Angústia: O homem do subsolo alagoano

Allenylson Ferreira
allenylson ferreira
2 min readJul 24, 2020

Angústia é um romance psicológico de Graciliano Ramos, que entrelaça o presente com o passado, e a insatisfação ou idealização de um futuro que sequer chegará. Luís da Silva, a personagem principal é, tomando emprestado outro personagem da literatura, desta vez russa, um homem do subsolo — mas sem o subsolo, pois mora numa casinha e deve meses de aluguel.

Alagoano, Luís da Silva parte do presente ao fazer menção a fatos do seu passado, o que, no final do livro, entenderemos melhor. Posso dizer que o que motiva-o a contar sua história sofrida e seus delírios psicológicos, seu permanente pessimismo e sensação de inferioridade, é a sua vizinha, Marina, com quem ficara noivo, para logo mais perdê-la.

E eis o motivo de toda a sua angústia: perdera Marina para Julião Tavares, um conhecido seu, gordo e risonho, rico e aristocrata, que seduzia as jovens apenas para diversão — e o resultado fora o abandono de uma Marina grávida, o que deixou Luís ainda mais angustiado e com uma ideia fixa em mente: dar um fim em Julião Tavares.

A narrativa torna-se sufocante e, em certos trechos, nos compadecemos da personagem central desse romance, porém, sentimos repulsa diante de sua postura covarde e seus pensamentos devassos e alucinantes. Luís da Silva é um homem que sofre, mas coloca a si mesmo como vítima de um mundo injusto, o que torna-o antissocial ao extremo. Desnuda seu eu interior para o leitor, seu estado psicológico e espiritual, ou melhor dizendo, seu estado existencialista que, para justificar sua existência, praticará um ato de vontade que, mesmo sendo o mais vil dos atos, justificará, tal como um Raskolnikov, [porém sem a redenção] sua intenção de fazer o bem.

Angústia relata as entranhas do ser humano numa linguagem bastante brasileira, o que aproxima o leitor desta personagem desesperançada com a vida. Considerado por Otto Maria Carpeuax como um clássico universal.

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