Como seria um contato com uma civilização extraterrestre?

Devanil
Alimente o Cérebro
7 min readJan 10, 2015

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O filme/livro Contato (única ficção de Carl Sagan) é um dos mais realísticos relatos de como seria um contato com uma civilização extraterrestre.

Contato com extraterrestres não é sinônimo de homenzinhos verdes desembarcando de um disco voador. É muito mais: sinais captados num radiotelescópio podem conter mensagens capazes de nos fazer repensar toda a nossa concepção da vida e do universo.

Esse é o ponto de partida de Carl Sagan, que, aliando as tensões da melhor literatura ao conhecimento científico mais avançado, compõe um romance que pode provocar em nós todas as reações — menos a indiferença. Em Contato, o que está em jogo é um mundo tal como conhecemos. Como quem faz uma aposta, Sagan nos convida a uma viagem assustadoramente fascinante pelo buraco negro que é a inteligência humana.

Não há muito o que falar sobre o único romance que o grande mestre Carl Sagan escreveu. É um daqueles livros que podemos ler várias vezes e sempre que fecharmos a última página ficaremos refletindo por dias.

Há spoilers (revelações sobre o enredo e história) nesse artigo.

Não há muito o que falar sobre o único romance que o grande mestre Carl Sagan escreveu. É um daqueles livros que podemos ler várias vezes e sempre que fecharmos a última página ficaremos refletindo por dias.

A obra traz pertinentes reflexões sobre a ciência e a religião, os caminhos que o ser humano está tomando como espécie e as pesquisas em busca de inteligência extraterrestre.

O livro é dividido em três partes: A primeira conta um pouco a infância de Ellie, a personagem principal, até a recepção de uma mensagem de seres inteligentes vinda da estrela de Vega. Eles descobrem que nessa mensagem há um projeto para a construção da máquina, e todas as complicações da possível construção dessa máquina é contada na segunda parte. Já a terceira, e mais incrível, conta da viagem que Ellie e mais quatro tripulantes fazem ao centro da galáxia. Esse também é o enredo do lindo filme em que Jodie Foster interpreta Ellie.

Primeira parte: A mensagem

Quem é Ellie Arroway? Uma apaixonada pelo espaço desde criança? Uma garota que precisou quebrar preconceitos, sendo um deles o de uma mulher na ciência? A cientista mais importante da história, a partir da descoberta dos sinais extraterrestres de Vega? Talvez… talvez. Mas querem saber o que eu realmente penso? Temos aqui nesse livro o alter-ego de Carl Sagan.

Vemos uma mulher (Carl Sagan era feminista) apaixonada pelo universo desde criança, aos moldes da infância que Sagan contou em O mundo assombrado pelos demônios. Ellie é uma ferrenha defensora do SETI (mal traduzido para PIET — Pesquisa por Inteligência Extraterrestre — no livro), que busca sinais extraterrestres em radiotelescópios (isso realmente existe), assim como Carl. Sobre religião, Ellie e Sagan são agnósticos, não afirmam com veemência a inexistência de Deus, e olham sem desdém para as religiões e seu papel no mundo. Além de serem obcecados pela possibilidade de vida fora do planeta Terra. São parecidos, não?

Apesar de todos os conflitos dentro da própria comunidade científica sobre o SETI, Ellie tornou-se diretora do radiotelescópio de Arecibo. E lá, ela pode focar suas pesquisas na varredura das estrelas do céu em busca de mensagens transmitidas por civilizações longínquas (vale lembrar de novo: isso existe, é ciência). Surpreendentemente, em um dia qualquer, sinais composto de números primos começam a vir da estrela de Vega.

Poderia alguma força natural do universo produzir números primos? Aqueles números que só são divisíveis por 1 e ele mesmo só podiam ser produzidos por outra civilização inteligente (aqui começa a ficção, não por ser impossível, mas por não termos detectado nada até hoje).

Mas nem só de números primos constituía-se a mensagem, em uma modulação diferente eles descobriram que existia uma transmissão de televisão terrestre. O grupo logo concluiu que seria uma forma de dizer: “Hey, vocês estão transmitindo ondas de rádio, vamos mandar pra vocês a primeira de sua transmissão televisiva para verem que recebemos, que atendemos a chamada.” Mas sabe o problema desta parte? A primeira transmissão televisiva forte o suficiente para se propagar pelo espaço foi de Hitler na abertura dos Jogos Olímpicos de 1936. Não preciso nem dizer que isso foi um baque forte para a humanidade. O nosso embaixador para os extraterrestres era logo ele? Era o sonho do louco.

