Os processos de Perda e fragmentação de habitats na região da Amazônia
Os habitats são ambientes onde uma espécie vive e desenvolve-se, ou seja, um ambiente onde tenha o que é necessário para ela sobreviver e reproduzir. Cada espécie possui um habitat específico com condições adequadas para garantir sua sobrevivência, por exemplo, o leão que tem como habitat as Savanas Africanas. Nesse ambiente o leão encontra condições e recursos ideais para garantir a sua sobrevivência, como alimento, abrigo e parceiros reprodutivos. Desse modo, todos os ambientes naturais podem constituir um habitat para diversas espécies. Os Biomas no Brasil por exemplo englobam os habitats de várias espécies nativas como as florestas da Amazônia que são o habitat do macaco-aranha (Ateles belzebuth).
Os habitas naturais tem sofrido várias ameaças ao redor do mundo causadas pelo aumento da pecuária, extração de madeira, agricultura, aumento na urbanização, e desmatamento, que resulta no processo de perda e fragmentação de habitats. As consequências desse processo envolvem a substituição do habitat por algum uso antrópico como a agricultura causando a diminuição da área do habitat, e divisões em uma ou mais partes menores, deixando o habitat em padrão fragmentado, ou seja, dividido em fragmentos de habitat que anteriormente era maiores e unidos. Esse processo causa muitas alterações no ambiente, que modificam a sua paisagem, reduz a área dos habitats e causam isolamento dos habitats que ficam separados por usos não naturais do solo como aa agricultura, pecuária, industrial ou urbanização.
A fragmentação e perda de habitats possuem como principais consequências a redução do habitat, criação de fragmentos, o isolamento dos habitats e o aumento ou criação do efeito de bordas. A redução acontece quando há desmatamento por exemplo e há diminuição da área de um habitat. Enquanto a formação dos fragmentos, acontece pela inserção da matriz, um tipo de uso do solo diferente do habitat como agricultura e pecuária que acaba por separar o habitat em fragmentos, que antes eram um só, assim os deixando espalhados pela paisagem. Esses fragmentos estariam dessa forma isolados uns dos outros, pois estão desconectados de outros fragmentos do habitat. Além disso, na área de contato do fragmento de habitat com a matriz, ocorre a formação da borda e o efeito de bordas. Nessa área, a vegetação acaba enfrentando diferenças muito drásticas de vento, luz solar, temperatura e outras condições que modificam a estrutura do habitat naquele local. Desse modo, a fragmentação tende a causar o aumento drástico do efeito e quantidade de bordas nos fragmentos dos habitats.
Os fragmentos de florestas por exemplo, possuem uma borda que tem composição vegetal diferente da área que está localizada no meio do fragmento, pois as bordas recebem mais luz, vento, chuva e temperaturas elevadas, assim ocasionando mudanças no ambiente para adequação destes fatores. Já no meio da floresta há menos entrada de luz, vento e mais umidade, facilitando que a vegetação se mantenha mais estável nesse espaço. Com a intensificação do aumento das bordas, as espécies que vivem no meio do habitat sofrem com essas alterações, pois não há tempo suficiente para que se adequem as modificações. O resultado inclui a diminuição dos indivíduos de várias espécies, podendo até gerar a sua extinção.
Espaços de matriz são áreas vizinhas de habitats que geralmente não possuem condições e recursos necessários para as espécies sobreviverem, alguns exemplos são campos de agricultura, pastagem, estradas e qualquer outro tipo de uso do solo que esteja entre os fragmentos de habitat diferente do habitat original. No entanto, há algumas espécies que conseguem se adequar e viver nestes locais, como um habitat alternativo para elas. A inserção dessas áreas de matriz é o fator que impulsiona drasticamente o aumento do desmatamento. Por exemplo, o IBGE destaca que entre os anos de 2000 a 2010 a floresta Amazônica sofreu desmatamento de mais de 236.600 km² da sua área, isso representa 65% da sua área desmatada para implantar lavouras. Já para a expansão de espaços de pastagens foi de 127.200 km² de mata desmatada, que equivale a 35% de desflorestamento. Dessa forma, o principal tipo de matriz presente nas áreas fragmentadas da Amazônia são monoculturas e pastagens.
