Sobre estar sozinha como nunca

Ana Paula
All the About
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3 min readMar 28, 2016

Hoje pela primeira vez eu passei a Páscoa sozinha. Não sou religiosa, mas foi o primeiro feriado que passei só comigo mesma, não vi ninguém, não tive almoço em família (nem mesmo família de intercâmbio desta vez). Foi estranho, mas as coisas tem sido estranhas por aqui.

Desde que deixei a Ilha Esmeralda em busca da realização do meu maior objetivo desde que saí do Brasil (o famoso mestrado), eu tenho mantido uma atitude totalmente contrária à que eu deveria ter com a Alemanha. Eu me vi resistente à uma cultura nova e não obtive muitos incentivos da parte deles para me abrir, foi quase como um acordo mútuo de que eu jamais me encaixaria nesse canto do planeta da forma que deveria ser, e assim tem sido tudo por aqui.

Como consequência dessa aversão cultural veio o isolamento social, com ele veio a depressão e a decadência acadêmica. Nem tudo são flores no reino dos sonhos da Ana. Há algumas semanas atrás eu me encontrei deitada em minha cama sem conseguir levantar, não por incapacidade física, na minha mente sair da cama e enfrentar a vida era um desafio 20 vezes maior do que realmente era, e quando finalmente o fazia era tarde para sair ou fazer algo do dia, então sentava na beira da cama e chorava loucamente sem mal saber a razão. Eu demorei para entender o que acontecia, estava tão acostumada a encarar minhas bads como síndrome de drama queen que tive que ficar muito mal para perceber que não era o mimimi de sempre dessa vez, mas que sim, estava deprimida, estou deprimida.

Na hora pensei em largar tudo aqui e ir para casa, Brasil. Ficar com minha família e amigos seria o melhor remédio do mundo, tudo que eu preciso na vida. Comecei a conversar com amigas, irmão, mãe, todos que saberiam me entender e aconselhar neste momento, eu cheguei a ver passagem aérea e quase anunciei meu apartamento, mas ainda tinha muito a considerar. Os dois últimos anos que passei para chegar aqui, tudo que eu abri mão até agora para ter essa oportunidade, os esforços da minha família para que esse sonho se tornasse objetivo e real, tudo deveria ser levado em conta, e assim o fiz.

Para minha sorte ou azar (não to sabendo opinar ainda), a situação política no Brasil se agravou e a chuva de discursos de ódio invadiu minha timeline do Facebook, junto com os escândalos e notícias mais depressivas que a falta de empatia alemã, me fazendo chegar a conclusão de que por mais que meu coração se aperte seria no mínimo estúpido retornar agora. Outro fator decisivo foi uma conversa que tive com a minha mentora do curso (uma aluna do ano seguinte ao meu designada a me ajudar no que eu precisar) e ela me indicou o aconselhamento psicológico em inglês (e gratuito por um mês) oferecido pelo tipo DCE daqui, então resolvi tentar e ver o que acontece.

Porém essa coisa toda, depressão, não é uma doença de cura instantânea, então por mais que eu agora esteja ciente de que não estou na minha vibe comum e me esforce ao máximo para não cair mais ainda tem dias que são difíceis de viver. Em outros eu até consigo me animar, dançar, rir sozinha das besteiras da internet, mas dias como esse onde eu percebo o quão distante estou de todos que gostaria de estar perto e o quanto seria bom estar em qualquer lugar junto deles, esses dias são os piores.

Para minha sorte, ainda tenho pessoas que pensam em mim tanto quanto eu penso nelas e recebi muito amor pela internet, amigas que mesmo longe não me deixam desistir, minha mãe com seu amor infinito e suas mensagens constantes no whatsapp pra ter certeza de que eu não me sinta tão sozinha. Ações que fazem diferença e eu nem fazia idéia disso antes.

No fim acabei passando o dia só, cozinhei um macarrão com cogumelos e abobrinha, abri um vinho e passei a tarde assistindo Adorável Psicose. Também não deixei de comprar um chocolate para passar a data, entre os suíços mais caros e a versão Kinder Ovo do Phineas e Ferb escolhi o que vinha com Darth Vader e dois Stormtroopers na caixa, para combinar com o retorno do Jedi celebrado hoje. Acredito que outros feriados virão, aniversários também, datas comuns mais ainda, onde eu sempre vou ter duas opções, me enrolar nas cobertas e dormir até o dia passar ou tentar ficar bem, e independente do que escolher não devo me julgar por isso. ❤

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Ana Paula
All the About

A misunderstood girl who tries to live la vida loca, pero no mucho.