Sobrecarga Ambiental: entenda as consequências da Superexploração do meio ambiente

Vitória Gabriela
AltaXingu
Published in
8 min readMar 7, 2023
Fonte: canva.com

Já tentou imaginar como seria se a cobertura da Floresta Amazônica fosse reduzida a zero? O que aconteceria se um dia aqueles 2,5% de água doce no mundo acabassem? E se alguns animais, como os peixes típicos daqui da nossa região fossem extintos de seus habitats? Provavelmente você que está lendo este texto não vá presenciar essas grandes catástrofes ambientais, mas isso não significa que elas não possam acontecer, mesmo que em um futuro distante.

O uso dos recursos naturais como a água, cobertura vegetal, animais, minerais, solo, ar respirável, entre outros, são extremamente necessários para que a humanidade possa sobreviver e obter qualidade de vida. Infelizmente, com o passar dos anos a exploração destes recursos em prol do desenvolvimento econômico aumentou de forma descontrolada, prejudicando assim os processos naturais de regeneração do meio ambiente. O nosso atual modelo econômico está muito voltado para essa superexploração dos recursos naturais, de tal forma que já estamos enfrentando diversos problemas ambientais como o desperdício de água, o desmatamento, a perda da biodiversidade e a poluição atmosférica. De frente a este cenário, surgiu o conceito de “Desenvolvimento Sustentável”. Ele foi pensado para ser um modelo não só econômico, mas também social, político e ambiental. Dentro do contexto ambiental, esse modelo reduziria a superexploração dos recursos naturais, promovendo um desenvolvimento econômico mais sustentável. Isso poderia garantir a recarga dos recursos no meio ambiente, a redução dos problemas ambientais e assim, a qualidade de vida das gerações futuras.

O PROBLEMA DA SUPEREXPLORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS

Imagem: Cena do filme WALL-E de 2008, onde a Terra está repleta de lixo e inabitável devido as ações humanas.

O nosso planeta oferece de graça todos os recursos essenciais para a nossa sobrevivência. Esses recursos são categorizados em dois grupos: os recursos naturais renováveis e os não renováveis. Os renováveis basicamente possuem um potencial de regeneração muito rápido, como é o exemplo da luz solar. Já os recursos naturais não renováveis possuem um potencial de regeneração que demanda muito tempo, são limitados, como é o caso do carvão mineral, do petróleo, do gás natural, entre outros. Foi através da exploração destes e de inúmeros outros recursos naturais que a humanidade se desenvolveu ao decorrer da história, mas infelizmente o preço para tal desenvolvimento tem sido alto para o nosso planeta.

Fonte: canva.com

A humanidade sempre esteve em busca de trazer mais conforto e praticidades para as tarefas e necessidades humanas, e com o aumento populacional o consumo e o desenvolvimento econômico se tornaram predatórios, extraindo sem planejamento grandes quantidades de recursos naturais. Dessa forma, nós podemos entender de forma geral que a superexploração é um processo de consumo descontrolado dos recursos naturais. As consequências desencadeadas por este processo geram efeitos negativos ligados entre si, que prejudicam o meio ambiente, a própria economia, a saúde e qualidade de vida das pessoas. Os efeitos no meio ambiente podem ser facilmente vistos ao longo da história da humanidade, como é o exemplo das lamparinas que funcionavam à base de óleo animal, principalmente do óleo de baleia. Isso gerou a extinção de algumas espécies e colocou várias outras em risco de extinção pela caça desenfreada. Além da caça predatória, a perda de biodiversidade também está ligada a outro efeito da superexploração, que é a perda de habitat provocada pelo desmatamento. Outro exemplo de degradação do meio ambiente é a superexploração dos combustíveis fósseis. A partir da segunda Revolução Industrial (1860–1900) houve um aumento na extração de petróleo e minerais para a fabricação de metais , o que trouxe nossa dependência de petróleo para o nosso modo de vida atual e contribuiu para consequências como as mudanças climáticas. A queima de produtos químicos e carvão nas indústrias potencializou também a emissão de gases tóxicos para a atmosfera, deixando o ar cada vez mais poluído, além de contaminar os solos, rios e lagos. Mesmo com essas consequências e várias outras, a superexploração do meio ambiente ainda permanece, com os recursos naturais sendo utilizados como uma mera ferramenta para o desenvolvimento do atual modelo econômico.

