PROMOVER O EMPREENDEDORISMO NAS CIDADES

Tiago André Ferreira
Aliados Consulting
Published in
4 min readDec 26, 2017

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Porquê promover e apoiar o empreendedorismo? Quais os desafios dos empreendedores nas diferentes fases de vida dos seus projetos? Como podem as cidades e autarquias promover e apoiar o empreendedorismo?

O conceito de sucesso de uma cidade, de forma muito resumida, combina o ser confortável para viver, interessante para visitar, mas também o ser estimulante para o desenvolvimento de atividades económicas.

Tendo em conta este contexto porquê promover e apoiar o empreendedorismo? Quais os desafios dos empreendedores nas diferentes fases de vida dos seus projetos? Como podem as cidades e autarquias promover e apoiar o empreendedorismo? Promover o empreendedorismo é uma componente importante no contexto do desenvolvimento das cidades. A promoção do empreendedorismo é, desde há alguns anos, uma realidade em Portugal, tendo inicialmente sido desenvolvida, sobretudo, pela sociedade civil, mas tendo hoje uma dimensão sólida de política pública. Hoje, organizações estatais na área do desenvolvimento económico, como o IPMEI, AICEP ou o IEFP, universidades públicas, entre outros organismos do Estado, têm políticas e serviços direcionados ao empreendedorismo.

Existem várias razões pelas quais é importante promover e apoiar o empreendedorismo nas cidades e municípios. Eis algumas:

  • As novas empresas criam uma grande parte dos novos empregos líquidos criados na economia;
  • Os novos negócios criam emprego no território onde nascem, o que é importante para a retenção de talento e fixação das populações;
  • O nascimento de novos negócios reforçam o sentimento de pertença das populações, tendo influência na qualidade de vida das mesmas;
  • Numa economia global, os negócios que nascem localmente têm raízes mais sólidas do que aqueles que são captados externamente, podendo, a longo prazo, dar mais garantias de fixação de empregos;
  • A atitude e as competências empreendedoras são importantes do sucesso da economia, mas geram também importantes externalidades positivas nas dimensões da cidadania, participação pública ou mesmo na educação.

Mas, afinal, do que precisam os empreendedores? Esta é uma questão fundamental a compreender, de forma a assegurar o sucesso de ações de promoção e apoio ao empreendedorismo. Cada empreendedor e cada startupou empresa é um caso concreto, com especificidades únicas, mas é possível elencar um conjunto de necessidades chave que são comuns à maioria dos casos e transversais aos diferentes setores de atividade das empresas.

A atividade empreendedora pode pensar-se em três etapas diferentes: a primeira passa pelo desenvolvimento da ideia e do planeamento do negócio; uma segunda refere-se à entrada no mercado e pelo desenvolvimento e consolidação do modelo de negócio; e uma terceira que passa pela criação e implementação de estratégias de crescimento do negócio. Cada uma destas etapas tem associados diferentes desafios.

Fase 1 — Da ideia ao planeamento do negócio

- Identificação e avaliação de oportunidades de negócio;

- Desenvolvimento de produto ou serviço;

- Enquadramento legal da atividade empresarial;

- Acesso a fornecedores e primeiros clientes;

- Capital de semente para investimentos iniciais e sobrevivência da empresa.

Fase 2 — Entrada no mercado e modelo de negócio

- Aumento da base de clientes;

- Financiamento à atividade e ao investimento até ao ponto de break even;

- Construção de equipas de trabalho;

- Consolidação da gestão da empresa;

- Mentoria especializa em estratégia empresarial.

Fase 3 — Crescimento

- Captação de investimento para financiar o crescimento;

- Criação de alianças e parcerias estratégicas de produção e distribuição em larga escala;

- Serviços técnicos especializados de consultoria jurídica, marketing, contabilidade, etc.

Assim sendo, o que pode ser feito pelas cidades para promover e apoiar o empreendedorismo? O primeiro princípio, para o desenho e implementação de uma boa estratégia de promoção e apoio ao empreendedorismo, é colocar o empreendedor no centro da mesma! Esta visão implica passar a avaliar e monitorizar as necessidades dos empreendedores e do ecossistema, como forma de definir novas estratégias e programas. Tendo isto em consideração, existem um conjunto de boas práticas que podem ser ponderadas na promoção e apoio ao empreendedorismo nas cidades, tais como:

  • Criação de comunidades de prática locais que juntem os empreendedores;
  • Eventos catalisadores que promovam o empreendedorismo e qualificação dos empreendedores;
  • Programas de aceleração que impulsionem o desenvolvimento das novas empresas;
  • Aposta na qualificação das incubadoras, para que estas consigam ser o braço direito dos empreendedores não apenas na sua necessidade de espaço de trabalho, mas também na dimensão dos serviços especializados e acesso a redes;
  • Criação de redes de mentores locais, de forma promover a partilha do conhecimento e de contactos, ganhando os empreendedores com a experiência dos mentores;
  • Captação de investidores para o terreno, de forma a aproximar os empreendedores de oportunidades de investimento;
  • Criação de fundos locais de investimento, focados no apoio às novas empresas criadas localmente;
  • Vias processuais facilitadas para empreendedores em relação às cidades, garantindo que as necessidades legais dos empreendedores são tratadas de forma ágil e personalizada;
  • Canais de comunicação facilitados entre cidades e empreendedores, para que estes possam articular os seus projetos com a informação e oportunidades que surgem associadas à dinâmica das cidades;
  • Criação de prémios de empreendedorismo, nos quais a atividade empreendedora possa ser celebrada para que seja promovida como uma prática de relevo social.

Estas e outras ações, em diferentes geografias, têm criado ecossistemas empreendedores onde o potencial de sucesso das novas empresas é maior. Muitas vezes, estas ações são promovidas pelos próprios empreendedores ou organizações da sociedade civil, mas também por estruturas públicas criadas por municípios ou universidades. A criação de um ecossistema vibrante de empreendedorismo é um bom desafio para cidades e municípios. Esta implica um compromisso de longo prazo do setor público, mas também um envolvimento pró ativo dos empreendedores e de outros agentes económicos.

Cidades onde a atividade empreendedora se torna parte da sua cultura são certamente cidades mais inteligentes, com mais futuro, e onde é mais agradável, interessante e próspero viver.

Nota: texto originalmente publicado na Revista Smart Cities em 07/02/2017

Photo by Teemu Paananen on Unsplash

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Tiago André Ferreira
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I’am an impact strategist, interested on subjects as entrepreneurship, social innovation, and local economic development.