doismilevinteeum

Allenylson Ferreira
allenylson ferreira
4 min readDec 31, 2021

o ano que faz a gente, ou a gente que faz o ano? não sei se posso dizer que fizemos de 2021, doismilevinteeum, um ano como gostaríamos. acho que foi ele que fez a gente; transformou, moldou, ensinou, tirou, forçou, machucou, judiou. mas, por que não?, também nos proporcionou pequenas alegrias, conquistas, vitórias, superações, et cetera. no pesar da balança, saímos mais machucados e tristes e com perdas do que qualquer outra coisa. muitos de nossos projetos e planos foram frustrados, porque não temos controle nenhum sobre a vida. sim, a Bíblia já dizia isso. mas não sabíamos que isso doeria tanto na gente. perder gente querida, amada, aclamada, alegre, presente, poesias em meio a desertos, esperanças que perambulavam com seus pares de pernas, pessoas de perto, de longe, que eram nosso sangue, mas também não. choramos por quem não conhecíamos, por quem conhecíamos, lutamos contra a dor da perda que machucou e ainda machuca. doismilevinteeum. como superar?

tive várias crises existenciais e de fé. duvidei de Deus, duvidei de mim mesmo. acho que é normal duvidarmos, mas permanecer na dúvida é que não dá. certa canção dizia que apenas uma fé que se abalou inabalável é. por vários momentos minha fé foi abalada, mas não acabada. a cada novo abalo, mais inabalável ela se tornava. a cada dúvida sobre Deus, uma nova compreensão. cansei de tantas coisas, arrependi-me de outras, chorei por erros e pecados cometidos, cresci como filho divino e como cidadão do reino, aprendi a perdoar, amar, tolerar, mas também a dar vazão de cada sentimento ruim que eu tinha, de me permitir senti-lo, mas não cometer o pecado de fazê-lo transbordar. sentir o que sinto e viver isso até o fim, sem reprimir ou jogar pra debaixo do tapete, tem sido um aprendizado. surtei comigo mesmo, despejei toda a raiva e dor e decepção que senti, tudo isso sozinho — falando sozinho. quando guardamos sentimentos ruins e não colocamos pra fora, ficamos mais impenetrável ao ar da graça. porque isso vai apodrecendo por dentro, mesmo não nos dando conta.

por várias vezes avistei a esperança e cheguei a abraçá-la, para logo depois ela sumir. dias sombrios neste vale de lágrimas, dores que ninguém sabe, lutas que ninguém viu, perdas e tombos e fracassos e lágrimas, só entre mim e Deus. algumas compartilhadas com amigos, mas a maioria entre mim e Deus. apenas. porque é assim que deve ser.

mas apesar de tudo isso, esse ano que está quase sumindo de vista, ao virar da esquina do tempo, proporcionou-me bons momentos. Deus não ficou em silêncio em todos os momentos, embora seu silêncio tenha sido tão presente. e como dói o silêncio de alguém que a gente ama tanto. mas ao ouvir sua voz, que foi ecoada através de pessoas e situações, regozijei-me e fui renovado e animado e incentivado a continuar vivendo. momentos com amigos, que mesmo distantes, foram tão presentes em minha vida. a família que sempre foi e será a base, o alívio, a energia que me ajuda a enfrentar dias e dias tão difíceis, reuniões sempre regadas a risadas e boa comida e mais boas risadas, esse lugar que posso sempre me sentir seguro e bem, mesmo não estando bem. aos irmãos em Cristo, a clientes, colegas, conhecidos, até mesmo os desconhecidos que apenas com um bom dia ou sorriso ou um olhar fez com que alguns de meus dias não fossem tão ruins.

Deus se manifesta de diversas formas e é preciso estar atento para ouvi-lo, vê-lo, senti-lo. não o encontro mais nas páginas de livros teológicos. apenas ao ler C. S. Lewis ou G. K. Chesterton ou Tomás de Kempis ou N. D. Wilson encontrei-o e, ah!, como foi suave e gostoso e poético esses encontros. não me entendam mal, mas não há mais em mim o desejo de consumir livros e mais livros teológicos. apenas alguns poucos já conhecidos são suficientes.

a escrita me salvou tantas e tantas e tantas vezes. entendi que não há escapatória, ou escrevo ou morro. eis minha benção e maldição. publiquei um livro de terror, participei de alguns concursos literários, fui selecionado para uma coletânea de contos que será lançada na FLIP 2022, obtive fracassos, publiquei até que uma quantidade suficiente aqui no medium, e dei início a um novo projeto literário que não tenho a menor ideia de quando concluirei.

doismilevinteeum foi tão intenso, longo, horrível, surpreendente, enfim, um paradoxo, e parece que durou uma eternidade, mas também se passou num estalar de dedos. o tempo tem pressa, ouvi alguém dizer. e se não atentarmos para o que realmente importa, a fazer aquilo que realmente amamos, a viver cada dia como se fosse o último, vamos ficar para trás e deixar a vida passar.

fim de ano.

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