Precisamos falar sobre Índia e China
A nova Guerra Fria está esquentando
Ao menos vinte soldados morreram ontem num conflito na fronteira entre dois dos maiores países do mundo, Índia e China; foram usados bastões enrolados em arame farpado e pedras - pois um acordo obriga os dois países a manterem armas de fogo longe da fronteira.
Essas nações respondem por um terço da população mundial. Ambas têm se destacado por acelerado desenvolvimento econômico nas últimas décadas, são potências nucleares, herdeiros de civilizações antigas, vítimas históricas do colonialismo, com uma cultura nacionalista que os torna desconfiados de minorias e estrangeiros. E ambos foram palco de conflitos violentos no século passado.
Não há nenhuma menção ao conflito nas capas dos principais jornais do Brasil. Claro, há menções sobre como a CAOA está abrindo o mercado nacional a carros chineses… Mas nosso noticiário é totalmente dominado pelas intrigas políticas nacionais, e pelas consequências sociais e econômicas da pandemia. Estas notícias são importantes, mas nada disso vai ser lembrado, no ano que vem, se houver um conflito entre China e Índia. De acordo com as estimativas de Luísa Rodriguez, da Rethink Priorities, se tal conflito envolvesse armas nucleares (o que não seria impossível), resultaria em dezenas de milhões de mortos; mas ela não estima as consequências socioeconômicas de longo prazo, que seriam globalmente catastróficas.
Modi, o carismático primeiro-ministro da Índia, prometeu que os soldados mortos não morreram em vão, nem serão esquecidos. A maior potência mundial, os EUA, tem lhe demonstrado amplo apoio, além de travar uma guerra comercial e de relações internacionais contra a China — a qual o Presidente Donald Trump tem acusado de ser responsável pela pandemia de Covid-19.
Einstein vaticinou que a quarta guerra mundial seria travada com bastões e pedras; se considerarmos guerras frias como guerras mundiais, podemos dizer que ele tinha razão. A nova Guerra Fria esquentou.