Quais os principais Indicadores de Sustentabilidade que as empresas devem ter em conta?

Pedro Manuel Simões Fernandes
Aliados Consulting
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5 min readAug 4, 2021
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Nos últimos anos, é possível identificar um aumento no número empresas que têm adotado o relato de sustentabilidade, provocado pela valorização das componentes ambiental, social e governança (ESG) e do seu impacto na performance e valor da empresa.

O Relato de Sustentabilidade é agora adotado quase universalmente, colocando as empresas que ainda não o fazem, numa posição à margem das normas globais nesta área. Segundo um relatório da KPMG, em 2020, 96% das empresas do G250 (grupo das 250 maiores empresas de todo o mundo), reportaram dados não-financeiros, nomeadamente no campo da sustentabilidade. Os líderes das empresas que não reportam estes dados devem ter em conta que esta mudança de paradigma não acontece instantaneamente. Porém, qualquer framework de relato ou mesmo outra ferramenta de avaliação da sustentabilidade empresarial, necessita que as empresas tenham conhecimento de diversos dados, medidos internamente.

Medir a performance de sustentabilidade de forma interna permite alinhar os objetivos económicos de uma empresa com a sua contribuição social e reduzir o seu impacto ambiental negativo. Os benefícios desta medição incluem:

  • Rastreamento do progresso: as métricas de sustentabilidade são mantidas em atualização, indicando se algum progresso está a acontecer e onde é necessário um maior esforço;
  • Identificação dos impactos da empresa: os impactos de uma empresa no meio ambiente são geralmente apresentados de acordo com os critérios ESG. Esta informação é um requerimento cada vez mais importante para os investidores, sendo que ⅓ destes planeia aumentar os seus investimentos em organizações sustentáveis.
  • Criar resiliência: durante a pandemia da COVID-19, empresas sustentáveis experienciaram menos impactos negativos do que os seus competidores não-sustentáveis. Medir a sustentabilidade como um processo interno transfere o foco para os principais riscos da empresa.
  • Relação com os stakeholders: a medição tradicional da performance de uma empresa relata o ponto de vista de um shareholder. Nos últimos 20 anos, essa medição tem evoluído para um sistema de medição de performance multidimensional que contabiliza diferentes áreas e os interesses dos stakeholders. Medir a sustentabilidade internamente permite uma melhor relação com diversos stakeholders, principalmente aqueles interessados nos aspetos económicos, sociais e ambientais de uma empresa.

Muitas empresas fazem este tipo de medição interna, com o objetivo de facilitar a sua resposta às diversas metodologias que existem de relato não-financeiro. Existem diversos frameworks internacionais que vão neste sentido e que facilitam a criação de relatórios de sustentabilidade. Algumas das metodologias mais usadas são:

  • Carbon Disclosure Project (CDP): foco principal nas emissões de gases de efeito de estufa, tendo desenvolvido nos últimos anos também a avaliação de métricas relacionadas com a água e as florestas.
  • Dow Jones Sustainability Indexes: foco em critérios específicos da indústria, considerado material de avaliação para investidores; balanço equilibrado dos indicadores económicos, sociais e ambientais.
  • Global Reporting Initiative (GRI): foco na responsabilidade social corporativa com um peso igual em fatores ambientais, sociais e de governança; muito importante na relação com os stakeholders.
  • Global Real Estate Sustainability Benchmark (GRESB): foco na performance ambiental, social e de governança apenas do setor comercial imobiliário; inclui divulgação de ativos e entidades.
  • International Integrated Reporting Council (IIRC): foco na abordagem de relato conjunta, conectando problemáticas ambientais com financeiras; considerada a metodologia convergente de todas as outras.

Ainda que nem todas as metodologias de relato de sustentabilidade exijam os mesmo tipos de dados, uma vez que muitas delas são específicas de determinados setores, é possível identificar alguns dados que podem ser medidos internamente e que permitem às empresas rastrear o seu progresso e identificar oportunidades de impacto. Muitas das empresas não têm como principal objetivo a concretização de um relatório de sustentabilidade, mas têm a consciência de que, ao medir uma série de dados ambientais relacionados com as operações das empresas, conseguem rapidamente identificar os riscos e as áreas que necessitam de maior atenção. Algumas das áreas mais importantes para rastrear dentro da empresa são:

  • Pegada de Carbono
  • Consumo Energético
  • Taxa de Reciclagem do Produto
  • Níveis de Poupança devido a esforços de Conservação e Melhoria
  • Índice de Sustentabilidade Ambiental dos Fornecedores
  • Quilometragem da Cadeia de Abastecimento
  • Pegada Hídrica
  • Taxa de Redução de Resíduos
  • Taxa de Reciclagem de Resíduos

Algumas destas áreas podem parecer demasiado gerais ou difíceis de medir. O principal objetivo é conseguir encontrar os indicadores corretos para fazer essa avaliação. Alguns dos principais indicadores utilizados pelas empresas são:

  • Percentagem de materiais usados que são materiais de entrada reciclados;
  • Consumo energético direto por fontes de energia primária por unidade de produção;
  • Quantidade de energia economizada devido a melhorias de conservação e eficiência;
  • Percentagem de água reciclada ou reutilizada;
  • Total de emissões diretas e indiretas de gases de efeito de estufa, por peso;
  • Total de emissões de substâncias destruidoras da camada de ozono, por peso;
  • Total de emissões de óxido nítrico (NO), óxido sulfúrico (SO) e outras emissões atmosféricas significativas, por tipo e peso;
  • Total de água descartada, por qualidade e destino;
  • Peso total de resíduos por tipo e métodos de deposição;
  • Percentagem de produtos que são vendidos e dos seus materiais de embalamento que são recuperados, por categoria.

Existem diversos indicadores possíveis nas áreas indicadas acima, sendo que, os exemplos indicados, não se enquadram em todos os setores ou tipos de indústria. Para as empresas que ainda não começaram este percurso de medição de indicadores de sustentabilidade, é cada vez mais importante que tenham em conta os dados sobre o consumo energético, as emissões de gases de efeito de estufa, a geração de resíduos e os gastos de água. Estas são as áreas de impacto direto e de mais fácil medição, sendo aquelas que, através da análise dos dados, é possível tomar medidas mais rapidamente.

Assim, a medição e recolha de dados das componentes ESG estão ao alcance de todas as empresas e poderão representar ganhos financeiros significativos através do rastreamento do seu progresso e identificação dos principais impactos da empresa. Em todos os setores, os líderes empresariais devem começar hoje a recolher estes dados, pois as empresas mais bem preparadas hoje, serão as mais resilientes no futuro.

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Pedro Manuel Simões Fernandes
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