A restauração do orgulho Azulino

Smack Neto
AmplitudeFc
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4 min readSep 5, 2018

Quase um tri-rebaixamento em 2011. Em 2015, o CSA encerrou as suas atividades no mês de maio. Hoje, está muito forte na briga pelo acesso para a Série A

Thiago Parmalat/RCortez/Ascom CSA

O amor pode mover montanhas? Não sei. Mas com certeza, o amor pode sustentar um clube de futebol na sua pior crise. Mais que isso: pode devolver este clube ao lugar onde merece. Como profetizou Djavan, o amor é azulzinho. Qualquer torcedor do CSA, incluindo o cantor, pode confirmar isso ao leitor mais curioso. Mas como toda a história de amor, o final feliz teve seus percalços, com direito a momentos em que tudo parecia perdido.

Para entendermos a briga atual pelo acesso a divisão de elite do futebol brasileiro, precisamos retornar a 2011. Última rodada da fase de classificação do estadual em Alagoas. O clássico entre CSA e CRB poderia rebaixar o Azulão pela terceira vez em oito anos. Sim, o maior campeão alagoano estava a um empate de atuar na segunda divisão estadual pela terceira vez desde a primeira queda em 2003. Seria o terceiro rebaixamento concretizado justamente pelo maior rival. Desconheço dor maior que essa para uma torcida que estava acostumada a brigar pelo domínio do futebol local. Um gol de Washington, aos 49 do segundo tempo, salvou o CSA deste vexame. Parecia o exorcismo do fantasma da pequenez, mas o sofrimento da torcida seguia.

Em termos nacionais, 2012 e 2013 foram anos de campanhas regulares na Série D, mas que foram encerradas precocemente. Para piorar, 2014 e 2015 o time não chegou a sequer disputar a competição, ou seja, atividades encerradas no primeiro semestre. Mesmo em baixa, a torcida sempre apoiou o clube. Seja em amistosos na sede do Mutange com jogadores da base, ou mesmo durante os anos de seca de título estadual, que não vinha desde 2008, o azulino apaixonado sempre envergou o azul e branco e acreditou na virada. O que explica isso senão o amor pelo azul e branco?

Em 2015, o CSA ficou sem calendário após eliminação precoce no estadual (Aílton Cruz / Gazeta de Alagoas)

Chegou 2016 e, com ele, o início da virada. Com uma nova gestão comandando o clube, que estava atolado em dívidas trabalhistas, com a base desestruturada e com um rival estabelecido na Série B, a meta do ano era clara: conquistar a vaga para a Série D e o acesso para a Série C. Um time totalmente reformulado, treinado por Oliveira Canindé, um velho conhecido. Futebol vistoso, de imposição sobre os adversários e que acabou rendendo o vice-campeonato estadual, além do acesso para a Série C com o vice-campeonato da quarta divisão. Metas cumpridas, mas faltaram as taças.

O torcedor, que já sentia a brisa da mudança batendo sobre as árvores dos mangues que cercam o CT do Mutange, queria mais. Faltava reviver as glórias de conquistas que o único nordestino finalista de competição sul-americana (CONMEBOL 1999) já tinha dado diversas vezes aos apaixonados torcedores.

O trabalho teve sequência e, em 2017, foi coroado com o título da Série C, primeira conquista nacional de um clube alagoano na história. Segundo acesso nacional consecutivo e, finalmente, uma equiparação de forças com o lado alvirrubro do estado. Poucas vezes houve uma festa tão gigantesca em Maceió. A massa azul e branca voltava a sorrir e celebrar.

Dois anos depois, o CSA conquistou o título brasileiro da Série C (Aílton Cruz / Gazeta de Alagoas)

Hora da retomada estadual, que veio com o 38º título alagoano conquistado em cima do CRB, após uma campanha de altos e baixos no estadual. O fator decisivo para a conquista foi a chegada do técnico Marcelo Cabo, que chegou na reta final do estadual e aos poucos foi encontrando o time ideal.

O clube entrou na Série B com a meta de atingir o mais rápido possível os 45 pontos e não ter sustos. Está fazendo muito mais. Na 25ª rodada, o clube já possui 43 dos 45 pontos estipulados no início da competição. Vice-liderança e briga direta pelo acesso para a Série A, num clube que até 2014 estava pagando R$ 20,00 de bicho para jogador que marcasse gol em amistoso. Tem de haver muito amor para superar todo o período de sofrimento e continuar seguindo em frente, em massa, apoiando. E a direção tem méritos em entender a importância do torcedor e, principalmente, valorizar a grandeza do clube.

Nos momentos bons ou ruins, a arquibancada do Rei Pelé sempre foi lugar do amor azul e branco ( Gustavo Henrique/RCortez/Ascom CSA)

No final de 2017, o CSA iniciou o processo de investimento em sua marca própria. Hoje, além dos uniformes, são cerca de 300 itens licenciados na marca “Azulão”, que tem sua loja própria num bairro nobre de Maceió. Desde chaveiros até itens de luxo, a loja quer atender o torcedor de todas classes, fazendo com que o orgulho e o amor pelo time de coração sejam revertidos em receita para o clube. Ainda há muito o que ser feito, as questões políticas no clube seguem sendo complexas e não podem (nem devem) ser esquecidas.

Só que acima dos problemas, das dificuldades e das desilusões, sempre haverá o amor do torcedor. E enquanto o amor for azulzinho, como nos lembra o verso da canção, o CSA seguirá forte levando o clube além dos limites que a racionalidade pode nos impor.

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