mentirinhas

Allenylson Ferreira
allenylson ferreira
3 min readOct 25, 2021

somos tão estúpidos! somos idiotas. egoístas. dizemos que nos importamos com as pessoas, mas mentimos. mentiras descaradas. odiamos gastar tempo com as pessoas. e, para falar a verdade, tudo se resume ao meu maldito umbigo. somos falsos pra diabo. hipócritas mesmo. estamos todos num lamaçal. não há ninguém que se salve. não tem escapatória. todo mundo é vítima do egoísmo alheio. maldito egoísmo alheio. maldito egoísmo próprio. afinal, também somos egoístas. poderia pensar que tudo isso que vivemos é uma grande e idiota gozação com a nossa cara. se não há alguém superior a toda essa mesquinhez humana, como suportar? estou cansado das mentiras, minhas e dos outros. quero me afastar de tudo. será que consigo? será que há alguém que possa nos ajudar, me ajudar? sei que há, e é por ter essa esperança que a gente ainda continua tentando. vivendo. fazendo o que está ao nosso alcance. mas Deus do céu, como estou cansado. dos outros, mas principalmente de mim mesmo. e como é insuportável ouvir alguém reclamando do que sinto. do que expresso. do que escrevo. do que coloco pra fora. azar. é isso aqui que me impede de enlouquecer. os escritores do passado tinham razão em viver isolados de todos, não querendo travar relações com ninguém. quem suporta todas as mentiras descaradas cuspidas em nossas caras? quem? eu também minto, o que é pior. por que não acabar com tudo isso? porque ainda vale a pena viver. há coisas boas e verdadeiras e pessoas verdadeiras e boas por aí. é só saber procurar, como uma agulha em um palheiro, e ter a sorte de encontrar. será que terei essa sorte? ela não vai muito com a minha cara, a sorte. a danada da sorte. ela zomba de mim. faz piada da minha cara. ela me esnoba, tem nojo de mim. mas será que um dia ela sorrirá pra mim? talvez sim. há tanta gente perdida por aí, com medo de expressar o que sente, com medo de ser impopular, incompreendido, negado por todo o mundo. não permita que eu seja uma dessas pessoas, meu Deus. fui no mercado e até os preços zombaram da minha cara. tudo caro. como viver? pessoas comendo lixo nas ruas. pessoas transformando-se em bichos. bichos se confundindo com pessoas. manuel bandeira confirma tudo isso. a mentira é boa, confortável, uma mentirinha não faz mal, mas de mentirinhas em mentirinhas, o inferno fica lotado. ou a terra é o inferno? quero pensar que não. voltando à minha reclamação da vida, eu sou o pior de tudo isso. eu mesmo. euzinho. sou burro demais. não sou? todos uns príncipes, inteligentes, esforçados, vitoriosos, santos, felizes. e eu, bem, eu sou burro e triste e cansado e fracassado e pecador. mas também sou filho de Deus, não sou? ando tão cansado. toneladas de concreto esmagam o meu peito. cansado demais para viver. cansado demais para morrer. cansado. e o que fazer? há ainda esperança. mesmo em meio a tanta mentira e egoísmo e indiferença e miséria. não é ela que anda pelas ruas? a esperança? ao contrário da sorte, ela não zomba da minha cara. ela chora comigo. ela estende as mãos. ela me abraça, acalenta, me põe pra dormir. ela é muito boazinha, a esperança. e quando estou com ela, tudo fica bem. amo todas as criaturas, como deveria amar. ó, esperança, não te afastes de mim. ó, Eu Sou, não vires o teu belíssimo e sofrido rosto — não, não!, não suportaria ser rejeitado por ti. ser rejeitado por todos até que suporto, mas se Tu me rejeitares, não suportaria um segundo sequer e cravaria uma adaga em meu coração. melhor a morte, o inferno, o nada, do que ser rejeitado por Ti! melhor seria não ter nascido, se Tu rejeitares a mim. não me rejeites… sei que não vai. sei.

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