir culpado), tal como nos plásticos, foram as poucas tentativas em tornar global uma agenda de atuação concertada.
A palavra mais selecionada pela audiência no fim do evento foi “act” (agir). Velocidade e escala de soluções foi o que pediu a organização aos convidados, agora nomeados de ativistas na sua casa, no seu país, no seu continente, pelo mundo. Temos momentum!
Inspirado pela revista “Delayed Gratification” quis escrever este artigo após terem decorrido 3 meses do Fórum para perceber o que verdadeiramente ficou inscrito em mim para conduzir a minha ação. Estas são as pistas e aprendizagens que se mantêm comigo:
- Medir para acelerar a valorização do potencial de fazer em escala; já não temos tempo para a descoberta, para os pilotos/testes;
- A População, o Consumidor, tal como nos plásticos, terão que ser os protagonistas para acelerar o surgimento de legislação e de novos produtos e serviços circulares. Como esta transição para economia circular implica perdas económicas numa primeira fase para Governos e Empresas, estes dificilmente liderarão as mudanças rápidas e estruturais que têm que ser feitas;
- O consumidor em escala não aceitará pagar mais por produtos circulares (ou sustentáveis, como preferirem);
- Foco nos pequenos grandes passos, como o que Chefe Carlos Henriques, que abriu em Helsínquia, o Restaurante Nolla que se está a tornar uma referência internacional. Um restaurante zero desperdício, com “mãos” portuguesas. Um pormaior: começaram a produzir cerveja porque o vinho gera desperdício.
- Neste Fórum todos perceberam que o caminho da solução não é linear mas circular, de reinventar o círculo (a roda 😊). Esta abordagem é vista como a Ferramenta mais poderosa para transformar o atual modelo económico de wealth para wellbeing, de global para interdependente;
Portugal tem uma oportunidade de ouro, na qual a Aliados tem tido a honra de colaborar, em cada uma das iniciativas:
- Porto foi selecionado como uma das 4 cidades no mundo, para estudar modelos circulares nos sistemas alimentares, a partir das cidades e tem estado a desenvolver uma estratégia designada “Porto Cidade Circular 2030”;
- Portugal tem 3 cidades numa seleção de vinte cidades de todos o mundo, a ser acompanhado pela Fundação Ellen MacArthur, designada Food Initiative, na qual a Fundação Calouste Gulbenkian é o principal investidor;
- Maior empresa em Portugal, a SONAE com práticas circulares, de referência mundial;
- Grupo Trabalho inter-sectorial com as maiores associações sectoriais, as maiores empresas de restauração e retalho, as principais universidades, cidades, os operadores de resíduos a articular-se para desenvolver modelos colaborativos para o sistema alimentar;
- O Governo lançou um programa designado Iniciativa Nacional para Cidades Circulares com o objectivo de construir redes entre cidades que promovam colaborativamente esta transição para uma economia circular.
A frase que dá título a este artigo é da autoria Hans Bruyninckx, Diretor da Agência Europeia de Ambiente que teve a missão de encerrar o Fórum no seu segundo (e memorável) grande momento: temos a urgência de fazer deste século o “melhor século de sempre”. Não encontro melhor síntese ao desafio que temos pela frente. Como ele referiu, a ciência diz-nos neste momento que a coragem de não o fazer é maior do que o fazer, para reverter décadas de delapidação de recursos e assegurar a justiça intergeracional, com os nossos antepassados e filhos e netos no futuro.
Coragem! Aliados!
Vasco Sousa, Partner da Aliados
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