não estou mais perto da morte, mas mais perto da vida

Allenylson Ferreira
allenylson ferreira
3 min readOct 15, 2021

chega um certo momento da nossa vida em que não esperamos mais nada dela. apenas vamos vivendo assim, um dia de cada vez, sem muita pressa ou esperanças quanto ao futuro. digo, em parte é assim. é que vamos aprendendo através dos aniversários que vamos fazendo ou, como disse Luis Fernando Veríssimo, os aniversários que vão fazendo — ou desfazendo — a gente, a entender algumas coisas da vida. como, por exemplo, a não se importar muito com o número de amigos, pois alguns poucos já são suficientes — quando somos jovens, pensamos que a quantidade é melhor que a qualidade. entendemos, também, que gastar rios de dinheiro em uma megafesta, com dezenas de convidados, é um terror a ser evitado. é melhor ter um bolinho simples, alguns docinhos e salgados, a família e os bons amigos — isso basta, pois é o momento e as pessoas que dão o real valor do ritual fazer-aniversário.

mas também aprendemos a não dar tanta importância à nossa data natalícia. bem, damos certa importância — é inevitável. mas aprendemos a não considerá-la em excesso e vivemos o dia em que viemos à existência com calma e tranquilidade, sem esperar muito. e assim acordamos, trabalhamos normalmente, ouvimos nossas músicas favoritas, lemos um pouco, comemos, assistimos uma boa sitcom e damos risadas, e o tempo vai passando e o peso de mais um ano a menos — ou a mais — é esquecido. um dia comum, não é mesmo?

esse ano não esperava nada fora do comum. tinha consciência de que estava um ano mais velho, ou mais novo — depende da perspectiva. meu plano era fazer uma torta de frango e comer com meus pais e irmão, e só. assistir a uma das minhas sitcoms favoritas, Modern Family, e passar o dia meio-off das redes. e, de fato, fiz tudo isso. mas não contava com o carinho de amigos distantes que mandaram mensagens de texto e áudio, que fizeram uma festinha surpresa — e que surpresa! não estava esperando nada, mas recebi demonstrações de amor que me emocionaram.

a vida é assim. quando não esperamos mais nada, ela nos surpreende. a vida, e o autor da vida, surpreende-nos. fui convidado, no dia do meu aniversário, a renovar meus olhos e ver o mundo sob uma re-nova-da perspectiva. sim, a vida é boa. ainda há o que se comemorar. é verdade que ela nem sempre é uma festa, mas ela pode ser uma festa uma vez por ano. não estou mais perto da morte, mas mais perto da vida — a vida que vale mais que tudo. e, quando eu despertar dessa vida que não é vida, participar de uma festa jamais imaginada, encontrarei o mestre de cerimônias que proporciona essas pequenas alegrias terrenas, vislumbres da grande alegria divina.

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