Mas não acabava por aí, em outra modulação continha OUTRA mensagem, desta vez, depois de várias análises, entenderam que era um manual para a construção de uma máquina.

Segunda parte: A máquina

A humanidade deveria construir a máquina? E se ela fosse um cavalo de troia? Ou uma máquina do juízo final? Nesse instante a humanidade já tinha virado ao avesso. Começava a surgir um sentimento de unificação, que éramos um planeta. Estados Unidos e Rússia diminuíram os arsenais nucleares, mas ao mesmo tempo, religiões surgiam, e outras estavam tentando se adequar a nova realidade. O que me faz pensar se realmente teríamos uma unificação ou um colapso total.

A máquina, então, foi construída. Nesse instante da história surge Hadden, um bilionário dono de uma empresa muito controversa nos Estados Unidos: ele criava dispositivos que fazia a televisão mudar de canal quando havia comerciais e até para quando houvesse programas religiosos. Segundo ele, era o único capaz de construir uma máquina como a descrita, pois detinha os melhores cientistas do mundo.

E voilá, a máquina ficou pronta: e tinha lugar para cinco pessoas, um deles era de Ellie. Para onde a máquina os levaria?

Terceira parte: A galáxia

Melhor do que vocês lerem, vejam uma cena do filme, sobe a viagem:

Essa é a parte mais incrível do livro. Eles chegam até o centro galáctico, onde existem muitos atracadouros de naves, e a nossa era apenas mais uma. O universo estava cheio de vida, finalmente fomos convidados para conhecê-lo.

Logo que eles saíram da máquina, uma surpresa: era uma praia idêntica a uma tropical da Terra, mas tudo não passava de uma simulação. Cada um dos tripulantes encontrou alguém que amava muito. Ellie encontrou seu pai falecido, mas logo perceberá que era uma simulação, muito bem feita.

Carl Sagan arranjou uma maneira muito perspicaz de evitar ter que descrever como eram os seres extreterrenos: eles estavam falando pelas simulações humanas.

Ellie perguntará como era o sistema de transporte deles, o que achavam da espécie humana e como eram seus mitos e religiões. Apesar de já ter dado spoiler demais nesse artigo, não vou contar todas as respostas, deixo a curiosidade.

Logo depois eles voltaram à Terra e todas as fotos que eles tiraram foram apagadas (ou nem gravadas). Para a Terra, não se passará mais do que alguns minutos e, sem nenhuma prova, ninguém acreditou no que os tripulantes tinham visto, e foram obrigados a esquecer tudo. O governo cancelou a construção da máquina e obrigou que todos eles mantivessem silêncio. Em um ato de piedade presidencial (dos EUA), Ellie tem a permissão de voltar a trabalhar no radiotelescópio de Arecibo, e quem sabe, conseguir provas.

Sua mãe morrerá na volta, devido as complicações de um derrame que ela teve quando Ellie não tinha tempo para visitá-la no asilo. E em uma carta que deixou pós-mortem, sua mãe contava que seu pai, na verdade, era seu padrasto, a quem ela nunca deu uma chance de um bom relacionamento. Ela concluiu que “Toda sua carreira tentara fazer contato com os mais remotos e exóticos dos estranhos, enquanto em sua própria vida não fizera contato com praticamente ninguém. Mostrara-se feroz em desmascarar os mitos de criação de outras pessoas, esquecida da mentira que constituía a essência do seu próprio mito. Durante toda a sua vida, estudara o universo, mas desprezara sua mais clara mensagem: para criaturas pequenas como nós, a vastidão só é suportável através do amor.”

E no fim, foi descoberto a assinatura do criador. O número π, depois de muitos números aleatórios, chegava-se a uma sequência binária de 0's e 1's. E nessa sequência havia claramente um círculo. A prova de que o universo foi construído por algum criador, que julgava que seres inteligentes, em qualquer parte do universo, descobririam sua assinatura dividindo a circunferência de um círculo pelo seu diâmetro.

“Desde que vivas neste universo, e tenhas um modesto talento para a matemática, mais cedo ou mais tarde o encontrarás.”

Ellie encontrara o que buscava.

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