Problematizar

Aline de Campos
@alinecampxs
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2 min readFeb 21, 2019
Foto disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/28/cultura/1546019502_949886.html

Para mim, como feminista, ser lésbica me parece viável. Chega a ser atraente, como um imã que une seus iguais. Desculpe o discurso empobrecido, beirando a ignorância, mas é um desabafo — mesmo que simplório.
Obviamente feminismo nada tem a ver com sexualidade, mas cabe dizer que quando se é feminista estar com um homem está longe de ser fácil.
Me peguei pensando sobre algo que um dos entrevistados de minha pesquisa sobre relacionamentos inter-raciais me disse: “Cansa servir de ‘negropedia’ pra branco. É mais fácil um relacionamento com alguém que entende sua vida”. Esse é o ponto.
É fundamentalmente necessário que haja o exercício de desconstrução do outro para que ocorram mudanças no padrão de comportamento social. Embora desgastante, é preciso.
Por outro lado, toda luta traz exaustão e ficar incessantemente contrapondo o machismo, ora explicando, ora ponderando, ora guerreando, cansa. Cansa mesmo servir de “feminipedia”.
Eu, como feminista, quero romper com padrões.
Quando se abre os olhos, quando rompemos ligação com o cativeiro que nos cegava, análises de comportamento — seu e do outro — são constantes. O que faz de você “A problematizadora”. Bem nome de novela mexicana mesmo.
Ser feminista em um relacionamento heteronormativo cansa. Por mais que seu companheiro seja o entusiasta do feminismo, o “desconstruidão”, cansa.
Cansa porque você não é problematizadora. Problematizar dá a conotação de se importar com algo insignificante. O que definitivamente não é o caso.
Você não gostaria de a todo momento pontuar a presença do machismo ou de ter um sensor que alerte ao mero sinal dele.
Por mais que tudo seja em parceria em um relacionamento hétero — o que já é um avanço — ainda assim, em algum momento, ele vai estar lá.
Masculinidade tóxica é um tema que carece de muito estudo. Assim como passamos a debater branquitude, precisamos urgentemente debater masculinidades.
Assim como a mulher, o homem não se conhece. Sua ideologia, logo suas atitudes, estão centralizadas no falo e no que ele simboliza.
É o centro de tudo. Do prazer masculino, como se somente ele representasse aquele corpo e nenhuma outra parte existisse. Ele representa o masculino. É poder e também punitivo.
Este simbolismo é apenas um dos efeitos colaterais que o machismo fez e faz, mas é o pavio que inicia o incêndio causado pela ideologia machista, a qual somos imersos.
O machismo é a doutrina da criação masculina e heterossexual. Começa no lar e envolve a sociedade em toda sua estrutura. Alicia homens e mulheres e os faz reféns.

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Aline de Campos
@alinecampxs

Jornalista, mestra em Ciências Sociais. Pesquisadora de relações raciais e de gênero, política e ativismo nas redes sociais. -> Contato: alinecampxs@gmail.com