Favor não adoecer

Aline Haar
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Estamos em 2021. Um vírus se espalha pelo mundo. A vacina demora menos de um ano para ser descoberta. Mas você está no Brasil.

Na cidade de Porto Alegre (e talvez na sua) nos é tirado o direito à saúde. O negacionismo chegou a níveis inimagináveis, a falaciosa imunidade de rebanho serviu para que o vírus se adaptasse ao “jeitinho brasileiro” de lidar com a situação.

Não só somos o epicentro da doença como criamos um gêmeo (mais) maligno.

O medo é de adoecer e perder para esse vírus. Os hospitais já estão respirando com ajuda de aparelhos, assim como seus profissionais, exaustos. Não existem mais lugares para que as pessoas possam ser cuidadas. O psicólogo que me atende também precisa de cuidados. Estão todos esgotados. A imunidade em geral é atingida pela fome, pela incerteza, pelo desemprego, pela falta de tudo que precisamos.

Mas não podemos adoecer. Isso também nos foi tirado. Não pode ter crise alérgica. Não pode ter um acidente doméstico. Você não pode nem mesmo ter algo simples como uma apendicite. É o colapso.

Nos tiraram até a possibilidade de adoecer. Viva ou morra. Não há nem ao menos um plano.

Estamos todos cansados até mesmo para pedir ajuda. Protestar. O Brasil precisa de socorro.

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Aline Haar
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Entre textos de sentimentos e crônicas sobre a produção humana, volto às boas com a arte de escrever. Entusiasta das letras.