O PONTO DE REFLEXÃO

Fonte: canva.com

A preocupação com a conservação do meio ambiente só começou a tomar forma quando os efeitos de várias décadas de exploração tornaram-se impossíveis de ignorar. Segundo a Global Footprint Network (GFN), nas últimas duas décadas temos superexplorado cada vez mais os recursos naturais disponíveis em um menor intervalo tempo. Para exemplificar este fato foi criado o dia da sobrecarga (overshoot day). Criada pela GFN, a data marca o dia em que a humanidade gastou mais recursos do que a natureza poderia regenerar para aquele ano. Por exemplo, considere o seu salário do mês, o qual deve ser suficiente para pagar suas despesas durante um mês, mas você resolveu gastar tudo na segunda semana. Para continuar bancando suas despesas, você acaba usando o crédito, que seria o dinheiro que você ainda vai ganhar no mês seguinte, quando terá ainda menos dinheiro para passar o mês. De forma similar, o overshoot day sinaliza o dia em que gastamos tudo que a Terra tinha capacidade de nos prover para aquele ano, e os meses que sobraram representam a taxa de superexploração que nós estamos consumindo no crédito. A cada ano, o dia da sobrecarga tem chegado mais cedo. Para se ter uma ideia, no ano 2000, o dia sobrecarga ocorreu em outubro, mas em 2021, o dia da sobrecarga ocorreu em julho, bem mais cedo do que o esperado (fonte: GFN e World Wide Fund for Nature Inc). Diante dessa situação, uma das soluções para acabar com a superexploração seria alterar o atual modelo econômico, dando início a um modelo de desenvolvimento que respeitasse o tempo de regeneração do meio ambiente e que promovesse uma consciência sustentável dos usos dos nossos recursos naturais.

COMO MUDAR ESSE CENÁRIO?

Após muitos anos de discussão e conferências sobre este e demais outros aspectos sociais e políticos, foi apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU) um modelo de Desenvolvimento Sustentável. Este modelo apresenta o objetivo de garantir o desenvolvimento da geração atual sem acabar com os recursos naturais das futuras gerações. Para que o modelo funcione, é necessário a cooperação entre as esferas governamentais, sociais e o setor privado. Em 2015 em uma conferência da ONU foi lançado um plano de metas chamado Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Através da agenda, os objetivos para alcançar este modelo foram estabelecidos, e cerca de 193 países incluindo o Brasil já assumiram esse compromisso. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) apresentam metas que vão além de solucionar os problemas ambientais, a agenda inclui também questões como a pobreza e a fome mundial.

Imagem: Todos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, documento disponível no site brasil.un.org.

A agenda 2030 prevê metas e objetivos específicos, que apontam o caminho para alcançarmos o desenvolvimento sustentável. Para as questões ambientais, a agenda prevê ações dos governos, das iniciativas privadas e da sociedade civil. As ações por parte dos governos devem ser concretas, com foco na regulação, fiscalização e criação de normas ambientais relacionadas à exploração dos recursos naturais e da emissão de poluentes como os gases. Sendo assim, a iniciativa privada teria o dever de seguir essas novas regulamentações e priorizar os valores do desenvolvimento sustentável. E a sociedade civil, por sua vez, mudaria seus hábitos de consumo e sua atual relação com o meio ambiente. Dessa forma, somente com a cooperação e ação de todos os setores poderemos alcançar o modelo de desenvolvimento sustentável. Infelizmente, o Brasil ainda está longe de alcançar todas as metas e objetivos de desenvolvimento sustentável para 2030. Enquanto isso, os recursos naturais continuam se esgotando dia após dia numa velocidade cada vez maior. Por isso as ações estabelecidas pelos setores são tão urgentes e essenciais para que consigamos manter um planeta saudável e com recursos naturais suficientes para as próximas gerações.

REFERÊNCIAS:

AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS (ANA). Ações e Programas: Água no mundo. Governo Federal Brasileiro. Disponível em: https://www.gov.br/ana/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/cooperacao-internacional/agua-no-mundo . Acesso em 06 de março de 2023.

PENA, Rodolfo F. Alves. Recursos naturais. Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/recursos-naturais.htm. Acesso em 06 de março de 2023.

FUNDAJ. Quais são as consequências da supereploração dos recursos naturais?. Governo Federal Brasileiro, 2021. Disponível em:https://www.gov.br/fundaj/pt-br/destaques/observa-fundaj-itens/observa-fundaj/revitalizacao-de-bacias/copy_of_quais-sao-as-consequencias-da-superexploracao-dos-recursos-naturais#:~:text=Os%20seres%20humanos%20est%C3%A3o%20esgotando%20esses%20recursos%20naturais%20do%20planeta,est%C3%A1%20criando%20um%20enorme%20d%C3%A9ficit. Acesso em 01 de março de 2023.

