a alegria é uma menina travessa que brinca pelas ruas da cidade

Allenylson Ferreira
allenylson ferreira
3 min readOct 8, 2021

somos bilhões sofrendo em silêncio. há tanta dor nas ruas, nos corredores e, principalmente, nas casas. o mundo ainda não colapsou porque há no ser humano uma força que não vem dele mesmo. como tudo ainda continua funcionando bem, mesmo com tragédias atrás de tragédias apunhalando nossos tristes e solitários corações? de onde vem essa força de continuar, mesmo não aguentando mais?

a alegria é uma menina travessa que brinca pelas ruas da cidade, mas quase poucos a entendem e agarram suas mãos. por que não agarro suas mãos? ela anda por aí, solícita, mas são poucos os que seguram suas frágeis e ternas mãos e entram na brincadeira de ser feliz. eu não agarro. por quê?

estamos inseridos em um sistema egoísta e cruel. enquanto fico consciente de tudo o que me cerca, os meus irmãos vivem jogados aí, sendo levados pela maré, não escolhendo o que comer, ler, ver, sentir, trabalhar. há outros que escolhem por eles, e que vida é essa? uma multidão vive assim. mas o irônico é que eles parecem felizes ou alheios ao sofrimento, mesmo em meio a inúmeras dificuldades. a ignorância é uma benção? talvez.

rostos desconhecidos passam por mim todos os dias. tento imaginar suas histórias secretas. será que aquele rapaz, de andar trôpego, está infeliz com sua vida? e aquele senhor, que passa todos os dias por mim, será que ele tem família? aquela mulher loira, ao telefone, será que está falando com o amor de sua vida? quais são suas histórias? às vezes sinto tanta melancolia ao ver rostos que dizem o que não querem dizer. há expressões tão solitárias, tristonhas, dolorosas. contem suas histórias, quero ouvi-las. estou observando vocês, mesmo que não me vejam. vamos, contem suas histórias. vocês nãos estão sozinhos.

o ato de pensar e ir atrás daqueles pensamentos tímidos que aparecem, mas num átimo somem, é cansativo. estou cansado. ando pensando demais. há tantas possibilidades, mas penso demais. sinto-me paralisado com essa enxurrada de pensamentos aleatórios. o que fazer? o que vou comer no almoço? o que vou assistir? como vou resolver aquele problema? o que comprar? como vou pagar minhas contas? por que está chovendo quando deveria fazer sol? como estão meus amigos? o que estou fazendo? o que não estou fazendo? pensamentos, pensamentos, pensamentos. isso cansa pra diabo.

o que fazer? é um questionamento aterrorizante. temos que fazer alguma coisa. mas o quê? o que esperam de mim? vejo pessoas deixando que seus pais decidam o que eles devem fazer. eu também esperava isso. mas meus pais não me disseram. e estou até hoje tentando descobrir o que fazer. a vida é assim, não é?

sofro pelas ausências, distâncias. as pessoas que mais me são caras não estão aqui. queria que estivessem. queria poder conversar com elas cara a cara, olho no olho. chamar pra comer uma pizza, ver um filme, fazer uma visita inesperada. tudo está no mundo das possibilidades. poderei ter isso. basta escolher. enquanto não escolho, sofro.

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