Quais os principais impactos da subida do nível médio das águas do mar?

Pedro Manuel Simões Fernandes
Aliados Consulting
Published in
6 min readJul 27, 2020
Photo by Artiom Vallat on Unsplash

Os efeitos da libertação constante de gases de efeito de estufa para a atmosfera, nomeadamente o aquecimento global, são amenizados pelos oceanos. Estes absorvem mais de 90% do aquecimento provocado por essas emissões, sendo o recurso que mais alterações tem sofrido na sua temperatura, afetando não só os tipos de vida nele existentes, como também a vida ao seu redor, nomeadamente, os humanos.

A subida do nível médio das águas do mar é um dos principais efeitos das alterações climáticas. Estima-se que desde 1880, tenha havido uma subida de cerca de 23 cm, sendo que mais de 35% dessa subida se deu nos últimos 25 anos a um ritmo de 3,2 mm por ano.

Este fenómeno é principalmente provocado por três causas:

  • Expansão termal: O processo de absorção de calor pelos oceanos provoca um aumento na temperatura média destes e, como a densidade está inversamente relacionada com a temperatura, à medida que o oceano aquece, a densidade da água vai diminuir provocando a expansão dos oceanos. Cerca de metade da alteração dos níveis da subida do nível médio da água do mar nos últimos 25 anos é atribuída a este fator;
  • Degelo dos glaciares e calotes polares: Os glaciares e calotes polares, apresentam-se como as grandes concentrações de água gelada no planeta. Estas formações derretem em pequenas quantidades no verão devido à subida da temperatura, sendo esta perda reposta no inverno pela queda de neve. Recentemente, devido ao aumento do aquecimento global registado, o degelo tem sido cada vez maior durante os verões e a reposição de gelo no inverno não tem sido suficiente para compensar as perdas. Este desequilíbrio resulta num significante ganho líquido dos oceanos, causando, assim, a subida do nível médio da água do mar;
  • Perda de gelo na Gronelândia e Antártida: A Gronelândia e a Antártida são os dois locais do planeta onde há maior concentração de gelo. O aumento da temperatura global está a provocar o degelo destes locais a um ritmo acelerado. Cientistas apontam numa perda de cerca de 239 km cúbicos por ano e que o degelo das camadas superiores e inferiores das calotes polares nestas zonas está a provocar o aumento da libertação das plataformas de gelo para os oceanos. A subida da temperatura da água provoca o degelo das plataformas de gelo que se estendem para fora da Antártida, derretendo-as pela camadas inferiores enfraquecendo-as e partindo-as.

Basta um pequeno aumento na subida do nível médio das águas do mar que as suas consequências são devastadoras a vários níveis, tendo impactes nos mais variados ecossistemas.

O The Intergovernmental Panel on Climate Change, estimou que o nível médio global dos oceanos irá aumentar entre 0,18 e 0,59 metros até ao fim deste século. Este aumento não só irá provocar inundações nas regiões de baixa altitude junto da costa, como também irá contribuir para a redistribuição dos sedimentos ao longo das costas arenosas.

No que concerne à biodiversidade, as alterações climáticas estão a afetar os sistemas vivos. Um dos mais ameaçados são os recifes de corais, devido a uma maior frequência dos impactes humanos, prevendo-se que o aumento de CO2 nas águas e a temperatura que se estima para os próximos 50 anos, excedam as condições ótimas nas quais os recifes têm florescido nos últimos 500 mil anos.

Outro exemplo neste contexto, é o caso das ilhas que possuem cerca de 20% da biodiversidade do planeta. Um estudo de 2014, que avaliou algumas das principais ilhas pela sua biodiversidade, refere que com um cenário de uma subida entre 1 a 6 metros do nível médio da água do mar, uma percentagem de 6 a 19% das 4447 ilhas estudadas ficariam submersas, podendo ocorrer a extinção de cerca de 300 espécies endémicas.

Mas quando pensamos em populações afetadas por este fenómeno, pensamos diretamente nas populações humanas, sendo que estas podem ser alvo de inundações como uma das principais consequências. Um estudo prevê que por volta de 2080 haverá um grande aumento da frequência de fenómenos de inundação, níveis superiores aos tolerados atualmente, estimando-se uma perda de cerca de 70% das zonas húmidas costeiras por essa altura. Isto levará a uma necessidade de resposta por parte da população humana, para aumento da proteção ou, em casos extremos, migrações de populações completas.

No entanto, quais serão as principais perdas a nível económico?

É difícil estimar o quanto as alterações climáticas impactam a economia, pois trata-se de uma ligação complexa entre ambiente, sociedade e economia global. Ainda assim, é importante investigar a possibilidade deste fator ambiental impactar negativamente o crescimento económico e vir a representar um obstáculo ao desenvolvimento.

Um estudo publicado em Janeiro deste ano na Environmental Research Communications, refere alguns dos impactes que podem ocorrer a longo prazo se não forem tomadas medidas, quer de mitigação, quer de preparação para as consequências deste fenómeno.

Este estudo indica que a subida do nível médio das águas do mar, afetando cidades e infraestruturas costeiras, pode representar custos de mais de 4% da economia global até ao ano de 2100, a menos que sejam tomadas ações, quer no sentido de reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, quer pela preparação para os impactes das alterações climáticas.

Ainda que os países diminuam as suas emissões de forma a prevenir que a temperatura global suba até aos 2ºC acima dos níveis pré-industriais, mas não tomem medidas de preparação para a subida dos mares, os custos projetados rondam os 3% do PIB por ano até 2100, diz o estudo. No entanto, se forem tomadas medidas nos dois sentidos, os custos podem ser limitados a 0,4% do PIB global, ou menos.

Os modelos usados no estudo mostram que, independentemente das emissões, as perdas de PIB vão rondar valores relativamente baixos até 2050, com valores de perda de menos de 0,4% anualmente, em média. No entanto, será nessa altura que os custos começarão a escalar, e os impactos poderão ser bem maiores do que os esperados, dependendo da tomada de medidas de mitigação das emissões e da preparação para combater a subida do nível médio das águas do mar .

Porém, estas perdas são desiguais em todo o mundo. No caso da China, esta perda pode chegar aos 12% anuais do PIB até 2100, comparada com o Japão (8%) ou a Europa (6%). Contudo, os investigadores têm a noção que estas previsões de perdas podem não ser realistas, pois não têm em conta fenómenos de inundação que ocorram devido a furacões.

Neste estudo, mesmo as projeções para a variação do nível médio das águas do mar podem mudar, uma vez que os cenários apresentados baseiam-se em casos em que não foram tomadas medidas adicionais. As projeções estão sempre a alterar-se, incorporando cada vez mais aspetos relacionados às alterações climáticas.

É possível identificar que muitas comunidades costeiras não estão a fazer nada para se prepararem, enquanto outras estão a tomar medidas para lidar com inundações relacionadas com o clima, medidas essas que passam pela construção de paredões, por exemplo.

Posto isto, a preparação é a chave. Devemos usar o tempo que ainda temos para responder de forma inteligente a estes cenários e tomar as ações profundas e transformativas necessárias de forma a confrontar este problema. É tão necessária a mitigação como a adoção de estratégias que previnam os impactes futuros do aquecimento global, ao mesmo tempo gerindo os efeitos inevitáveis das alterações climáticas. Precisamos pensar a longo prazo, agir rapidamente e em conjunto.

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Pedro Manuel Simões Fernandes
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