Desmatamento na Amazônia e na região de Altamira — Pará
Um bioma natural que tem sofrido os efeitos da perda e fragmentação de habitats é a Amazônia. A extensão do território amazônico é de 5,5 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 60% estão na área do Brasil, alguns estados brasileiros abrangem estão dentro desta porcentagem, sendo eles o Acre, Amapá. Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. De acordo com o Instituto do Homem e Meio da Amazônia (Imazon) só no ano de 2021 a Amazônia perdeu mais de 10 mil quilômetros de mata nativa. Em apenas 35 anos ela já perdeu cerca de 35 milhões de hectares, acelerando o processo de perda e fragmentação de habitats e consequentemente gerando ameaças de extinção para espécies de animais e plantas. Pelos dados do órgão da Imazon no de 2021, a região do Pará apresentou-se em primeiro lugar no ranking de desflorestamento, que naquele ano chegou a desmatar mais de 4.037 mil quilômetros quadrados de mata nativa. As causas desse desmatamento estão ligadas ao crescimento da pecuária, agricultura e a exploração de madeira, queimadas e o aumento da urbanização.
O desmatamento acelerado gera distúrbios que tem ameaçado a biodiversidade deste bioma. O processo de perda e fragmentação tem sido constante e contribuído para diversos fatores de ameaças para as espécies nativas. O desmatamento diminui a área de habitat disponível para as espécies e consequentemente reduz os recursos disponíveis para a sobrevivência das espécies. A fragmentação tem criado ilhas de habitat isolados que deixam as populações animais e vegetais isoladas, reduzindo a reprodução e fluxo gênico entre elas. Mesmo com a presença de fragmentos de habitat, esses ambientes ainda costumam ser perturbados pelo constante efeito de bordas, invasões de animais exóticos e ou domésticos, e ainda entrada de pessoas seja para coleta, caça ou retirada de madeira. Tudo isso somado tem atenuado o risco de extinção de espécies de animais e vegetais que ali habitam. A Amazônia tem uma grande importância mundial possuindo grande biodiversidade e influenciando no clima através de processos como a evaporação e transpiração das árvores e estoque de carbono pelo armazenamento em seus troncos, galhos e folhas. Desse modo, é importante que processos como a perda e fragmentação de habitats sejam interrompidos e ou amenizados para que a biodiversidade local possa ser conservada para o futuro. Caso contrário, as consequências do desmatamento acelerado apagarão grande parte da Amazônia e de sua biodiversidade do planeta.
REFERÊNCIAS:
- PRIMACK, Richard, B. RODRIGUES, Efraim. Biologia da Conservação. Londrina, Sinauer, 2001.
- IMAZON. Desmatamento na Amazônia cresce 29% em 2021 e é o maior dos últimos 10 anos. 2021. Disponível em: https://imazon.org.br/imprensa/desmatamento-na-amazonia-cresce-29-em-2021-e-e-o-maior-dos-ultimos-10-anos/#:~:text=L%C3%ADder%20hist%C3%B3rico%2C%20o%20Par%C3%A1%20manteve,em%20%C3%A1reas%20federais%20quanto%20estaduais.. Acesso em: 06 dez. 2022.
- IMAZON. Desmatamento na Amazônia cresce 29% em 2021 e é o maior dos últimos 10 anos. 2021. Disponível em: https://imazon.org.br/imprensa/desmatamento-na-amazonia-cresce-29-em-2021-e-e-o-maior-dos-ultimos-10-anos/#:~:text=L%C3%ADder%20hist%C3%B3rico%2C%20o%20Par%C3%A1%20manteve,em%20%C3%A1reas%20federais%20quanto%20estaduais.. Acesso em: 06 dez. 2022.
- UOL. IBGE: Agricultura é maior responsável por desmatamento de florestas no país. 2015. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2015/09/25/fronteiras-agricolas-sao-maiores-responsaveis-por-desmatamento-diz-ibge.htm. Acesso em: 07 dez. 2022.