DIA DA SOBRECARGA DA TERRA: este ano a data chegou mais cedo. World Wild Fund (WWF) Brasil. Disponível em: https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/pegada_ecologica/overshootday2/. Acesso em 23 de fevereiro de 2023.

CANDELORO, Cristine. Revoluções Tecnológicas e a Quarta Revolução Industrial. Sankhya, 2018. Disponível em:

https://www.sankhya.com.br/blog/inovacao-tecnologica-e-a-quarta-revolucao-industrial/. Acesso em 23 de fevereiro de 2023

A DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. Brasil Escola — Monografias. Disponível em: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/biologia/a-degradacao-meio-ambiente.htm#:~:text=2%2D%20A%20revolu%C3%A7%C3%A3o%20industrial%20e,um%20problema%20para%20a%20humanidade. Acesso em 23 de fevereiro de 2023

VOCÊ SABE O QUE É A AGENDA 2030? E O QUE TEMOS A VER COM ISSO?. TRT da 4º Região (RS), 2021. Disponível em: https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/modulos/noticias/447538#:~:text=A%20Agenda%202030%20%C3%A9%20um,maiores%20desafios%20do%20mundo%20contempor%C3%A2neo. Acesso em 26 de fevereiro de 2023.

BAPTISTA, Vinícius Ferreira. A relação entre o consumo e a escassez dos recursos naturais: uma abordagem histórica. Saúde & Ambiente em Revista, v. 5, n. 1, p. 8–14, 2010. Disponível em: http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/sare/article/view/921. Acesso em 28 de fevereiro de 2023.

UM FUTURO ONDE PESSOAS E NATUREZA PROSPERAM É POSSÍVEL? Estudo mostra que juntos podemos traçar um novo caminho até 2050. The Nature Conservancy (TNC), 2019. Disponível em: https://www.tnc.org.br/conecte-se/comunicacao/artigos-e-estudos/um-futuro-onde-pessoas-e-natureza-prosperam-e-possivel-/?gclid=CjwKCAiA0cyfBhBREiwAAtStHLmrR86-d9yr8SoLBWjQpSyeDUKb_4X42IuqaCY4e6IaRUlk_uuCSBoCi3AQAvD_BwE. Acesso em 26 de fevereiro de 2023.

THOMAS, Jennifer Ann. Desenvolvimento sustentável: o que é, quando surgiu o termo e quais seus objetivos. Um só planeta, 2021. Disponível em: https://umsoplaneta.globo.com/financas/negocios/noticia/2021/07/21/desenvolvimento-sustentavel-o-que-e-quando-surgiu-o-termo-e-quais-seus-objetivos.ghtml. Acesso em 28 de fevereiro de 2023.

TÁVORA, Allison. Desenvolvimento Sustentável — O que é e como alcançá-lo? Meio Info, 2014. Disponível em: https://meioinfo.eco.br/desenvolvimento-sustentavel-o-que-e/. Acesso em 28 de fevereiro de 2023.

BRANDT, Cristina Thedim; SILVA, Carlos Henrique Rubens Tomé. SUSTENTABILIDADE, RENTABILIDADE E ATUAÇÃO GOVERNAMENTAL PARA UMA ECONOMIA VERDE. Senado Federal, 26 p, ISSN 1983–0645, 2012. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td-113-sustentabilidade-rentabilidade-e-atuacao-governamental-para-uma-economia-verde. Acesso em 03 de março de 2023.

BATISTA, Carolina. Principais Problemas Ambientais. Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/principais-problemas-ambientais/. Acesso em 06 de março de 2023.

GUITARRARA, Paloma. “Desenvolvimento sustentável”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/desenvolvimento-sustentavel.htm. Acesso em 06 de março de 2023.

BARBIERI, José Carlos; SILVA, Dirceu da. Desenvolvimento sustentável e educação ambiental: uma trajetória comum com muitos desafios. RAM. Revista de Administração Mackenzie, v. 12, p. 51–82, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ram/a/DSKVmHs8qLRFRrGcGqTKh7H/abstract/?lang=pt. Acesso em 06 de março de 2023.

OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL. Nações Unidas-Brasil. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em 06 de março de 2023.

OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS). Pacto Global. Disponível em:https://www.pactoglobal.org.br/ods. Acesso em 06 de março de 2023.

--

--

Vitória Gabriela
AltaXingu

Estudante de Ciências Biológicas, entusiasta da escrita entre outras formas de expressão artística.